A cidade que apoiou Trump nas urnas e agora sofre com o apagão federal nos EUA

Os Estados Unidos vivem, desde 1º de outubro, uma paralisação parcial do governo federal após o Congresso não aprovar o orçamento para estender o financiamento. O chamado ‘shutdown’ impacta setores como aviação, turismo, pagamento de benefícios e distribuição de verbas públicas.
A pequena cidade de Martinsburg, na Virgínia Ocidental, onde 67% da população votou em Donald Trump, sofre os efeitos do impasse.
Com cerca de 20 mil habitantes, 3.300 trabalham diretamente para agências federais — outros mil, que também são funcionários públicos, viajam diariamente para Washington DC.
Jonathan Giba, veterano de guerra e morador de um abrigo para ex-combatentes, aguarda consultas médicas e odontológicas depois que os medicamentos que lhe foram prescritos o deixaram sem dentes e incapaz de andar — agora, com o shutdown, ele deve ter que esperar mais. O hospital do Departamento de Assuntos dos Veteranos mantém atendimento médico emergencial, mas suspendeu outros programas.
Outro veterano da Força Aérea, Marcellus Brothers, declarou estar “no limbo” diante da incerteza.
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Mais de 700 mil trabalhadores federais estão em licença não remunerada, enquanto cerca de 200 mil considerados essenciais atuam sem receber salário. Esta é a 15ª paralisação federal desde 1981; a mais longa durou 35 dias, entre 2018 e 2019, também durante o primeiro governo Trump.
Segundo Kelly Allen, diretora-executiva do Centro de Orçamento da Virgínia Ocidental, o shutdown agrava ainda mais a economia local, já fragilizada por cortes de empregos federais. “Há mais funcionários federais do que mineradores de carvão, principal motor econômico do estado. São empregos bem remunerados, caros para perder em uma região com poucas oportunidades,” afirmou.
O Centro de Serviços do Departamento de Agricultura (USDA), responsável por empréstimos agrícolas e assistência a produtores, fechou as portas e só reabrirá com autorização governamental. O IRS licenciou 34 mil funcionários na quarta-feira (8), o que também deve afetar serviços na região.

Impacto econômico nacional e atrasos em indicadores
Economistas alertam que cada semana de shutdown pode reduzir de 0,1 a 0,2 ponto percentual do PIB americano. Nesta paralisação, o impacto deve ser maior devido à interrupção do fluxo de dados oficiais, essenciais para políticas econômicas e decisões do Federal Reserve.
O Escritório de Estatísticas Trabalhistas (BLS) adiou o relatório semanal de empregos e teve que convocar parte da equipe para produzir o índice de preços ao consumidor (CPI). Outros dados-chave, como vendas no varejo, início de construções e estoques empresariais, também correm risco de atrasos.
Além disso, o Escritório de Análise Econômica (BEA) suspendeu atividades antes da divulgação do PIB do terceiro trimestre, prevista para 30 de outubro. Sem esses dados, o Federal Reserve e os analistas perdem parâmetros confiáveis para definir a política monetária.
Esses indicadores são fundamentais para o mercado financeiro e para o governo ajustar inflação, faixas de imposto, subsídios e programas públicos.
Embora haja perspectiva de compensação após o fim do shutdown, dúvidas criadas pelo presidente Donald Trump sobre o ressarcimento integral dos servidores e a anunciada demissão em massa no serviço público aumentam a incerteza sobre a recuperação econômica do país.