Money Minds

A iniciativa empresarial da COP30 que nasce com o Brasil na vanguarda; ‘O foco é ser pragmático e mostrar o que funciona’, diz ex-CEO da Raízen

02 out 2025, 19:05 - atualizado em 02 out 2025, 19:07

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE
CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

A menos de 40 dias da COP30, que acontece em Belém do Pará, o setor empresarial se reúne de forma estruturada, em um marco histórico, para levar iniciativas concretas que podem ser adotadas e aplicadas por diferentes países nas suas NDCs (Contribuições Nacionalmente Determinadas).

Na liderança dessa comitiva, criada pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) e batizada de SB COP30 (Sustainable Business COP30), está Ricardo Mussa, ex-CEO da Raízen (RAIZ4) e uma das principais referências do Brasil nos temas da transição energética, bioenergia, agronegócio e sustentabilidade.

“Essa é uma iniciativa para juntar o setor privado para ser representado na COP, que surgiu do B20 [grupo de engajamento empresarial do G20]. Esse grupo aprendeu que trazer o setor privado para a mesa facilita as discussões”, disse, no Money Minds.

  • LEIA TAMBÉM: O Money Times liberou, como cortesia, as principais recomendações de investimento feitas por corretoras e bancos — veja como acessar

No ano passado, durante o G20 realizado no Brasil, Mussa foi convidado a liderar o grupo de transição energética. A iniciativa foi bem-sucedida, com 72% das recomendações sendo aceitas pelos negociadores no documento final. “A partir disso, o pessoal da COP ‘copiou’ esse modelo do B20 para o SB COP”, afirma.

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE
CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

Foi criada, então, uma organização que reúne o setor privado do mundo inteiro em torno da discussão climática, considerando que o segmento é responsável por cerca de 80% das emissões globais.

“Tenho como meu chefe associações da indústria e comércio de mais de 60 países — como a CNI do Brasil, a US Chamber dos EUA, a Business Europe da Europa e outras confederações — representando mais de 40 milhões de empresas. É uma representação muito grande do setor privado mundial para participar e ajudar nas discussões da COP, algo que nunca existiu.”

O legado do SB COP e as dificuldades nas discussões

O líder da iniciativa reforça que a SB COP não pertence ao Brasil e terá nova liderança na COP31, prevista para acontecer na Turquia ou na Austrália. Atualmente, o país do Pacífico está na frente na disputa para sediar o evento.

“A vantagem é reunir o setor privado de forma organizada para ser representado na COP junto à ONU, com amplo reconhecimento da entidade. A parte difícil é coordenar esse grupo gigante, mas a parte boa é que você tem representatividade. Você senta à mesa e o outro lado te escuta”, afirma Mussa.

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE
CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

O executivo explica que há duas entregas principais antes do evento. A primeira é um documento com recomendações para os negociadores, refletindo a visão do setor privado. A segunda é uma curadoria de projetos e cases de sucesso do setor privado mundial, exemplos que podem ser seguidos. Sobre os documentos, ele ressalta aprendizados de experiências passadas:

“Quando participei do B20 na Indonésia em 2022, entregamos um documento com 68 recomendações na semana da negociação. Ninguém leu, e não serviu para nada. Aprendendo com isso, percebemos que é melhor focar em poucas recomendações, ser mais enfático. Agora, entregamos apenas três recomendações por força-tarefa, com antecedência, para influenciar os negociadores. Um documento entregue no fim de agosto”, relembra.

Na semana passada, durante a Semana do Clima em Nova York, o grupo apresentou 23 prioridades para transformar a agenda climática em realidade.

Expectativa x realidade

Mussa comentou sobre a diferença entre o B20 e a SB COP e sobre a expectativa de que as recomendações sejam atendidas:

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE
CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

“No início do trabalho da SB COP, fiquei super animado, pensando em repetir o sucesso do B20. Para minha equipe, estabeleci uma métrica de sucesso: o percentual do que fosse entregue no nosso documento deveria aparecer na recomendação final. Na primeira reunião da ONU, na Alemanha, percebi que isso não iria funcionar. Com 198 países e decisões por consenso, é difícil influenciar o documento final.”

Com isso, a estratégia mudou. Observou-se que, em 30 anos de discussões sobre mudanças climáticas, muitas empresas estão testando, errando e tendo casos de sucesso. Decidiu-se, então, criar um concurso com os melhores casos de sucesso do mundo e analisar o que tornou esses projetos bem-sucedidos. Grandes consultorias — como McKinsey, BCG, BEM, Deloitte, PwC, Systemic, Accenture e INY — aceitaram contribuir com conhecimento, formando o “Knowledge Park”.

O SB COP conta com diferentes forças-tarefas: transição energética, economia circular e materiais, bioeconomia, sistemas alimentares, empregos e habilidades verdes, financiamento climático e cidades sustentáveis e resilientes.

Ricardo Mussa critica as COPs tradicionais, nas quais governos convocam o setor privado apenas para anunciar compromissos de longo prazo. “Chega uma COP e anunciam vários projetos novos. Muitos morrem porque não têm retorno econômico. Em vez de lançar um projeto para 2050, vamos olhar para o que funciona e focar nisso. Vamos ser pragmáticos.”

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE
CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

Segundo ele, mais de 1.000 projetos foram enviados, e o top-50 foi selecionado pelo setor privado. “A maior contribuição é mostrar o que funciona. E o maior legado é organizar melhor o setor privado para participar da discussão.”

O que é uma COP?

As COPs, sigla para Conferência das Partes, surgiram com a Rio-92, quando foi assinada a Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças do Clima (UNFCCC). A primeira COP aconteceu em Berlim, em 1995.

“A COP30 é a trigésima COP da história e a primeira feita no Brasil. Quando pensamos nos problemas da humanidade, nunca tivemos um problema tão global, talvez nem a Covid. No caso do clima, não adianta um país se isolar. A Noruega, por exemplo, está eletrificando rapidamente sua frota, mas isso sozinho não resolve o problema. É uma questão genuinamente global”, afirma

Por isso surgiram as COPs: eventos nos quais os países discutem medidas de combate às mudanças climáticas.

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE
CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

“A dificuldade é que 198 países precisam chegar a um consenso. Um país insular no Caribe tem o mesmo voto que a China ou Índia, com 1,4 bilhão de habitantes. Com esse modelo, é difícil chegar a um acordo, e a tendência é baixar a régua”, destaca.

Dessa forma, das COPs saem metas e legislações que se refletem em políticas públicas nos países, voltadas à implementação dos acordos.

“Por isso tem o Acordo de Paris, que foi há 10 COPs, onde se acordou uma série de metas a serem cumpridas. Quando eu digo que estamos atrasados no cumprimento das metas, quero dizer que o mundo está atrasado”.

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE
CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

Compartilhar

WhatsAppTwitterLinkedinFacebookTelegram
Repórter
Formado em Jornalismo pela Universidade São Judas Tadeu. Atua como repórter no Money Times desde março de 2023. Antes disso, trabalhou por pouco mais de 3 anos no Canal Rural, onde atuou como editor do Rural Notícias, programa de TV diário dedicado à cobertura do agronegócio. Por lá, também participou da produção e reportagem do Projeto Soja Brasil e do Agro em Campo. Em 2024 e 2025, ficou entre os 100 jornalistas + Admirados da Imprensa do Agronegócio.
pasquale.salvo@moneytimes.com.br
Linkedin
Formado em Jornalismo pela Universidade São Judas Tadeu. Atua como repórter no Money Times desde março de 2023. Antes disso, trabalhou por pouco mais de 3 anos no Canal Rural, onde atuou como editor do Rural Notícias, programa de TV diário dedicado à cobertura do agronegócio. Por lá, também participou da produção e reportagem do Projeto Soja Brasil e do Agro em Campo. Em 2024 e 2025, ficou entre os 100 jornalistas + Admirados da Imprensa do Agronegócio.
Linkedin
As melhores ideias de investimento

Receba gratuitamente as recomendações da equipe de análise do BTG Pactual – toda semana, com curadoria do Money Picks

OBS: Ao clicar no botão você autoriza o Money Times a utilizar os dados fornecidos para encaminhar conteúdos informativos e publicitários.

Usamos cookies para guardar estatísticas de visitas, personalizar anúncios e melhorar sua experiência de navegação. Ao continuar, você concorda com nossas políticas de cookies.

Fechar