A crise do diálogo e os impactos no seguro rural e instrumentos financeiros do agronegócio
O agronegócio brasileiro, um dos setores mais estratégicos e pujantes da economia nacional, tem enfrentado nos últimos anos um desafio que não vem apenas do clima, do câmbio ou das oscilações de mercado. O desafio é político. E, mais precisamente, reside na falta de diálogo entre o setor e o governo federal, motivada por uma excessiva ideologização das pautas.
Em meio à disputa de narrativas e posicionamentos radicais, o agronegócio tem perdido espaço na construção de políticas públicas essenciais, como as de crédito rural e seguro rural, instrumentos fundamentais para dar previsibilidade, segurança e competitividade à produção nacional.
O que se vê é uma progressiva descontinuidade dessas políticas, ora por falta de priorização do governo, ora por ausência de uma interlocução madura e institucional por parte do próprio setor. Em vez de ocupar a mesa de negociações com propostas técnicas e soluções equilibradas, parte do agro se afastou do diálogo, preferindo o embate ideológico e o resultado é a perda de protagonismo nas decisões estratégicas.
A política agrícola brasileira sempre foi construída com base em diálogo. Foi assim que nasceram o crédito rural subsidiado, o Programa de Subvenção ao Prêmio do Seguro Rural (PSR) e os mecanismos de apoio à comercialização. Todos esses instrumentos foram fruto de construções coletivas entre governo, parlamento e setor produtivo.
Nos últimos anos, porém, essa mesa tem ficado cada vez mais vazia. As reuniões técnicas se tornaram raras, os espaços de escuta diminuíram e as propostas do setor raramente chegam com a força e a unidade necessárias. O agronegócio, que sempre teve papel de protagonismo nas políticas públicas, hoje observa suas principais pautas serem tratadas com indiferença e parte dessa responsabilidade recai sobre a própria falta de coordenação política e institucional.
O encontro que ocorreu dia 26 de outubro entre o presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, e o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, é um exemplo emblemático de que o diálogo ainda é o caminho mais eficaz para resolver crises e construir avanços duradouros.
Durante muito tempo, acreditou-se que a distância ideológica entre ambos seria intransponível. No entanto, o que se vê é que, quando a diplomacia e o bom senso prevalecem, os resultados aparecem e, certamente, o agronegócio brasileiro sairá mais forte desse processo.
O diálogo, a negociação e o equilíbrio demonstrados por lideranças que colocam a técnica e o interesse nacional acima das diferenças políticas são um exemplo a ser seguido também dentro do nosso próprio país. É assim que se constrói confiança, previsibilidade e segurança institucional, elementos fundamentais para qualquer política agrícola moderna.
É natural existirem divergências, e até necessário que haja oposição e debate. Mas política pública não se constrói com discursos inflamados, e sim com maturidade e diálogo. Após as eleições, independentemente do resultado, o agronegócio precisa se reorganizar e retomar sua capacidade de interlocução com o governo, pois é no diálogo que nascem as soluções.
Não se trata de concordar com tudo, nem de abdicar de princípios. Trata-se de compreender que o desenvolvimento econômico e social do país deve estar acima das disputas ideológicas.
Quando o setor se fecha em posições extremadas, ele deixa de influenciar as políticas que realmente importam: o crédito acessível, o seguro rural eficaz, o investimento em infraestrutura, pesquisa e inovação.
O Brasil precisa de um agronegócio forte, representativo e atuante, não apenas nas exportações, mas também na formulação de políticas públicas. E isso só será possível se voltarmos a ocupar a mesa com equilíbrio, técnica e diplomacia.
Afinal, quando a ideologia ocupa a mesa, o diálogo se retira dela. E sem diálogo, o agronegócio perde o que tem de mais valioso: a capacidade de liderar o desenvolvimento do país.