Economia

Política econômica de Dilma assombra governo Lula 3; entenda

14 dez 2022, 14:21 - atualizado em 14 dez 2022, 14:21
Lula Aloizio Mercadante
Mercado teme que o terceiro governo de Lula repita erros econômicos cometidos na gestão de sua sucessora, Dilma Rousseff (Imagem: Ricardo Stuckert/Divulgação PT)

Dilma Rousseff, Luiz Inácio Lula da Silva e Aloizio Mercadante são companheiros de Partido dos Trabalhadores (PT) há pelo menos duas décadas. Os dois últimos são amigos de longa data. Lula e Dilma foram presidentes da República. Mercadante não, mas foi figurinha carimbada nas disputas eleitorais dos dois e fez parte do governo de Rousseff.

É justamente esse elo que incomoda o mercado financeiro. Aloizio Mercadante foi quatro vezes ministro de Dilma, em três pastas, sendo a principal, a da Casa Civil.

Agora, ele volta à Brasília como presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Especulado desde o fim de semana para o cargo, o nome de Mercadante irritou o mercado.

Lula ressuscita Mercadante e mercado se irrita

Na segunda-feira, ao passo que o nome do petista ganhava força para assumir o banco de fomento ou até mesmo a presidência da Petrobras (PETR4), como foi ventilado, o dólar disparou mais de 2%, o Ibovespa derreteu na mesma magnitude e as ações da estatal afundaram quase 6%.

Por que investidores são tão sensíveis ao nome de Mercadante? A resposta é simples: as lembranças da política econômica adotadas no governo Dilma, entre 2011 e 2016, ainda assombram.

Medo de políticas do governo Dilma

A equipe econômica da Guide Investimentos comenta que, com a nomeação do ex-ministro para o comando do BNDES, o futuro governo começa a se parecer cada vez mais com o mandato de Dilma; À época, o banco de fomento foi “utilizado de maneira indevida para fazer um mecanismo de política fiscal”.

“Pelo seu viés mais desenvolvimentista, Mercadante poderá defender algo do tipo novamente”, diz a Guide.

O gerente da mesa de câmbio da StoneX, Marcio Riauba, avalia que o receio do mercado financeiro com Mercadante é com a possível retomada da política de crédito subsidiado e incentivo aos investimentos a grandes empresas de “determinados segmentos”. Para ele, a escalação do ex-ministro também sinaliza que o governo Lula, com apoio do BNDES, pode adotar uma política econômica desenvolvimentista com possível extensão do gasto público.

Já o economista-chefe da Ativa Investimentos, Étore Sanchez, pondera que, retomar a utilização do BNDES aos moldes do que se fazia no governo Dilma, também reduziria a eficácia da política monetária e elevaria o juro neutro da economia. “Além de expulsar a iniciativa privada do setor e diminuir a eficiência de alocação de recursos”, acrescenta.

‘Mercado precisa de um calmante’

Para a economista-chefe da Veedha Investimentos, Camila Abdelmalack, o receio do mercado é com sinais dados por Lula de um retorno da matriz econômica adotada em seus governos anteriores, mas que ficou evidente no governo de Dilma.

“Uma maior intervenção do Estado via o aumento de gastos públicos, que é a leitura que a gente tem com a PEC da Transição, deverá resultar em pressão inflacionária”, diz, lembrando que, no governo da petista, a atitude para tomada para evitar inflação foi controle de preços de combustíveis e da energia elétrica.

“O que culminou em uma situação desastrosa e em recessão econômica, entre 2015 e 2016. O mercado está bem cauteloso com essa política econômica e quem estará no comando desses principais cargos”, reforça.

Já o economista André Perfeito observa que a nomeação de Mercante para o BNDES é desafiadora e é preciso saber qual será a política da instituição nos próximos anos.

“O mercado de títulos privados é muitas vezes maior do que foi no período dos governos do PT. Se o BNDES entrar no mercado de maneira agressiva, poderá desorganizar uma indústria inteira que foi construída nos últimos anos. Caberia ao Mercadante vir à público o quanto antes para sinalizar o que se pretende para não criar descoordenações maiores que necessárias no mercado de títulos privados”, destaca.

Diante de tanto receio, preocupação e irritação de investidores, o ex-diretor do Banco Central (BC), Tony Volpon, em entrevista ao jornal O Globo, deixou um conselho. “O mercado tem que tomar um calmante e aceitar que é um governo de esquerda e vai ter mais gasto e investimento público”, disse.

Repórter
Jornalista mineira com experiência em TV, rádio, agência de notícias e sites na cobertura de mercado financeiro, empresas, agronegócio e entretenimento. Antes do Money Times, passou pelo Valor Econômico, Agência CMA, Canal Rural, RIT TV e outros.
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