A crise dos ‘farmers’ pelo tarifaço de Donald Trump e o gap do boi entre Brasil e EUA

Os produtores dos Estados Unidos, os chamados “farmers”, já vivem uma crise pelos efeitos do “tarifaço” implementado por Donald Trump, segundo o consultor da MB Agro, Alexandre Mendonça de Barros.
“Acho que esse é um tema pouco falado aqui no Brasil. Quem acompanha a economia agrícola dos EUA sabe que eles vivem um momento muito difícil, com custos de produção elevados. Isso porque eles são grandes importadores de insumos, com mais de 70% vindo da China e Índia, além de uma grande importação de potássio, que praticamente 90% vem do Canadá”.
A fala do consultor ocorreu durante painel do Minerva Foods (BEEF3) Day realizado nesta terça-feira (30), e que também contou com o CFO da empresa, Edison Ticle, e do ex-presidente do banco do Brics, Marcos Troyjo.
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Barros ainda citou um estudo recente da Universidade de North Dakota que estima um aumento de 20% dos custos dos EUA com peças de máquinas.
“Essas questões de insumos, evidentemente, não afetaram a safra corrente deles porque houve um movimento de antecipação de compra de insumos e eles estavam muito bem abastecidos. Mas a verdade é que ninguém sabe o que vai ser da próxima safra dos EUA”.
Os reflexos para o Brasil e o futuro do ‘agribusiness’ nos EUA
Desde o início do tarifaço de Trump, houve a entrada de uma oferta muito elevada de químicos no Brasil, o que fez com que os preços caíssem no país, porque as empresas americanas não querem antecipar a compra dos insumos enquanto as tarifas estão de pé.
Barros acredita que isso fará com que os norte-americanos se tornem mais autossuficientes, transformando mais grãos em biocombustíveis, o que colocará uma dúvida sobre os ianques se manterem como um fornecedor global confiável
“As oportunidades vão se abrindo para carne bovina do Brasil. Eu acho que vem o Japão e já veio o México. E para agricultura americana eu vejo um grande ponto de interrogação, estamos até vendo plantas frigoríficas fechando pela falta de mão de obra. De qualquer maneira, para quem está posicionado na América Latina, que é estratégia do Minerva, vê uma oportunidade geopolítica incrível”.
A transformação silenciosa da pecuária brasileira e o gap de produtividade
O consultor da MB Agro destaca que um fator de difícil mensuração da pecuária brasileira são os avanços para produtividade e o crescimento do gado no país.
“Quando nós já imaginávamos que íamos ver uma menor oferta, vamos ter um 2025 com um maior abate que o ano passado e que foi recorde histórico. É uma transformação de produtividade e somos um dos únicos países do mundo que pode crescer nesse sentido. Podemos avançar em produtividade e volume”.
Barros explica que o Brasil conta com cerca de 190 – 200 milhões de cabeças de gado, enquanto os EUA contam com 86 milhões de cabeças. Segundo ele, se alcançarmos os mesmos níveis de produtividade dos EUA, o país poderia abater entre 68 a 75 milhões de cabeças por ano — quase o dobro da produção atual — um avanço que pode vir por tecnologia e manejo.
“Enquanto os EUA produzem cerca de 400 kg por carcaça, o Brasil ainda opera na faixa dos 300 kg. Mesmo abatendo 40 milhões de cabeças, o Brasil produz volume similar em carne aos 30 milhões de cabeças americanas. Temos o potencial de expansão de produtividade que ele pode nos levar a ser um monstro em termos de produção de carne”.
Um dos fatores transformacionais para a carne fica por conta da geração do subproduto da produção do etanol de milho, que é o DDG (Grãos Secos de Destilaria), utilizado como ração animal.
“Nós vamos começar a ver estruturas de confinamento sendo construídas ao lado dessas estruturas de produção de etanol, trazendo uma competitividade incrível, uma capacidade de usar o produto numa velocidade muito grande, com uma logística toda desenhada para isso. Isso pode estimular ainda mais a produção de milho no Brasil”.