Coluna
Fusões e Aquisições

A virada estratégica da consolidação em um mercado de gigantes adormecidos

01 jul 2025, 15:22 - atualizado em 01 jul 2025, 15:22
Fusões e Aquisições
(Imagem: Canva/Pixabay)

O Brasil, com sua vastidão, paradoxalmente apresenta um mercado empresarial notavelmente pulverizado. Enquanto economias maduras ostentam cadeias colossais em diversos setores, por aqui, ainda abundam as “padarias de esquina” e as pequenas escolas independentes.

Longe de ser um sinal de fraqueza, essa fragmentação é um convite à consolidação de mercado. Para quem ousa desbravar esse movimento estratégico, a preparação jurídica não é um detalhe; é a verdadeira chave para destravar bilhões em valor.

O que testemunhamos é uma corrida estratégica de alto calibre. Grandes grupos e investidores estão desenhando teses de consolidação ambiciosas, reconfigurando setores inteiros – da educação básica à saúde, passando por indústria e serviços.

Não se trata de meras aquisições de ativos isolados, mas de uma reengenharia do mercado que busca ganhos exponenciais. Essa reconfiguração beneficia o consumidor final, com produtos e serviços mais eficientes, e, crucialmente, eleva a própria companhia a um novo patamar competitivo, gerando valor que a soma das partes jamais alcançaria.

A motivação é cristalina: geração de valor imediata. Uma empresa consolidadora experiente consegue não apenas integrar um ativo adquirido, mas elevá-lo exponencialmente em valor no mesmo dia. Isso é a força da otimização de processos, dos ganhos de escala, do acesso a tecnologias de ponta e de uma gestão profissionalizada. Imagine uma rede de restaurantes que, ao absorver uma unidade, vê seu valor multiplicar não apenas pela adição de clientes, mas pela sinergia que reduz custos e maximiza a performance em sua estrutura otimizada.

Esse fenômeno explica o apetite voraz pela consolidação em setores como o da saúde (hospitais, laboratórios, centros de alimentação parenteral) e educação (ensino fundamental). Empresas menores, muitas vezes fragilizadas por um ambiente econômico desafiador, tornam-se alvos atraentes, transacionadas a múltiplos competitivos e com um potencial de sinergia inexplorado. Para que essa “matemática da multiplicação” se concretize, a preparação jurídica é, portanto, o alicerce inegociável, tanto para quem compra quanto para quem vende.

Para a empresa-alvo, a máxima é direta: coloque a casa em ordem. Isso transcende a arrumação superficial; significa mitigar proativamente riscos trabalhistas, cíveis e tributários. Empresas menores frequentemente operam com informalidades que, se imperceptíveis no cotidiano, se tornam “bandeiras vermelhas” gritantes em um processo de due diligence.

Contratos bem elaborados com clientes e fornecedores, práticas trabalhistas corretas e uma governança tributária conservadora reduzem riscos e geram valor imediato e palpável na mesa de negociação. Um adquirente enxerga uma empresa “arrumadinha” como um ativo mais seguro e, por isso, mais valioso.

Já para a empresa consolidadora, a preparação é um exercício de arquitetura e estratégia de longo prazo. Exige uma estrutura jurídica e operacional robusta, capaz de absorver múltiplos ativos com eficiência. Isso se materializa em:

  • Processos de due diligence sofisticados: tenha em mente que a auditoria vai muito além da identificação de passivos. Ela é uma busca ativa por sinergias ocultas, uma avaliação cirúrgica da força da marca local e da compatibilidade cultural, além de antecipar os desafios de integração que podem emergir.
  • Gestão de pós-fechamento estruturada: a maioria das consolidações tropeça nesta fase por falhar em criar processos claros para a absorção e integração do ativo, desde a padronização de sistemas e tecnologias até a harmonização de práticas trabalhistas e contratuais.
  • Sensibilidade cultural e valoração do DNA local: cada empresa tem um DNA particular, uma relação de pessoalidade com seu público. O consolidador de sucesso precisa ter a sensibilidade e a humildade de aprender com o que foi adquirido, reconhecendo que, por vezes, a empresa-alvo possui processos ou talentos superiores. Desprezar essa inteligência pode resultar em perdas significativas de clientes e talentos valiosos.

Nesse cenário, a tecnologia emerge como um pilar estratégico obrigatório. Na due diligence, ferramentas de Inteligência Artificial e automação são indispensáveis para varrer milhões de documentos, identificar passivos e emitir certidões em segundos. Essa agilidade não apenas permite que empresas com grande volume de fusões e aquisições (realizando múltiplas aquisições mensais) mantenham o ritmo de crescimento, mas também mitiga riscos operacionais e jurídicos.

No entanto, é vital ressaltar: a tecnologia é aliada, não substituta. O “traquejo” e o olhar humano do advogado especializado permanecem insubstituíveis na análise final de contratos complexos e na identificação de nuances estratégicas.

É essa combinação sinérgica entre a eficiência da tecnologia e a expertise jurídica que permite ao escritório atuar como o verdadeiro arquiteto da consolidação, projetando a estrutura legal que garante a perenidade e o sucesso do negócio consolidado.

Na negociação contratual, a capacidade técnica e o traquejo em lidar com situações variadas contam muito. Uma empresa consolidadora lida com advogados das mais diversas sofisticações (desde aqueles que são generalistas até os ultraespecializados), além das mais variadas realidades. É preciso ter “jogo de cintura” para saber lidar com as mais diversas situações, “falar a língua” da empresa-alvo e, assim, criar empatia para conseguir avançar nas negociações.

O mercado brasileiro de consolidação é vasto e ainda incipiente em muitos setores. Para navegar essa onda com maestria, as empresas precisam se estruturar e compreender a complexidade da integração, a gestão de riscos e, acima de tudo, a geração de valor que surge quando o planejamento jurídico encontra uma estratégia de negócio.

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Advogado especialista em direito empresarial e societário, sócio da Marcos Martins Advogados
gustavo.arbach@autor.www.moneytimes.com.br
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