Economia

No mundo do juro zero, Brasil se prepara para alta da Selic

01 fev 2021, 14:33 - atualizado em 01 fev 2021, 14:33
Dinheiro Real
O real, com queda de 23%, e a lira turca, com queda de 19%, foram duas das moedas de pior desempenho no ano passado (Imagem: Pixabay)

Falar em subir os juros é heresia entre economistas internacionais hoje em dia. Com o coronavírus ainda se propagando e as economias sofrendo, os juros precisam ser mantidos nos menores níveis históricos por muito tempo, segundo o pensamento que é consensual ao redor do planeta.

A não ser no Brasil. Os operadores do mercado de juros futuros estão apostando na elevação da taxa básica Selic dos atuais 2% já no mês que vem.

Enquanto os integrantes do Comitê de Política Monetária (Copom) debatem em que momento começar o aperto, o mercado decidiu que, no mínimo, haverá um acréscimo de 0,25 ponto percentual em março e talvez até de 0,5 ponto.

Qualquer aumento colocaria o Brasil em posição rara nos dias de hoje. Entre as principais economias do mundo, apenas a Turquia subiu a taxa básica de juros desde o começo da pandemia.

Assim como a Turquia, o Brasil enfrenta preocupações que não chegam à maioria dos países: a possibilidade de a inflação avançar em meio a uma depreciação cambial que elevou o custo dos bens importados.

O real, com queda de 23%, e a lira turca, com queda de 19%, foram duas das moedas de pior desempenho no ano passado.

No Brasil, o enorme estímulo fiscal foi responsável por grande parte da pressão sobre a moeda. O presidente Jair Bolsonaro lançou um pacote de estímulo de R$ 320 bilhões em 2020 que ampliou o déficit público para 13,7% do PIB e sofre pressão política para transferir mais recursos para os brasileiros em dificuldades.

O aumento nos gastos não traz tanta preocupação em outros países latino-americanos com fundamentos econômicos melhores, como Peru e Chile, mas deixa os investidores nervosos quando se trata do Brasil.

“Nosso balanço de riscos fiscal é pior que nossos pares”, disse Gustavo Pessoa, sócio do fundo de hedge Legacy Capital, de São Paulo, que prevê acréscimo de 0,5 ponto na taxa básica em março. “Isso tem pesado contra nossa moeda e contribuído muito para a alta da inflação.”

O presidente Jair Bolsonaro lançou um pacote de estímulo de R$ 320 bilhões em 2020 que ampliou o déficit público para 13,7% do PIB (Imagem: REUTERS/Ueslei Marcelino)

Até pouco tempo atrás, investidores e economistas tinham ampla expectativa de manutenção dos juros até o final de 2021, com a recuperação do crescimento econômico.

Mas a inflação acima do previsto e a deterioração da perspectiva fiscal levaram o Banco Central a abandonar sua prescrição futura, o chamado forward guidance, sinalizando alta na taxa apesar dos obstáculos à retomada da atividade.

Os gastos emergenciais colaboraram para que a economia brasileira encolhesse menos do que na maioria dos países da região em 2020 e incentivou o consumo nos supermercados. Junto com o aumento dos preços globais das commodities, isso fez com que os preços de alimentos e bebidas saltassem 14% em 12 meses.

Economistas estão elevando as projeções para a inflação após os preços ao consumidor registrarem em dezembro a maior alta desde 2003. A previsão mediana para a inflação este ano subiu de 3,3% em dezembro para 3,5%, enquanto a meta é 3,75%.

Brendan McKenna, estrategista do Wells Fargo em Nova York, revisou sua previsão para os juros na semana passada e agora espera um acréscimo de 0,25 ponto em março. Antes, ele projetava alta apenas no segundo semestre.

“Considerando a movimentação dos números de inflação e a prescrição do Banco Central, adiantamos isso”, explicou ele. “Projetamos inflação média este ano em torno de 4%.”

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