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Ações estrangeiras podem te proteger da turbulência eleitoral em 2022? Especialistas respondem

31 dez 2021, 8:00 - atualizado em 30 dez 2021, 17:04
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O investidor brasileiro consegue proteger sua carteira da incerteza das eleições presidenciais, se expondo a outras aplicações – como as Bolsas estrangeiras, por exemplo (Imagem: Flickr/Thenails)

A volatilidade em 2021 atingiu em cheio os mercados de ações, tendo os emergentes sofrido mais com temores quanto a uma nova disseminação do coronavírus à espreita e o cenário macro ainda caducando. O próximo ano promete ser igualmente turbulento, em especial para o Ibovespa, sob peso de uma inflação maior e com as eleições para a presidência da República aumentando ainda mais as incertezas no país.

O principal índice da Bolsa brasileira encerrou o ano com queda de mais de 10%, influenciado pelos movimentos do exterior e, principalmente, por problemas internos, como pressões fiscais e políticas.

O economista e estrategista da RB Investimentos, Gustavo Cruz, explica que, como os demais mercados globais, o Brasil surfou a onda da reabertura econômica. No entanto, discussões sobre a política fiscal doméstica e o movimento de revisão para cima dos juros começaram a limitar a recuperação do país, impactando diretamente o Ibovespa.

Cruz destaca ainda que o mercado de ações brasileiro já antecipou muito do cenário eleitoral do ano que vem.

“É conhecido por boa parte dos investidores que você tem, em anos eleitorais, uma realização em termos de renda variável. A renda variável sofre mais do que outros produtos no ano eleitoral”, diz o estrategista.

Com o Ibovespa potencialmente patinando até uma sinalização mais clara do resultado eleitoral final, o investidor consegue proteger sua carteira se expondo a outras aplicações – como as Bolsas estrangeiras, por exemplo.

O que fez o mercado americano subir?

Ao contrário do Ibovespa, os índices americanos terminaram 2021 com valorização, com destaque para o S&P 500, que registrou alta de mais de 28% no período.

No entendimento de Cruz, os Estados Unidos têm um diferencial que explica parte do bom desempenho das Bolsas no ano: os investimentos do governo, bem maiores que os do restante do globo, para engatar a recuperação da economia no país.

Joe Biden
Pacote trilionário: ao longo dos próximos cinco anos, serão realizados novos investimentos federais na infraestrutura americana (Imagem: REUTERS/Jonathan Ernst)

Em novembro, o presidente dos EUA, Joe Biden, sancionou a lei com um pacote bipartidário de infraestrutura no montante de US$ 1,2 trilhão.

Ao longo dos próximos cinco anos, serão realizados novos investimentos federais na infraestrutura americana, com o objetivo de direcionar dinheiro para diversos canais de mobilidade, como estradas, pontes, transportes públicos, aeroportos, portos e até veículos elétricos, além da rede de banda larga, energia elétrica e saneamento.

Outro ponto da tese é que as perspectivas de crescimento para os EUA, em comparação às projeções para o Brasil, continuam boas, apesar do movimento de aperto monetário. Em meio à maior inflação em décadas no país, o Federal Reserve (Fed), banco central americano, sinalizou que encerrará em março suas compras de títulos adotadas durante a pandemia e haverá três aumentos de 0,25 ponto percentual nos juros até o fim de 2022.

Ações continuam atraentes

Enzo Pacheco, analista da Empiricus, estima uma queda no ritmo de crescimento dos EUA, mas ressaltou que essa desaceleração não é necessariamente ruim para o mercado de ações.

“A nossa visão para o mercado de 2022 ainda favorece ações. Se você pegar juros e comparar com o retorno que você tem no mercado de ações, ainda compensa, porque o juro tá baixo (mantido entre 0-0,25% na última reunião das autoridades do Fed)”, afirma.

Pacheco não descarta investir na Bolsa brasileira no próximo ano (e em renda fixa também), mas defendeu uma carteira bem dividida, com exposição também a ativos internacionais.

Pacheco diz que investidores têm mais familiaridade em investir no que já conhecem – no caso dos brasileiros, a B3 (B3SA3).

“Ele [o investidor] vai se sentir muito mais confortável em investir talvez no Itaú (ITUB4), na Petrobras (PETR3;PETR4), na Vale (VALE3), porque estão aqui no Brasil. Mas, se você for pensar nisso, não teria por que essa pessoa ter medo de investir em uma Apple (AAPL34), por exemplo; o pessoal conhece, usa o celular”, comenta o analista.

Pacheco afirma que o brasileiro comete o mesmo erro do investidor americano: investir basicamente em ativos do seu país. Só que, no caso do investidor americano, ele tem o benefício de ter na carteira ações de empresas globais.

“O investidor tem esse benefício: mesmo que ele não queira investir, por exemplo, em um ETF (Exchange-Traded Fund, também conhecido como fundo de índice) do Sudeste Asiático, as empresas em que ele investe têm essa exposição”, completa.

Apostas nas Bolsas americanas

Microsoft
As big techs americanas negociam a múltiplos “nada absurdos”, defende o analista da Empiricus (Imagem: Pixabay/ClearCutLtd)

O rali das techs marcou o mercado de ações em 2020. Apesar da bolha já ter estourado, as grandes empresas do setor continuam sendo indicações do analista da Empiricus, pois, independente do cenário macroeconômico, elas conseguem entregar crescimento – ainda que em menor ritmo.

Na opinião de Pacheco, empresas como Microsoft (MSFT34), Alphabet (dona do GoogleGOGL34) e Meta (FBOK34) devem aproveitar algumas tendências seculares do setor, como a expansão da tecnologia de computação em nuvem, publicidade digital, games, metaverso, entre outros.

“Essas empresas negociam a múltiplos que não são nada absurdos. Elas entregam resultado, muitas vezes pagam proventos aos acionistas… Hoje em dia, você está falando de empresa negociando a 25-30 vezes o lucro. É mais caro, mas tem que ser mais caro mesmo, porque ela entrega”, defende.

Outro setor que pode se beneficiar é o de consumo discricionário, visto que os americanos ainda terão renda para gastar. Com o movimento de vacinação no mundo todo, as empresas de saúde também são apostas do analista.

E Ásia e Europa?

As opiniões dos especialistas quanto a investir no mercado acionário asiático divergem.

As ações chinesas podem até estar baratas para alguns, mas, para Pacheco, a imprevisibilidade sobre os próximos movimentos do governo do país pesa na hora de recomendar ativos do país. A exemplo, o analista cita a intervenção política em educação privada, restringindo as regras às empresas do setor.

“É um mercado muito relevante, mas tenho esse receio de intervenção governamental. Por ora, eu deixaria meio de lado”, diz.

Mehanna Mehanna, sócio fundador da Phi Investimentos, está otimista com a recuperação dos emergentes. Na avaliação dele, existe uma perspectiva mais favorável para esses mercados.

China Mercados
Ações chinesas: investir ou não investir? Eis a questão (Imagem: REUTERS/Aly Song)

“Se você pegar o caso dos Estados Unidos hoje, o preço das ações precifica o melhor cenário para os próximos anos, enquanto, se você pegar o caso do Brasil – ou mesmo China e alguns países latino-americanos –, o preço dos ativos negociado hoje no mercado precificam o pior cenário possível para essas economias”, comenta.

No caso da Europa, Mehanna destacou que uma grande preocupação é a inflação. Como os EUA, as economias da região não estão acostumadas com os cenários inflacionários como o Brasil, por exemplo.

Mesmo assim, o especialista indica manter posição em ativos europeus.

“A gente tem reduzido posição americana, mantido um pouco posições europeias e estamos com mais apetite para emergentes. É uma estratégia mais ousada, onde você tem uma carteira mais volátil”, explica.

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Editora-assistente
Formada em Jornalismo pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. Atua como editora-assistente do Money Times há pouco mais de três anos cobrindo ações, finanças e investimentos. Antes do Money Times, era colaboradora na revista de Arquitetura, Urbanismo, Construção e Design de interiores Casa & Mercado.
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Formada em Jornalismo pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. Atua como editora-assistente do Money Times há pouco mais de três anos cobrindo ações, finanças e investimentos. Antes do Money Times, era colaboradora na revista de Arquitetura, Urbanismo, Construção e Design de interiores Casa & Mercado.
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