A supremacia dos estrangeiros na B3: Participação atinge recorde histórico em 2025

A paisagem da B3 está mudando — e rápido. No primeiro semestre de 2025, os investidores estrangeiros responderam por impressionantes 58,7% do volume financeiro movimentado na bolsa brasileira, o maior percentual desde o início da série histórica em 2019.
O dado, levantado pela consultoria Elos Ayta, não apenas confirma o protagonismo global do capital internacional, como também expõe uma virada silenciosa, porém profunda, no perfil de quem realmente move os preços dos ativos no país.
Esse movimento ganha ainda mais destaque quando colocado ao lado de outro dado relevante: o saldo líquido dos estrangeiros na bolsa foi de R$ 26,9 bilhões no semestre. Trata-se do maior valor desde o segundo semestre de 2023. Ou seja, além de dominarem o volume negociado, os estrangeiros também voltaram a ser compradores líquidos da bolsa brasileira — e com apetite.
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Queda contínua de pessoas físicas e institucionais
Se por um lado os estrangeiros ocupam um espaço crescente, por outro, pessoas físicas e investidores institucionais perdem terreno.
A participação das pessoas físicas caiu para 12,4%, menor nível desde 2019. O auge desse grupo foi em 2020, no rastro da euforia pós-pandemia, quando atingiu 21,4%. Desde então, a trajetória é descendente — reflexo da alta dos juros, da desilusão com ações especulativas e da migração para ativos de renda fixa.
Já os investidores institucionais, historicamente considerados os “alicerces” do mercado doméstico, também viram sua influência encolher. No primeiro semestre de 2025, representaram apenas 24,6% do volume, contra os 31,5% de 2019.
Essa retração pode estar associada tanto a resgates em fundos quanto à preferência por ativos mais seguros diante de um ambiente fiscal ainda incerto.
O que isso significa para a B3?
Mais do que uma mudança numérica, o que estamos vendo é uma transformação estrutural no comportamento do mercado acionário brasileiro. Cada grupo de investidor exerce uma função distinta no ecossistema:
- Estrangeiros: São os grandes formadores de preço, operam com volume, foco em fundamentos macro e giram capital com velocidade. Sua maior presença tende a aumentar a liquidez, reduzir o custo de capital das empresas listadas e valorizar ações de maior porte, como bancos, commodities e utilities.
- Institucionais locais: Representam o investidor paciente e diversificado. Sua retração reduz a estabilidade nos preços e a capacidade de absorver choques externos, sobretudo em papéis menos líquidos.
- Pessoas físicas: Atuam com mais emoção, foco no curto prazo e alta rotatividade. A queda na sua participação pode indicar desânimo com o mercado de ações ou preferência por renda fixa, mas também reduz o ruído especulativo observado entre 2020 e 2021.
Insight adicional: Concentração e dependência externa
O dado mais sensível, no entanto, não é o recorde dos estrangeiros, mas a concentração crescente do mercado nas mãos de um único perfil de investidor.
Com quase 60% do volume nas mãos de não residentes, a bolsa brasileira se torna mais vulnerável a eventos externos: variações de juros nos EUA, percepções sobre risco fiscal no Brasil e até questões geopolíticas podem provocar saídas abruptas — com impacto direto nos preços e na volatilidade dos ativos.
Além disso, a retração dos institucionais e pessoas físicas pode comprometer o financiamento de longo prazo do mercado de capitais brasileiro, justamente num momento em que o país precisa de investimentos em infraestrutura, tecnologia e inovação.
A B3 está mais conectada ao mundo — e isso tem seu valor. Mas a perda de protagonismo dos investidores locais acende um alerta importante. O desafio dos próximos anos será reconquistar o investidor doméstico e equilibrar a presença dos diferentes perfis, garantindo que a bolsa seja não apenas um reflexo do capital estrangeiro, mas também um instrumento de desenvolvimento do país.