Coluna do Hsia Hua Sheng

A deflação na China é coisa do passado; entenda

17 fev 2024, 16:15 - atualizado em 17 fev 2024, 16:15
china desenvolvimento deflação
Como a maioria dos países já conseguiu controlar a inflação, a atenção da deflação acaba voltando para a China. (Foto: glaborde7/ Pixabay)

Os economistas estão preocupados com o efeito negativo da persistência da deflação chinesa para seu próprio crescimento econômico em 2024.

Embora tenha ajudado a baixar inflação do mundo todo com a exportação chinesa, a queda de preços dos produtos chineses também teria reduzido ou adiado a vontade do consumo imediato no mercado interno em 2023.

Como a maioria dos países já conseguiu controlar a inflação, a atenção da deflação acaba voltando para a China.

Felizmente, há bons motivos para acreditar que o índice geral de preço interno da China apresentaria a estabilidade e levemente positivo em 2024. Diferentemente da crise deflacionária estrutural do Japão, que começou no início de 2000, os recentes sinais do mercado e as novas reformas institucionais e econômicas da China tem mostrado que essa pressão deflacionária na China seria apenas temporária.

China: Esforço do governo com a economia

A China vem acelerando sua reforma institucional colocando a diplomacia a serviço a promoção da reabertura e reforma econômica.

Após o encontro dos presidentes Joe Biden e Xi Jinping, em novembro de 2023, a guerra econômica, tecnológica e financeira entre Estados Unidos e China ficou mais atenuada. Várias manufaturas americanas voltaram a considerar manter suas produções na China, mesmo que seja menos concentradas que antes.

O primeiro-ministro, Li Quiang, também detalhou medidas da abertura de negócio para plateia de investidores ocidentais na Reunião Anual 2024 do Fórum Econômico Mundial.

A nova política de isentar vistos ou prolongar o período de vistos para 10 anos para principais parceiros comerciais também mostra esforço e transparência do governo chinês para intensificar a reabertura de seu mercado para o mundo após a pandemia.

Essa política também promove o setor de turismo tanto para estrangeiro visitar a China quanto para chineses viajarem para exterior. Por exemplo, só nesse feriado de Ano Novo chinês, os turistas chineses lotaram voos de Singapura e Malásia, países que assinaram acordo de isenção de visto.

Paralelamente a simplificar entrada de estrangeiros na China, há esforço também para aumentar a demanda da própria população chinesa. Segundo o Ministério de Comércio, a China vai continuar expandindo o consumo interno. Basicamente, 2023 foi um ano para aumentar o consumo e 2024 será um ano para promover o consumo.

O governo vai reformular regulações e legislações para multiplicar diferentes canais de vendas digitais ou físicas, e aumentar segurança e experiência dos consumidores.

Ainda é esperada uma demanda adicional proveniente de pacote de política fiscal e monetária para garantir os novos incentivos seja direcionado para atender prioritariamente demanda da população, sem aumentar desnecessariamente produção da indústria.

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A força de mercado na inflação

As forças de mercado também ajudam a reduzir a pressão deflacionaria. Há três principais fatores:

  1. É esperado fim do super ciclo da carne suíno no segundo semestre de 2023. O preço de suíno é um importante componente no cálculo de inflação de consumidor na China. Devido ao excesso de oferta e fraca demanda, esse preço tem caído significativamente desde agosto de 2023. Isso reduziu a margem de lucro e a vontade de fazer mais criação de porcos para 2024. A tendência é a volta de equilíbrio de preço após o grande festival do barco de dragão em meados do ano, uma data importante de consumo de carne suíno.
  2. Potenciais aumentos de preços de fretes marítimas por conta de riscos geopolíticos podem encarecer os custos dos produtos. Vale lembrar que a China é um hub e faz parte de uma malha de logística intensa de trocas na cadeia de suprimento global e regional. Os custos de frete e tempo de transit time são componentes relevantes na formação de preço final. Esses reajustes de preços podem antecipar a decisão de compra dos consumidores, fortalecendo mercado de consumo.
    3) Após um período conturbado de declaração de falência e liquidação das empresas relacionadas com setor imobiliário da China (por exemplo, Evergrande, ZhongZhi Enterprises Group), os novos donos desses ativos vão poder fazer restruturação e eliminar os ativos ineficientes, e reinvestir os ativos de maior retorno. Além disso, a nova gestão mais racional e eficiente também ajuda acabar com temores de contágio financeiro dessas empresas falidas.

Como o Brasil será afetado?

Afastamento de riscos de deflação na China vai beneficiar os exportadores brasileiros em 2024. Setor de papel e celulose pode se beneficiar com a nova urbanização com base na reforma de registro família da população rural.

Já o setor de minério e aço pode ser beneficiado com a reestruturação dos ativos das empresas falidas, enquanto o setor de lítio fará parte de novos investimentos na economia verde.

O setor de exportação de proteína animal também pode se beneficiar com fim do super ciclo de carne suíno e setor de grão com o ano de promoção de consumo na área de alimentação.

Embora o mercado interno não seja mais igual os de 2022 e 2021, no qual não havia muita concorrência de fornecedores estrangeiros e os preços China batiam recorde para exportação brasileira, essas novas evidências de estabilidade de preços da China tendem garantir um preço médio melhor que era praticado em 2023 para empresas brasileiras.

*As análises e opiniões são de responsabilidade exclusiva do autor e não representam uma visão das instituições das quais o autor pertence.

Hsia Hua Sheng é vice-presidente do Bank of China (Brasil) S.A. e professor associado de finanças na Fundação Getulio Vargas (FGV- EAESP). Ele é economista pela Universidade de São Paulo (FEA - USP), doutor e mestre em administração em finanças pela Fundação Getulio Vargas (FGV – EAESP). Foi pesquisador visitante na NYU Stern School of Business e na Shanghai University of Finance and Economics (SHUFE). É especialista em finanças internacionais com foco em mercados emergentes, com larga experiência profissional em multinacionais e possui várias publicações em revistas acadêmicas e profissionais de excelências internacionais e nacionais.
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Hsia Hua Sheng é vice-presidente do Bank of China (Brasil) S.A. e professor associado de finanças na Fundação Getulio Vargas (FGV- EAESP). Ele é economista pela Universidade de São Paulo (FEA - USP), doutor e mestre em administração em finanças pela Fundação Getulio Vargas (FGV – EAESP). Foi pesquisador visitante na NYU Stern School of Business e na Shanghai University of Finance and Economics (SHUFE). É especialista em finanças internacionais com foco em mercados emergentes, com larga experiência profissional em multinacionais e possui várias publicações em revistas acadêmicas e profissionais de excelências internacionais e nacionais.
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