Colunistas Tecnologia

A Tecnologia nossa de cada dia

16 dez 2022, 10:31 - atualizado em 16 dez 2022, 9:19
tecnologia
(Imagem: rawpixel.com / Freepik)

A tecnologia é onipresente em nossas vidas há milhares de anos.

Desde o período paleolítico, quando nossos ancestrais aprenderam a usar pedras para confeccionar ferramentas, avançando pela era neolítica em que começamos a desenvolver técnicas agropecuárias, passando pelos anos de desenvolvimento da metalurgia, ou ainda na Antiguidade, quando se conceberam técnicas de construção monumentais, a tecnologia ocupa papel central na evolução humana.

A atual sociedade da informação, com seu estupendo avanço tecnológico, tem uma característica curiosa. A todo momento, algum evento ganha atenção extrema dos líderes de opinião, das mídias, dos cidadãos em geral, que passam a discutir e opinar sobre aquele fato durante semanas ou até meses, inclusive mergulhando na aridez das tecnicidades, na complexidade de seus aspectos científicos.

Esse fenômeno social fértil em debates que sempre carregam algum conteúdo tecnológico nos transforma em “especialistas” bissextos, naturalmente superficiais para fazer frente a temas tão particulares, mas nos oferece a possibilidade de refletir, não nas tecnicalidades em si, que provavelmente esqueceremos rapidamente, mas no conhecimento mais amplo que eventualmente conseguimos transportar para nossas vidas e empresas.

Lembro do exemplo da gigantesca tragédia aeronáutica com o avião Fokker 100 operado pela TAM em outubro de 1996 (eu trabalhei na TAM em 1994) quando então passamos a entender muito sobre sistemas redundantes de segurança e funcionamento de reversores de turbina das aeronaves.

Quando tive meu tempo de Black Belt na famosa metodologia, o exemplo clássico de um processo “seis sigma” era justamente a indústria dos aviões que, obviamente, não pode aceitar nenhum defeito que ocasione quedas.

Nos anos recentes de pandemia, dedicamos centenas de horas a aprender sobre vírus, mutações, rotas de transmissão, protocolos de biossegurança e vacinas. Muitos de nós trouxemos para a vida prática estes conteúdos, buscando postos de saúde, utilizando máscaras, respeitando o distanciamento social, usando máscaras de proteção.

Em tempos de trabalho remoto e colaboração à distância, muita gente vem se dedicando a estudar e experimentar o metaverso, derramando informações sobre as tecnologias que o viabilizam como Web 3.0, realidades estendidas, blockchain e outras dimensões.

Todo mundo está interessado em melhorar nossas experiências nas mais diversas dimensões, seja no ambiente de trabalho, no entretenimento, nas relações sociais.

O avanço tecnológico

Nestes últimos meses, travamos longos debates sobre o valor da Ciência, com a presença incomum de cientistas nos canais de comunicação, defendendo seus valores e visão de mundo para melhorar a vida das pessoas e do planeta como um todo, e trazendo para as mesas de bares e reuniões corporativas temas como saúde pública, mobilidade urbana, produtividade industrial, e tantos outros, ao lado das paixões da política nacional e das falhas da Seleção Brasileira no Qatar.

Tivemos também profundas discussões polarizadas sobre as eleições presidenciais do Brasil e mergulhamos em questões sobre a tecnologia das urnas eletrônicas e sua inviolabilidade e as batalhas narrativas com suas técnicas utilizadas em redes digitais na era da pós-verdade.

A guerra da Ucrânia nos expôs a dolorosa sabedoria sobre a tecnologia militar, com seus tanques, mísseis e drones, além de desafiadoras questões energéticas na Europa, e sobre a cadeia de suprimento de fertilizantes e de produção de grãos que impacta o mundo inteiro.

A COP-27 no Egito trouxe à tona mais uma vez a questão urgente dos desastres climáticos, estimulando todos os Estados e empresas na direção do desenvolvimento de inovações sustentáveis, de tecnologias limpas.

E para terminar, entrando em dezembro, período incomum em que ocorreu a Copa do Mundo no Qatar, fomos impactados por um festival de tecnologias aplicadas ao maior evento de futebol.

A bola Al Rihla da Adidas tem no centro um sensor de medição inercial, que juntamente com câmeras de rastreamento e IA, contribui para melhores decisões dos árbitros de vídeo, destacando a tecnologia de impedimento semiautomatizado.

Ficamos acostumados a ver nas transmissões uma animação 3D gerada imediatamente por inteligência artificial que demonstrava a infração cometida pelo jogador, por mais que alguns de nós se irritem com tal tecnicismo de anular um gol por causa de um polegar à frente do defensor. O que seria da grande mão de Deus que levou a Argentina de Maradona ao incrível título de 1986, vencendo a Inglaterra nas quartas de final?

A FIFA também desenvolveu um aplicativo que gerou detalhadas estatísticas sobre a performance dos jogadores em campo. Quanto correram, quanto desarmaram, quantos passes deram e por aí vai.

Foi assim que descobrimos que o meia croata Brozovic, fumante de 30 anos, foi o jogador que maior distância percorreu nos jogos, completando incríveis 71,7 km, até as semifinais, incluindo a partida contra o Brasil.

Com tantos dados disponíveis, nos assombramos com a velocidade de Mbappé que, contra a Polônia, alcançou 35,3 km/h, sendo superado por poucos atletas como o ganês Sulemana que atingiu 35,7 km/h na derrota para o Uruguai.

Tecnologias inclusivas foram proporcionadas para pessoas com deficiência visual para aproveitarem melhor os espetáculos esportivos. Um aparelho chamado Banocle conseguiu transformar conteúdos em Braile, fones para audiodescrição estavam disponíveis nos estádios, e alguns deles ofereceram salas sensoriais para pessoas com mobilidade reduzida.

Além disso, estádios trouxeram tecnologias de resfriamento para melhorar o conforto térmico das torcidas e um dos oito estádios foi construído sobre contêineres de metal e estruturas de aço modulares que o tornaram totalmente desmontável.

No lado da segurança, as centrais de comando do Qatar aplicaram algoritmos para evitar tumultos e crises durante os jogos.

Em cada uma dessas rodadas de assuntos, há intercâmbio de pontos de vista, endossos, confrontos de ideias, provocações e polêmicas, mas talvez você não percebesse essa grande carga de conteúdo tecnológico em cada pauta que atravessa nossas rotinas.

É provável que nosso sutil envolvimento em tópicos tecnológicos, esparramados naturalmente nas conversas do cotidiano, tragam impacto dentro de nós, inspiração para aplicar na nossa vida ou empresa, algum exercício para recriarmos o mundo ali no nosso quintal por este efeito de polinização de conceitos.

Tanta discussão contra o negacionismo reforça o valor da ciência, das decisões baseadas em dados, de argumentos embasados, de métodos investigativos que levamos para nosso comportamento e para as organizações.

Ao sermos confrontados com tantas reportagens, conteúdos e registros sobre o aquecimento global e a crescente degradação do meio-ambiente, é provável que muitos de nós tenhamos mudado hábitos, trocado marcas, e nas empresas, participado de projetos de economia circular e de tecnologias limpas.

As inovações da Copa do Mundo podem eventualmente inspirar novas aplicações em outros contextos, seja na direção da inclusão, da precisão da informação, da segurança.

O que esperar para o futuro

Fico curioso para saber quais manchetes ocuparão nosso tempo nestes próximos meses. Os desafios de gestão do governo que inicia? Algum novo escândalo da família real inglesa? Outro desabamento trágico provocado pelas chuvas? Recordes de safra? Descobertas de novos tratamentos de saúde? A performance incrível de algum atleta? Níveis ainda mais alarmantes sobre impactos climáticos?

A certeza é que, a cada semana, escreveremos novas manchetes e, dentro delas, haverá sempre um bom tanto de tecnologia presente, sendo desenvolvida e debatida, impulsionando nossa vida, gerando inúmeros impactos, bons e indesejados.

Que o novo ano traga muitas possibilidades para que a tecnologia continue participando positivamente da evolução humana, desenvolvida com bons propósitos e recursos suficientes, com ética, responsabilidade social e compreensão holística, melhorando a vida de todas as pessoas e do planeta.

 

Head de Marca & Comunicação da 3M do Brasil
Serafim é professor, palestrante, Head de Marca & Comunicação e Líder de Inovação da 3M, onde atua desde 1994. Palestrante com mais de 950 apresentações sobre Criatividade, Inovação e Negócios, é professor de Gestão de Marketing e Inovação nos cursos da Inova Business School e ESALQ/USP. Formado em Administração (EAESP/FGV) e Publicidade (ECA/USP), tem especialização em Desenvolvimento do Potencial Humano (PUCCAMP) e em Psicologia Positiva (PUC/RS). Co-Criador do Programa de Desenvolvimento de Liderança The Leadership Way em que atua como Guia da Liderança Colaborativa. Autor do livro “O Poder da Inovação”, publicado pela Ed. Saraiva e idealizadordo Programa Inspira.mov sobre Criatividade e Empreendedorismo, veiculado pela TV Cultura.
Serafim é professor, palestrante, Head de Marca & Comunicação e Líder de Inovação da 3M, onde atua desde 1994. Palestrante com mais de 950 apresentações sobre Criatividade, Inovação e Negócios, é professor de Gestão de Marketing e Inovação nos cursos da Inova Business School e ESALQ/USP. Formado em Administração (EAESP/FGV) e Publicidade (ECA/USP), tem especialização em Desenvolvimento do Potencial Humano (PUCCAMP) e em Psicologia Positiva (PUC/RS). Co-Criador do Programa de Desenvolvimento de Liderança The Leadership Way em que atua como Guia da Liderança Colaborativa. Autor do livro “O Poder da Inovação”, publicado pela Ed. Saraiva e idealizadordo Programa Inspira.mov sobre Criatividade e Empreendedorismo, veiculado pela TV Cultura.
Giro da Semana

Receba as principais notícias e recomendações de investimento diretamente no seu e-mail. Tudo 100% gratuito. Inscreva-se no botão abaixo:

*Ao clicar no botão você autoriza o Money Times a utilizar os dados fornecidos para encaminhar conteúdos informativos e publicitários.