Entre Altas e Baixas

Ações não são para casar: Veja 4 motivos para vender um papel e partir para outro

28 jun 2023, 13:08 - atualizado em 28 jun 2023, 13:08

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Ações e reações: “Até o maior investidor de todos os tempos [Warren Buffett] erra o timing de venda de ativos que possui em carteira”, diz Fernando Ferrer (Reuters)
Um dos maiores dilemas do investidor de ações não é o momento de montar uma posição em renda variável, e sim saber a hora exata de vender uma ação, realizando um prejuízo ou embolsando um lucro. Sempre há uma dúvida, uma incerteza, um receio de perder uma oportunidade. Vendo o que caiu e realizo o prejuízo? Ou vendo o que subiu para aumentar a posição nos papéis perdedores?

Interessante dizer que essa indecisão ao vender uma ação não é algo exclusivo do investidor pessoa física. Os maiores profissionais do ramo também passam por isso.

Veja o que aconteceu com o megainvestidor Warren Buffett em 2020. Depois do primeiro choque nos mercados em função da pandemia do coronavírus e do fechamento das economias, o maior investidor de todos os tempos decidiu, por meio de sua holding, a Berkshire Hathaway, investir de US$ 7 a US$ 8 bilhões para comprar participações societárias relevantes em quatro companhias áreas americanas: American, Delta, United e Southwest Airlines.

Na sequência, com o aprofundamento da crise e forte queda desses papéis, Buffett anunciou na reunião anual da Berkshire, que ocorreu em abril de 2020, que já havia se desfeito da totalidade da sua posição nas companhias.

Ocorre que, com o salvamento do Fed e os fortes estímulos dados para as economias, os papéis recuperaram preço rapidamente. Em pouco mais de um ano, a Delta apresentou uma valorização de 168%, enquanto a American e a United de 163% e 199%, respectivamente.

Tendo isso em mente, fica claro que até o maior investidor de todos os tempos erra o timing de venda de ativos que possui em carteira e conosco certamente não será diferente. Contudo, se seguirmos à risca uma estratégia bem definida, as chances de erro serão reduzidas.

4 Gatilhos para vender suas ações

Abaixo separei quatro gatilhos que devem ser acompanhados com atenção pelo investidor e, caso algum deles aconteça com um ativo que possua em carteira, poderá ter chegado a hora de realizar a venda:

1. Ativo sobrevalorizado: um bom ativo é diferente de um bom investimento. O investidor pode ter bastante admiração por determinada empresa, mas se ela estiver sobrevalorizada, a chance de se ganhar dinheiro com esse papel fica bastante reduzida. Através de diversas métricas de valuation, como análises relativas e absolutas de múltiplos e o famoso fluxo de caixa descontado, é possível avaliar se o ativo está sobrevalorizado em relação a ele mesmo ou em relação aos seus pares.

No exemplo hipotético abaixo, em que é analisado o múltiplo preço sobre lucro de um ativo nos últimos cinco anos, é possível perceber que a média desse indicador é ao redor de 11 vezes e, portanto, patamares muito acima disso, como 15 vezes preço sobre lucro, se configuram patamares de sobrevalorização do ativo e que a sugestão seria de venda para alocação de recursos em outro papel.

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2. Comportamento antiético da empresa: como diz o ditado popular, “são necessário 10 anos para construir uma reputação e apenas 5 minutos para destruí-la”. Comportamentos duvidosos, antiéticos ou em desacordo com as políticas de compliance são um sinal vermelho. Se a governança corporativa da empresa estiver em xeque, é hora de vender. Diferentemente do item 1, que é quantitativo, a análise aqui é muito mais qualitativa. É difícil mensurar o potencial de dano que um comportamento antiético pode causar na empresa. Contudo, você não vai querer ser sócio de um grupo que você não confia ou que tem comportamentos inadequados, não é mesmo?

Um caso recente que chamou a minha atenção foi que a Rússia passou a exigir que as empresas ocidentais que estejam de saída do país terão que fazer uma espécie de “doação” de 10% do valor dos ativos para o país. Diante desse cenário de arresto de propriedade, tenho dificuldade de enxergar que investidores ocidentais irão voltar a alocar seus recursos no país em um futuro próximo. Além dos problemas da guerra com a Ucrânia, esse tipo de atitude deveria afastar cada vez mais esses investidores.

3. Mudança nos fundamentos: a mudança de fundamentos pode estar relacionada a fatores do setor, da companhia, dos executivos que comandam a empresa ou até com fatores macroeconômicos. Se você perceber que houve uma mudança estrutural ou circunstancial de fundamento, pode ser uma boa hora para realizar a venda do ativo.

Veja o caso do Fies no segmento educacional. Depois de um grande impulso dado pelo governo na década passada para estimular o aumento de estudantes de graduação através do Fies, duas companhias listadas em Bolsa (Cogna e Yduqs) apresentaram um excelente retorno para os acionistas, se tornando verdadeiros colossos da educação. Contudo, o cenário mudou radicalmente com a retirada dos estímulos e demais problemas enfrentados pelo setor. O resumo da ópera é que Yduqs (YDUQ3) chegou a cair -86% das máximas, enquanto Cogna (COGN3) -91%.

4. Outro ativo com melhor risco x retorno: esse último motivo não necessariamente tem a ver com um momento negativo da empresa ou do setor que ela está inserida. Dado que o bolso do investidor é limitado, caso haja um outro papel em melhor fase e com mais potencial de retorno, talvez seja a hora de se desfazer do primeiro para posicionar a sua carteira no segundo.

Por exemplo: suponha que você esteja investindo em uma companhia que possui fundamentos interessantes, boas avenidas de crescimento, um controlador confiável e esteja negociando a múltiplos caros. Ao estudar o mercado, você percebe que outra empresa do mesmo setor e com características semelhantes esteja negociando circunstancialmente a múltiplos mais baratos por conta de ruídos que saíram na mídia.

Nesse caso, talvez seja o momento de você realizar a troca de posição. Veja que a troca não necessariamente implica que o primeiro ativo perdeu potencial de retorno, mas sim que o novo ativo que está sendo adicionado à carteira possui uma combinação de risco e retorno melhor.

Esqueça a ideia do “buy and forget” (compre e esqueça). Você deve monitorar a sua carteira regularmente (para mim, quinzenalmente ou mensalmente já é suficiente), ajustando sempre as posições, de modo que elas fiquem equilibradas entre si e em linha com suas convicções sobre cada uma das teses de investimento. Não se esqueça: se algum desses quatro motivos aparecer, avalie as opções e faça a troca de ativos.

Graduado em Engenharia Mecânica pela UFRJ e com MBA em Finanças pela mesma instituição, Fernando Ferrer atua na Empiricus como analista de investimentos há 5 anos. Atualmente, é responsável pela série best-seller As Melhores Ações da Bolsa e faz parte da equipe que comanda o Carteira Empiricus, o portfólio multimercado que é o carro-chefe da casa. Colunista da newsletter Day One, Fernando passará a integrar o time de colunistas do Money Times com sua série quinzenal Entre altas e baixas.
Graduado em Engenharia Mecânica pela UFRJ e com MBA em Finanças pela mesma instituição, Fernando Ferrer atua na Empiricus como analista de investimentos há 5 anos. Atualmente, é responsável pela série best-seller As Melhores Ações da Bolsa e faz parte da equipe que comanda o Carteira Empiricus, o portfólio multimercado que é o carro-chefe da casa. Colunista da newsletter Day One, Fernando passará a integrar o time de colunistas do Money Times com sua série quinzenal Entre altas e baixas.
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