A tecnologia vai eliminar os riscos corporativos?
As companhias vivem um novo momento na forma como lidam com riscos. Assim como a governança e a transparência transformaram o mercado no passado, hoje o foco está na capacidade das empresas — especialmente as listadas em bolsa — de identificar, medir e controlar riscos em todos os níveis.
A gestão de riscos passou a ocupar o centro das atenções de conselhos, executivos e investidores, especialmente após a aprovação, em 29 de outubro, de mudanças na Lei das Sociedades por Ações. A reforma amplia a responsabilidade civil dos administradores e fortalece mecanismos de proteção aos investidores. Entre as novidades, destacam-se ações coletivas de acionistas minoritários em empresas abertas, inspiradas nas “class actions” americanas.
Durante anos, o conceito de governança corporativa nas empresas listadas se limitava a cumprir prazos e publicar relatórios financeiros exigidos pelas autoridades. Isso era suficiente para assegurar a confiança do mercado. Com o tempo, porém, tornou-se claro que apenas divulgar informações não bastava: era necessário garantir sua origem, consistência e rastreabilidade. Sem isso, decisões estratégicas corriam o risco de se basear em dados imprecisos ou incompletos.
O avanço das normas regulatórias e o aumento da exposição financeira e jurídica dos executivos mudaram o cenário. Hoje, cada decisão de uma companhia precisa estar sustentada por informações verificáveis. A rastreabilidade passou a ser um valor central da governança — e é nesse contexto que a gestão de riscos evolui.
Departamentos de auditoria e compliance têm crescido rapidamente, acompanhando a complexidade das operações e o volume de dados gerados. Mapear riscos tornou-se uma necessidade operacional e estratégica, e a tecnologia permite fazê-lo com maior precisão, velocidade e confiabilidade.
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As novas plataformas de gestão de riscos representam uma revolução silenciosa. Elas registram, calculam e projetam riscos em tempo real, integrando informações de diferentes áreas da empresa. É possível monitorar indicadores de desempenho, simular cenários adversos e definir estratégias de mitigação antes que problemas ocorram. Isso garante mais segurança e maior consciência sobre o que realmente está sob controle.
O salto tecnológico é evidente. Planilhas e relatórios manuais foram substituídos por sistemas integrados, hospedados em nuvem, que cruzam dados financeiros, jurídicos, operacionais e de sustentabilidade. Ao automatizar a coleta e o processamento de informações, esses sistemas reduzem erros, tornam os dados mais confiáveis e simplificam auditorias.
Essas plataformas permitem que equipes de Relações com Investidores e de gestão de riscos se concentrem no essencial: analisar tendências, projetar cenários e apoiar decisões estratégicas. A tecnologia assume o trabalho repetitivo e operacional, enquanto o julgamento humano permanece crucial — agora, porém, baseado em dados sólidos e atualizados.
A mudança de paradigma impacta também a cultura corporativa. A gestão de riscos deixa de ser apenas uma tarefa para momentos de crise ou auditoria e passa a integrar a rotina da empresa. Cada colaborador torna-se um elo na cadeia de prevenção, aprendendo a identificar e reportar riscos potenciais antes que se tornem problemas. É um processo contínuo de aprendizado e adaptação.
Ainda assim, muitos questionam: vale a pena investir em mais um sistema? A resposta está na relação custo-benefício. As plataformas modernas são mais simples e econômicas, com interfaces intuitivas e integração aos sistemas já existentes. O investimento inicial é rapidamente compensado pela redução de erros, ganho de eficiência e economia de tempo das equipes.
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O impacto no valor de mercado é direto. Uma gestão de riscos bem estruturada reduz incertezas e melhora a percepção de transparência. Investidores preferem companhias que demonstram controle sobre seus riscos e processos auditáveis, refletindo-se nas cotações e no custo de captação de recursos.
“Tratar os riscos com tecnologia é tratar o futuro com responsabilidade”, afirma Marcelo Siqueira, fundador da SUMAQ. “As ferramentas de mapeamento e monitoramento permitem às companhias não apenas identificar e mensurar riscos, mas transformar essas informações em vantagem competitiva.”
Para Siqueira, a tecnologia não substitui a análise humana, mas amplia sua eficiência. “Ela elimina a subjetividade e reduz a margem de erro. As decisões continuam sendo humanas, mas baseadas em fatos e dados. É assim que as companhias constroem credibilidade e protegem valor.”
Adotar plataformas de gestão de riscos representa mais do que modernização de processos: é uma mudança de mentalidade. Significa reconhecer que o risco faz parte do negócio, mas pode e deve ser administrado com método, transparência e tecnologia. A tecnologia não elimina todos os riscos, mas permite compreendê-los e enfrentá-los com clareza. No mundo corporativo atual, essa é a base da segurança, da confiança e do crescimento sustentável.