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AgroTimes

A boia de salvação de Lula 3: O ‘tarifaço’ de Trump e o agronegócio brasileiro

16 jul 2025, 17:29 - atualizado em 16 jul 2025, 17:29
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(Imagens: REUTERS/Brian Snyder e Agência Brasil/Rafa Neddermeyer)

Sir Winston Churchill, ex-primeiro-ministro inglês, figura histórica e contraponto a Hitler no lado aliado no período da Segunda Guerra Mundial, cunhou uma frase histórica para se referir aos pilotos de caça ingleses que lutaram arduamente para defender a Inglaterra contra a superioridade aérea do Reich Alemão na famosa Batalha Aérea da Grã-Bretanha, de 1940:

“Nunca tantos deveram tanto a tão poucos”.

Podemos dizer que a célebre frase poderia ser aplicada ao efeito político gerado para o atual – e antes, moribundo – Governo Lula 3 pelo tarifaço ameaçado por Donald Trump na semana passada para as exportações do Brasil para os EUA, que afetam o agronegócio brasileiro.

Nunca antes na história desse país se produziu tão grande dívida de gratidão

Utilizando-nos de um jargão comum e caro ao governo atual, podemos dizer que a forma como ocorreu a reviravolta no cenário político, a partir do anúncio do tarifaço de 50% que, segundo o mandatário ianque, vai vigorar a partir de 1º de agosto próximo, em um momento em que o Governo do Brasil estava nas cordas por conta da celeuma fiscal, foi, no mínimo, inédita, mesmo em se tratando de um governante que sabidamente é useiro e vezeiro em contar com a sorte.

O governo Lula 3 andava deslegitimado, sem interlocução com a sociedade e o Congresso Nacional e, ainda, com baixíssimos índices de aprovação por conta da já conhecida inapetência de gestão pública do partido oficial.

Por outro lado, como dá conta a imprensa, o salto nas pesquisas de opinião para medir o efeito político da canetada de Trump não nos deixa alternativa senão a de sacar a comparação com os poucos que salvaram os aliados da derrocada na guerra contra a Alemanha, no caso em questão, a dívida seria com uma pessoa apenas, o ressuscitador do Governo Lula 3, Donald Trump.

Vejamos com mais atenção abaixo.

Pancada forte nas cadeias de produção globais, maior ainda na cadeia do agronegócio

Claro, que tal atitude no mínimo, digamos, “excêntrica” do mandatário norte-americano– com a ameaça de imposição de tarifa de 50% sobre as exportações de produtos brasileiros para os EUA – não surpreendeu este colunista que há muito vem se posicionando no sentido do aumento de volatilidade nos mercados internacionais, causada pela retórica trumpista e que tal poderia resvalar no agronegócio brasileiro, apesar dos fundamentos estruturais positivos do setor.

O efeito imediato, além de assustar muitos dos setores do agronegócio, como o de frutas para exportação, suco de laranja, cafeicultura, proteínas animais etc. foi o de unir Congresso, sociedade civil e o Governo Federal na busca de uma solução, de preferência diplomática, para um “combate” a um inimigo comum que, segundo a narrativa oficial, visava usurpar a Independência.

Nessa seara, até mesmo a negociação para se ressuscitar o pacote fiscal do Haddad, ganhou novos contornos com empenho dos principais líderes do centrão na empreitada.

Quanto ao Plano Safra e demais consectários que colocavam o atual governo em rota de colisão com o setor do agronegócio, desnecessário falar que o “canetaço” de Trump acabou por produzir um efeito de legitimar o vice-presidente, Geraldo Alckmin, para interlocução com o setor produtivo, no âmbito do decreto baixado para dar azo às contramedidas a serem orquestradas em face do tarifaço em questão.

Enfim, nos parece que a “cartada” do Governo Trump na tentativa de socorrer um “amigo” e criar contraponto na seara internacional à reunião dos Brics, havida no Rio de Janeiro nos idos da semana passada, pode ter saído pela culatra.

Como resolver a questão do tarifaço?

Por outro lado, ficou a questão da majoração da tarifa de 50% para os produtos brasileiros exportados aos EUA a partir de 1º de agosto para ser solucionada.

Não nos parece uma questão se resolução simples, mas, no mínimo, diante da volatilidade criada no preço dos principais produtos e insumos agropecuários e dos preços bursáteis, à semelhança das canetadas anteriores do governo norte-americano, deve amainar para diante com acenos para uma negociação, tal qual se sucedeu com o tarifaço sobre os produtos chineses, canadenses, mexicanos etc.

Em relação ao agronegócio brasileiro, também não parece uma questão de fácil resolução estrutural deixar de exportar safras já colhidas e/ou a colher em breve e direcionadas para venda aos EUA em cumprimento de contratos, financiamentos etc. o que poderia ensejar problemas jurídicos, maior escassez de crédito – com aumento de defaults etc. – e até problemas de ordem logística pelo volume de exportações.

O fato é que há a ameaça e há o “canetaço”, mas por outro lado, existem os fatores estruturais positivos e a demanda firme dos EUA pelos produtos, sem condições de substituição das exportações no curto prazo. Quem vai pagar a conta das taxas?

Quem paga a conta?

Quando tratamos de cadeias de produção e fornecimento complexas, com preços de mercado internacional de commodities, formados de trás para a frente, como os preços dos produtos agropecuários atingidos pelo tarifaço, o espaço para repasses de taxas é reduzido ou nenhum. Certamente quem pagará a conta é quem produz e quem consome ou industrializa os produtos.

Nesse caso, como tudo é muito volátil (e vai e volta uma infinidade de vezes, como temos apontado), apostaria que o recém-ressuscitado governo Lula 3, tentará empreender junto ao governo norte-americano algum nível de negociação para suspensão das tarifas de Trump, mas se falhar, já terá ao alcance da mão a desculpa da vez que ficará na ponta da língua daqueles que, como sempre, se locupletam em cima de quem produz e fazem mais barulho do que propiciam soluções plausíveis para os “bodes” colocados nas respectivas salas dos cidadãos viventes desse mundão “véio” sem porteira.

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André Ricardo Passos de Souza, é sócio-fundador do PSAA - Passos e Sticca Advogados Associados -, com MBA em Finanças e Mercado de Capitais pela MP Consultoria/Banco BBM, LLM em Direito do Mercado Financeiro e de Capitais pelo IBMEC, bacharel em direito pela UERJ. Professor nos programas de pós-graduação da Fundação Getúlio Vargas (FGV). Conselheiro Fiscal da Beneficência Portuguesa de São Paulo.
andre.passos@moneytimes.com.br
André Ricardo Passos de Souza, é sócio-fundador do PSAA - Passos e Sticca Advogados Associados -, com MBA em Finanças e Mercado de Capitais pela MP Consultoria/Banco BBM, LLM em Direito do Mercado Financeiro e de Capitais pelo IBMEC, bacharel em direito pela UERJ. Professor nos programas de pós-graduação da Fundação Getúlio Vargas (FGV). Conselheiro Fiscal da Beneficência Portuguesa de São Paulo.

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