Alerta em Wall Street: Entenda as suspeitas de fraudes que reacenderam preocupação com crédito nos EUA

O cenário de crédito nos Estados Unidos acendeu uma “luz amarela” em Wall Street na última quinta-feira (16): o VIX disparou mais de 20% — retomando o nível de maio deste ano —, enquanto uma forte liquidação das ações dos bancos regionais provocou perdas superiores a US$ 100 bilhões nos mercados acionários norte-americanos.
O gatilho por trás da forte aversão ao risco foi a revelação quase simultânea de supostas fraudes em empréstimos ligados a fundos imobiliários problemáticos, que reacenderam preocupações sobre a saúde dos bancos regionais nos EUA.
Na noite da última quarta-feira (15), o banco regional Zions Bancorp registrou uma baixa contábil de US$ 50 milhões para cobrir dois empréstimos de sua subsidiária California Bank & Trust.
De acordo com o documento enviado Securities and Exchange Commission (SEC) — equivalente à Comissão de Valores Mobiliários (CVM) brasileira —, o banco identificou “possíveis falsas declarações e descumprimentos contratuais [defaults]” dos tomadores dos empréstimos.
Na quinta-feira (16) foi a vez do Western Alliance, outro banco regional, informar que entrou com uma ação judicial, em agosto, contra um dos seus tomadores de crédito, o Cantor Group, alegando que a empresa cometeu fraude relacionada a garantias fiduciárias.
Nos dois casos, os supostos responsáveis seriam os mesmos: fundos de investimento ligados a Andrew Stupin e Gerald Marcil.
“Esse cenário ocorre em um momento em que os spreads de crédito recuaram de forma acentuada desde os picos de 2022”, afirma o analista da Ajax Asset, Rafael Passos.
Segundo ele, a compressão de prêmios foi fruto da confiança dos investidores com o cenário de “soft landing”, menor percepção de risco sistêmico e a busca por rendimentos “yield” em um ambiente de taxas de juros ainda elevadas.
“No curto prazo, o prêmio de risco está em níveis historicamente baixos, próximos aos níveis pré-pandemia”, destaca Passos.
Já o economista-chefe da Ativa Investimentos, Étore Sanchez, avalia que ainda não há sinais de problemas sistêmicos de crédito no setor bancário, por enquanto.
“O que emergiu até agora parece concentrado em casos idiossincráticos, enquanto a qualidade do crédito, de modo geral, está melhor do que se temia ao olhar para os resultados divulgados pelos bancos nos últimos dias”, afirmou em nota a clientes.
O mercado agora aguarda a divulgação dos resultados de outros bancos, como American Express, Fifth Third, Huntington, Regions Financial, SLB, State Street e Truist, em busca de novos sinais sobre obre a saúde do crédito ao consumidor, a qualidade dos ativos bancários e o apetite por risco do setor. “Esses são indicadores relevantes para avaliar se os temores recentes se limitam a casos pontuais ou se podem ganhar dimensão mais ampla”, disse Matheus Spiess, analista da Empiricus Research.
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Luz já estava acessa em Wall Street
Os anúncios dos Zions e do Western Alliance consolidaram o temor dos mercados em relação à saúde do mercado de crédito, em meio a outras perdas recentes com empréstimos.
No início da semana, o CEO do JP Morgan, Jamie Dimon, afirmou que as falências no mercado de crédito para automóveis eram um sinal de que os padrões de empréstimos ficaram “muito frouxos” na última década.
“Quando você vê uma barata, provavelmente há mais”, disse Dimon durante a teleconferência de resultados do banco. “Todos devem estar avisados sobre isso.”
O alerta de Dimon têm motivos: no final de setembro, duas companhias do setor automotivo, First Brands e Tricolor Holdings, entraram com pedidos de recuperação judicial, o Chapter 11.
Segundo ele, “esses são os primeiros sinais de que pode haver algum excesso por aí por causa disso”. “Se tivermos uma recessão, veremos muito mais problemas de crédito”, acrescentou.
No caso da First Brands, a empresa estimou, em seu plano de reestruturação, uma dívida entre US$ 10 bilhões e US$ 50 bilhões e ativos entre US$ 1 bilhão e US$ 10 bilhões, tornando a empresa objeto de investigação do Departamento de Justiça (DoJ) dos Estados Unidos.
Segundo o jornal Financial Times, o valor real da dívida da empresa é de aproximadamente US$ 12 bilhões.
Os bancos Jefferies, UBS e JP Morgan estão entre os credores — e afetados — por pelo menos uma das empresas.