Água na cerveja: Alta dos preços e queda da produção aumentam pessimismo quanto a ações da Ambev (ABEV3)

A divulgação nesta quarta-feira (3) de dados da indústria brasileira acendeu um alerta para o setor de cervejas – segundo o IBGE, em julho, a produção industrial de bebidas, dos quais 90% é cerveja, caiu 15% na base anual e 5% frente ao mês anterior. A publicação fez, ontem, as ações da Ambev (ABEV3) caírem cerca de 3%.
Em relatório, o time do BTG Pactual relembra que o primeiro semestre de 2025 foi marcado pelo aumento dos preços das cervejas tanto da Ambev quanto da Heineken, os dois maiores players do mercado brasileiro.
“Não podemos ignorar o quanto nos incomodou a estratégia de preços do setor, liderada pela Ambev. A decisão de aumentar preços no segundo trimestre (a primeira vez nesse intervalo desde 2012), seguida pela Heineken em julho, nos pareceu um timing estranho”, comenta o time, liderado por Thiago Duarte.
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Alta dos preços derruba volumes
Pelo fato de o segundo trimestre ser, usualmente, mais frio, as companhias normalmente evitam repassar preços no período, já que as vendas tendem a cair naturalmente. O aumento, então, impulsionou ainda mais um efeito já visto pela sazonalidade.
“O clima em julho não foi particularmente favorável. Ainda assim, uma contração ainda mais acentuada surpreendeu, e acreditamos que há mais por trás disso do que apenas temperaturas frias”, explica o Pactual.
Além dos preços e do frio, o banco também menciona que a desaceleração da economia brasileira começa a dar sinais e a impactar as vendas.
Tudo isso deve pressionar ainda mais a Ambev quanto a sua estratégia de preços. Com Heineken e Petrópolis perseguindo a empresa em crescimento de volumes, o BTG enxerga uma possível pressão de margens à frente pelo lado competitivo, combinada com maiores gastos com matéria-prima e combinada com o já visto recuo de volumes.
Ambev deve enfrentar dificuldade com preços
O Bradesco BBI e o Safra, também em relatório, foram na mesma linha. Eles indicam que, apesar das companhias do setores terem se recuperado da alta da inflação, o espaço para novos aumentos deve ser “significativamente limitado”.
No âmbito da competitividade, o BBI lembra que a Heineken vem dando sinais de comprometimento na competição pelo mercado brasileiro, com a inauguração, por exemplo, da nova cervejaria de Passos.
“Além de um cenário desafiador para a indústria como um todo, ainda vemos um ambiente altamente competitivo adicionando pressão sobre a Ambev”, comenta o time do Safra.
O Goldman Sachs, por fim, menciona que a cervejaria também enfrenta uma tendência de mudança de padrões de consumo, enxergando o recuo como estrutural. Pesquisas vêm mostrando que, cada vez mais, as gerações mais novas estão adotando estilos de vida mais saudáveis, evitando o consumo de álcool.
O BTG Pactual está neutro para a Ambev, assim como o Bradesco BBI e o Safra, com preços-alvos em R$ 15, R$ 13 e R$ 14,50, respectivamente. O Safra menciona que, apesar das tendências negativas, o valuation parecido com de pares e dividendos devem manter a ação atrativa.
O Goldman Sachs tem recomendação de venda, com alvo em R$ 11,70.