3I/Atlas: sinais, nave ou só um cometa? O que a ciência confirma
Sinal enigmático, nave camuflada, ameaça iminente. O terceiro visitante interestelar já registrado pela astronomia mal entrou no Sistema Solar e já ganhou um enredo digno de ficção científica. Nos fóruns e plataformas digitais, o cometa 3I/Atlas virou o mais novo antagonista cósmico: há quem fale em “engenharia extraterrestre”, “sonda de reconhecimento” e até transmissões criptografadas vindas do espaço profundo.
A realidade, porém, está longe disso.
O que os astrônomos observam até agora é um comportamento padrão de cometas: coma, cauda, liberação de água ao se aproximar do Sol e variações de brilho totalmente compatíveis com o que a física descreve.
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Ainda assim, entre um dado técnico e outro, sobrou espaço para que o imaginário popular transformasse o 3I/Atlas em símbolo da era da desinformação científica.
O que é o 3I/Atlas
Detectado em julho de 2025, o 3I/Atlas é o terceiro objeto interestelar já identificado cruzando o Sistema Solar desde que a astronomia moderna existe. Antes dele, apenas ‘Oumuamua e 2I/Borisov haviam passado pelas nossas redondezas galácticas.

A órbita hiperbólica do objeto confirma: ele não se formou aqui. Trata-se de um visitante de outro sistema estelar, que deve atravessar o nosso apenas uma vez antes de seguir viagem.
Desde as primeiras observações, telescópios registraram:
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coma e cauda compatíveis com atividade cometária;
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liberação de água e gases à medida que o objeto se aproxima do Sol;
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um comportamento fotométrico considerado normal para cometas interestelares.
É justamente essa condição de “forasteiro cósmico” que alimenta o fascínio — e a especulação.
Como um cometa virou suspeito de espionagem alienígena
1. O artigo que inflamou a discussão
A faísca inicial veio de um artigo assinado pelo astrofísico Avi Loeb, conhecido por teorias que desafiam o consenso científico. O material sugere, de maneira hipotética, que o 3I/Atlas poderia ser uma tecnologia extraterrestre “possivelmente hostil”.
A base da argumentação inclui velocidade elevada, trajetória inclinada e aproximações de certos planetas, tratadas como “pontos de inspeção”.
Na comunidade científica, o texto foi interpretado como especulação teórica, não evidência. Para a internet, bastou a palavra “hostil”.
2. O suposto “sinal de Fibonacci”
Logo depois, viralizou a alegação de que radiotelescópios teriam detectado um sinal em 1420 MHz, com pulsos identificados como sequência 8-13-8-5-13-8 — rapidamente rotulado como mensagem alienígena.
Nenhum observatório sério confirmou o registro. Não existe publicação revisada, nem dados completos. Por ora, é apenas rumor amplificado online.
3. A teoria da “manobra atrás do Sol”
Outra narrativa sugere que o cometa faria uma “manobra estratégica” atrás do Sol antes de supostamente se dirigir à Terra — uma velha conhecida de fóruns conspiracionistas.
As previsões de trajetória oficiais mostram o contrário: o 3I/Atlas não representa ameaça e manterá distância segura da Terra.
O que a ciência já confirmou
Dados recentes ajudaram a dissipar parte da névoa conspiratória.
O radiotelescópio MeerKAT, na África do Sul, registrou o primeiro sinal de rádio confirmado proveniente do 3I/Atlas: linhas de absorção de radicais hidroxila (OH), produzidas quando moléculas de água liberadas pelo cometa se quebram. Trata-se de um padrão idêntico ao de inúmeros cometas do Sistema Solar.
Traduzindo: é assinatura de cometa, não de nave.

Observações ópticas reforçam o quadro:
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cauda longa e coma ativa, típicas de cometas aquecidos pelo Sol;
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variação de CO₂ e poeira dentro do esperado para objetos formados em outros sistemas;
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ausência de qualquer evidência de propulsão, manobras inteligentes ou emissões artificiais.
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A própria Nasa classificou as hipóteses alienígenas como inconsistentes com os dados.
Mistério encerrado? Para a ciência, sim. Para a internet, ainda não.
Por que o 3I/Atlas virou combustível para teorias conspiratórias
A explicação é simples: o cometa reúne todos os elementos que alimentam narrativas exageradas.
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É interestelar, portanto raro e misterioso.
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Foi citado em um artigo que menciona “tecnologia hostil”.
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Surge em um momento de hype envolvendo ETs, UAPs e “sinais cósmicos”.
O resultado é um objeto científico fascinante sendo reescrito como protagonista de um thriller espacial.
No fim das contas, o 3I/Atlas é sim um visitante ilustre — um fragmento de outro sistema estelar passando diante de nós. Do ponto de vista científico, isso já é extraordinário.
Mas até agora, nada sugere origem artificial, intenção hostil ou comunicação inteligente.
Até prova em contrário, o 3I/Atlas continua sendo o que a ciência descreve: um cometa — e não um invasor interestelar.