8 séculos de tradição no vinho: a produção de Chianti Classico da família Mazzei

No coração da Toscana, na Itália, está localizada a vinícola Castello di Fonterutoli, em Castellina in Chianti, sendo essa a sede histórica da família Mazzei desde 1435, quase 600 anos de tradição no chamado Chianti Classico.
Há cerca de 20 anos, houve uma mudança fundamental no processo de vinificação na fazenda, com a redução de uvas por plantas, saindo de 5 quilos para 1 quilo, uma prática que elevou consideravelmente a qualidade dos vinhos, concentrando mais sabor, estrutura e equilíbrio por videira.
Antes, a vinificação era feita sem atenção aos aromas, uma mistura e prensa que focava em extrair o máximo de suco.
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Com o tempo, foi identificado que para a uva Sangiovese a parte mais importante e delicada era a casca, garantindo um vinho mais refinado.
A Sangiovese é a uva principal, base do Chianti Clássico, mas a vinícola também cultiva Cabernet e Merlot, usados em cortes específicos.
Por dentro da adega e negócio da família Mazzei
O segundo passo no processo de vinificação foi adotar um novo processo, com a construção de uma nova adega localizada a 15 metros abaixo de uma colina. Durante a construção, foram encontradas 5 nascentes de água, que inicialmente foram vistas como problema, mas passaram a ser aproveitadas para manter naturalmente a umidade do espaço e contribuir para a estabilidade da maturação do vinho.
O local subterrâneo, moldado pela ação da água ao longo do tempo, lembra uma caverna.
“Com a construção da nova adega, há 20 anos, projetada em 3 níveis subterrâneos, o objetivo passou a ser simplificar o processo e aproveitar a gravidade como elemento natural de produção, ao invés de utilizar métodos mecânicos, o que nos permitiu mais delicadeza no manuseio das uvas e preservação das uvas”, disse Jury Maccianti, embaixador da marca Castello di Fonterutoli, ao Money Times.

Maccianti conta que durante séculos, a atividade era vista apenas como hobby pela família Mazzei, e somente nos últimos 70 anos foi decidido transformar o hobby em um negócio estruturado, que coincidiu com uma mudança dos hábitos de consumo na Itália.
“Até os anos 1970 e 1980, o vinho era produzido em grande volume para consumo cotidiano, sem foco na qualidade. A partir dessa época, a sociedade passou a beber menos, mas buscando vinhos melhores. Essa mudança impulsionou a revalorização do Chianti Clássico como região de prestígio e qualidade”, conta.
A produção de vinho e os efeitos climáticos
Por ano, a vinícola produz 700 mil garrafas de vinho, cultivadas em 110 hectares distribuídos num raio de 20 quilômetros. No passado, a produção era de 70 mil garrafas.
Apesar do crescimento, o grupo mantém a filosofia artesanal, fermentando cada lote separadamente por hectare, o que permite respeitar as diferenças de terroir e manter a identidade própria de cada vinho.
Como cada fermentação é conduzida separadamente para possibilitar diferentes combinações, especialmente em safras excepcionais, podem ser criados 5 vinhos distintos a partir de um mesmo vinhedo.
O vinho mais produzido é o Chianti Clássico Fonterutoli, com 300 mil garrafas, enquanto a Riserva chega a 200 mil garrafas ao ano.
A vinícola não utiliza defensivos agrícolas e nem mesmo fertilizantes, utilizando de práticas mais sustentáveis. “Se a qualidade da uva é boa, cerca de 70% do trabalho já está feito, reduzindo a necessidade de aditivos como sulfato”
Há 3 anos, em 2022, o clima seco fez com que 30% da produção agrícola fosse perdida, já que a irrigação é proibida para este tipo de vinho. “O clima passou a ficar muito mais quente aqui nos últimos 4 anos, e esse calor excessivo afeta o equilíbrio alcoólico dos vinhos”.
A cada 40 anos é preciso replantar as vinhas, e após o replantio, leva-se cerca de sete anos até que a planta produza uvas adequadas. O ciclo anual inclui o repouso das videiras no inverno, floração em março, crescimento entre junho e agosto, maturação em agosto e colheita em setembro-outubro.
As diferenças entre Chianti e Chianti Classico
O termo Chianti Classico se refere a área histórica e mais restrita entre Florença e Siena, enquanto o Chianti se refere uma área mais ampla da Toscana, com diferentes regras de produção.
Até 1994, era proibido adicionar Merlot ou Cabernet ao Sangiovese nos Chianti Classico. Mesmo pequenas porcentagens desclassificavam o vinho da denominação DOCG (Denominação de Origem Controlada e Garantida), o que levou à criação dos chamados Super Toscanos, vinhos de alta qualidade feitos fora das regras tradicionais, como é o caso do Le Pergole Torte, feito 100% de Sangiovese.
Somente em 1994 as regras mudaram, permitindo flexibilidade entre 80% e 100% de Sangiovese, com até 20% de outras uvas, como Merlot, Cabernet, Malvasia Nera e Colorino — mas sem a inclusão de uvas brancas.
As regras reformuladas em 1994 permitiram novas combinações, incluindo variedades internacionais, mas sempre respeitando a predominância do Sangiovese. Foi destacado que em Chianti Classico a exigência mínima é de 80% de Sangiovese, enquanto em Chianti a porcentagem pode ser menor, variando entre 70% e 75%.
“Em termos do Chianti Classico, as únicas regras que temos que respeitar se referem a idade. 1 ano para o Chianti Classico, 2 anos para Riserva e 3 anos para Gran Seleccione, a parte mais alta do Chianti Classico e que se assemelha ao Cru da França. Não há obrigações para o tipo de madeira dos barris, mas preferimos barris médios ou grandes para o Sangiovese, por valorizarem o caráter singular do Chianti Classico”.



