A faca de dois gumes e o ‘imponderável risco’ para o mercado do boi, segundo o Itaú BBA

Apesar de ver como positivo o status do Brasil de área livre de febre aftosa sem vacinação pela Organização Mundial de Saúde Animal (OMSA), já que permite que o país exporte a carne de boi para mercados mais exigentes como Japão, Coreia do Sul e Canadá, o Itaú BBA alerta para os riscos sanitários.
“A retirada da vacinação em bovinos aumenta a exposição do Brasil a riscos sanitários, sendo esse um risco imponderável, apesar das possibilidades de conquistarmos mercados que ainda não temos”, afirmou Cesar de Castro Alves, gerente da Consultoria Agro do Itaú BBA, durante o Agro em Pauta.
No entanto, o especialista destaca que o status coloca o Brasil em uma situação mais sensível, já que passa a ter uma pecuária que não vacina e uma indústria que não produz o imunizante. “Se alguma coisa acontecer, eu não sei nem para onde poderíamos correr para resolver essa situação”.
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Segundo Alves, qualquer problema nesse sentido poderia tirar um pouco do brilho das exportações brasileiras, que tem sido uma válvula muito importante para o escoamento do grande volume de gado do país.
“A dúvida fica por ser algo novo. No passado, em 2006, quando tivemos problemas com a doença e realizávamos a vacinação, foi bastante traumático, com bloqueio para exportações. O grande preocupação é caso a doença aconteça e não termos estoques da vacina. Não estou dizendo que vai acontecer, acredito que o setor está mais preparado, mas exigiria uma grande diplomacia do Brasil”, disse ao Money Times.
O mercado do boi e da carne bovina
No mercado de bovinos, a expectativa de uma redução na oferta ainda não se concretizou e pode não se confirmar em 2025, devido ao ritmo dos abates no Brasil. Para 2026, no entanto, o gerente da Consultoria Agro do Itaú BBA projeta uma menor oferta global de gado.
“O abate está muito voltado para animais mais jovens, com uma fração importante das fêmeas sendo novilhas (fêmeas jovens), que não são necessariamente vacas de descarte, animais mais velhos que deveriam já estar reduzindo essa oferta, porque o custo do bezerro melhorou muito desde o ano passado. Com isso, a margem do criador está claramente melhor, com estímulo para o produtor segurar a vaca para produção do bezerro”.
Mesmo assim, o volume de abate de fêmeas segue elevado, sendo grande parte vindo de novilhas, uma demanda que deve permanecer, seja para exportação ou mercado doméstico.
“É possível, na nossa estimativa, uma redução de 1% da produção de carne em 2025. Isso porque, quando olhamos para o segundo semestre, acreditamos que apesar da proporção de fêmeas no abate tem que reduzir, a gente acha que o confinamento vai ser mais volumoso esse ano. Isso por conta das margens favoráveis para o produtor desde o começo do ano, algo que deve se manter nesse segundo semestre”.