Economia

Alívio no prato: Preço dos alimentos freia inflação, mas economista afirma que movimento ‘não é estrutural’

12 ago 2025, 15:53 - atualizado em 12 ago 2025, 15:53
IPCA - inflação de alimentos e bebidas
Grupo de alimentos e bebidas tem deflação de 0,27% em julho. (Imagem: Piman Khrutmuang's Images)

A deflação mais forte que esperado do grupo de alimentos e bebidas corroborou com a surpresa positiva no Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de julho.

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A inflação subiu 0,26% no mês, ante expectativa de 0,35% do mercado. O grupo de alimentação e bebidas — que tem o maior peso no índice, de 21,8% — recuou pela segunda leitura consecutiva, com variações de -0,18% em junho e -0,27% em julho.

O grupo apresentou uma dicotomia no mês passado: os alimentos no domicílio registraram queda de -0,69%, mais que compensando a alta de 0,87% da alimentação fora do domicílio.

Segundo a economista-chefe da Lifetime Gestora de Recursos, Marcela Kawauti, os preços dos alimentos em domicílio tiveram um impacto benigno de desaceleração dos custos de produtos importados e commodities cotadas em câmbio.

No subgrupo, os produtos in natura foram destaque. Entre eles, estão a batata-inglesa, com queda de -20,27%, a cebola, com -13,26%, e as frutas — como manga, com -11,08%, e maracujá, com  -17,77%.

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“Tudo que depende de câmbio está vindo mais para baixo, principalmente porque temos a parte de commodities que acaba ajudando os números de inflação a virem um pouco mais suaves”, diz Kawauti em entrevista ao Money Times.

No acumulado em 12 meses, no entanto, a alimentação no domicílio avançou, subindo de 6,23% em junho para 7,11% em julho. “Ainda que o grupo esteja desacelerando na comparação mensal, muito em função da evolução recente do câmbio, a queda é menor que a do ano passado, quando os preços se recuperavam das altas registradas por eventos climáticos”.

Já entre os alimentos fora do domicílio, há uma pressão relevante dos preços de serviços, impulsionados pelo mercado de trabalho aquecido. O lanche, que subiu 1,90% em julho, foi o destaque desse subgrupo.

Essa dicotomia, segundo a economista, é bem representativa do que acontece com o IPCA. “A parte de serviços continua muito pressionada”, diz.

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Ainda assim, ela destaca que os preços de alimentação estão “muito mais controlados” do que anteriormente.

A inflação desse grupo, inclusive, influencia os pleitos por aumento salarial, já que o maior custo do brasileiro é com alimentação. “Quando esse índice desacelera, é uma boa notícia para o Banco Central, porque o potencial da alimentação reverberar para a economia como uma bola de neve de inflação também diminui.”

Além disso, Kawauti diz que a desaceleração ajuda a conter a inflação inercial.

‘Não é uma tendência’

A economista do Lifetime afirma que a recente desaceleração nos preços da alimentação não configura uma tendência estrutural. O movimento foi influenciado tanto por fatores sazonais quanto pela defasagem no repasse do câmbio.

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Ela explica que, se fosse resultado de uma inovação tecnológica disruptiva que alterasse a produção, poderia ser considerada uma tendência. “Não dá para esperar que o preço dos alimentos vai ficar nessa zona de queda por muito tempo.”

Kawauti ressalta que a desaceleração deve durar até o final do ano, devido ao repasse gradual do câmbio e ao efeito sazonal típico do meio do ano, quando as condições climáticas, como menor volume de chuvas, favorecem a oferta de alimentos.

Apesar de temporário, o efeito é considerado benéfico porque tende a reverberar positivamente na economia.

Os riscos para a inflação de alimentos

Apesar da recente dinâmica positiva da inflação de alimentos, a economista aponta alguns riscos que podem pressioná-la nos próximos meses.

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Uma das preocupações é a temporada de clima mais seco a partir de agosto. Embora as previsões meteorológicas não indiquem seca ou queimadas severas como em 2024, a possibilidade de surpresas climáticas não pode ser descartada.

Outro fator de risco está relacionado ao câmbio. O dólar tem se desvalorizado globalmente, em parte devido à política tarifária dos Estados Unidos (EUA), o que ajuda a conter a inflação. No entanto, uma eventual reversão dessa tendência, com valorização da moeda, poderia pressionar os preços.

Além disso, há preocupação com a Rússia, grande produtora de fertilizantes. Sanções comerciais dos EUA a países que mantêm relações com os russos podem influenciar o fornecimento desses insumos, afetando a produtividade agrícola e os preços dos alimentos. Embora não seja o cenário base, o risco existe.

Kawauti afirma que os produtos brasileiros taxados em 50% pelo presidente norte-americano, Donald Trump, podem enfrentar dificuldades para serem escoados no mercado internacional. Assim, podem ser redirecionados ao mercado interno, causando um excesso de oferta e queda de preços.

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Esse efeito, no entanto, não deve se prolongar, afirma a especialista. “Não é uma coisa permanente, porque o que estava na boca de ser exportado, você redireciona. Mas nas próximas safras, já é possível ajustar.”

Copom precisa de mais para cortar a Selic

Embora a queda na inflação dos alimentos ajude o trabalho do Comitê de Política Monetária (Copom) de conter a alta dos preços, é necessário observar uma redução na inflação de serviços. “Essa ainda não aconteceu”, afirma a economista da Lifetime.

A gestora de recursos mantém, portanto, a expectativa de manutenção da Selic em patamar elevado por tempo prolongado, uma vez que existem riscos inflacionários importantes — como expectativas acima da meta no horizonte relevante, pressão de demanda e incertezas fiscais.

A queda na taxa de juros deve acontecer quando essas pressões se dissiparem de maneira mais concreta, diz Kawauti.

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Editora-assistente
Editora-assistente no Money Times e graduada em Jornalismo pela Unesp - Universidade Estadual Paulista. Atua na área de macroeconomia, finanças e investimentos desde 2021.
giovana.leal@moneytimes.com.br
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Editora-assistente no Money Times e graduada em Jornalismo pela Unesp - Universidade Estadual Paulista. Atua na área de macroeconomia, finanças e investimentos desde 2021.
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