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Entrevista: descubra por que a Alsol vai muito bem “sem IPO no radar”

02 mar 2021, 7:45 - atualizado em 03 mar 2021, 15:28
Alsol Energias Renováveis
A Alsol realizou a primeira instalação fotovoltaica do Brasil (Imagem: Divulgação/Alsol Energias Renováveis)

Em um mundo em transformação rumo à economia verde, a Alsol Energias Renováveis é pioneira em sistemas de fazendas solares e armazenamento de energia elétrica no Brasil, e trabalha para aumentar ainda mais sua envergadura em 2021.

Com investimento na ordem de R$ 173 milhões, a Alsol construirá 15 usinas solares fotovoltaicas neste ano, sendo 14 em Minas Gerais e uma no Rio de Janeiro. As plantas terão capacidade de geração de 46 MWp, e somadas as já existentes, a companhia terá 73 MWp de capacidade instalada, energia solar suficiente para abastecer 70 mil residências.

No Brasil, a hidrelétrica continua como a principal matriz energética, responsável por 59,8% (109.228 MWp) da produção nacional, conforme dados da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), compilados pela Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (ABSOLAR).

Atualmente, a fonte solar responde por apenas 1,7% (3.098 MWp) da energia brasileira, pouco à frente da energia nuclear, que gera 1,1% (1.190 MWp), e atrás da produção obtida pelo carvão mineral com 2% (3.582 MWp), segundo a entidade.

Em 2019, o Grupo Energisa (ENGI3; ENGI4; ENGI11) entrou no negócio e adquiriu 87% do capital da companhia. Desde então, a Alsol assumiu a dianteira dentro do grupo como “Energia 4.0“, conceito a ser esmiuçado no decorrer da entrevista ao Money Times com Gustavo Buiatti, fundador e CTO (Diretor Técnico) da empresa.

Money Times – Como se deu o contexto de criação da Alsol em 2012, passando pela chegada da Energisa ao negócio? E o que significa o conceito Energia 4.0

Gustavo Buiatti – Olha, em 2011 eu decidi, avaliando a situação do mercado e olhando para o Brasil — afinal nós temos um potencial sonar muito grande, apesar de sermos predominante hídricos — empreender com a criação de uma empresa que visava trabalhar com sistema fotovoltaico. Naquela época, eu já estava há nove anos morando e trabalhando na Europa.

Eu sou natural de Uberlândia (MG), e após ter concluído, em 2002, a graduação em Engenharia Elétrica pela Universidade Federal de Uberlândia, cursei no ano seguinte doutorado na área de semicondutores, ou seja, o material das células fotovoltaicas no Politecnico di Torino, na Itália. Na sequência, tive passagens pelas empresas Alstom Transport e Mitsubishi, em que pude desenvolver novos produtos no âmbito de aplicações fotovoltaicas.

De volta ao Brasil, em abril de 2012 aconteceu a regulamentação da geração distribuída no País, e já tínhamos uma projeto em andamento em Uberlândia, e com isso nasce a Alsol, como a primeira instalação fotovoltaica do Brasil, regulamentada pela normativa 482 da Aneel.

A instalação tinha 6,58 MWp, que seguem em funcionamento na minha cidade natal. Nosso primeiro investidor foi o grupo Algar em 2014. E no ano de 2019, chega ao negócio o Grupo Energisa, assumindo o controle da Alsol.

Gustavo Buiatti
A onda verde de investimentos também deve chegar com força ao Brasil, avalia fundador da Alsol (Imagem: Divulgação/Alsol Energias Renováveis)

A Energia 4.0 é um conceito mundial, que entendemos como essencial nesse momento de transição energética, já implementado dentro da Alsol. Poxa, são cinco pilares muito fáceis de compreender: 1) apenas lidamos com energias renováveis — fonte solar, biogás (a partir de dejetos de animais), biomassa (processo 100% orgânico com base na soja, macauba, biodiesel, etc.), combinado com energia eólica e hídrica; 2) geração descentralizada; 3) sistema de armazenamento; 4) digitalização, já que cada vez mais o consumidor quer entender como ele gera, consome e economiza com a energia limpa; e 5) eletrificação dos transportes.

MT – Como a Alsol deve se beneficiar da onda verde de investimentos desencadeada pela vitória de Joe Biden, já que o democrata é conhecido defensor de fontes renováveis?

GB – Na verdade, a chegada do presidente Joe Biden à presidência dos EUA só vem endossar um movimento já existente de investimentos verde. Se observarmos as grandes empresas de tecnologia, como, Facebook (FB) e Apple (AAPL), elas já haviam levantado tal bandeira do ESG (Ambiental, Social e Governança Corporativa, na sigla em inglês).

A questão é garantir que toda a energia usada tanto nos data centers quanto nas demais facilities da empresa sejam oriundas de fontes limpas. Além dos EUA, a onda verde começa a se intensificar no nosso País, por vários motivos.

A bandeira da sustentabilidade começa a ganhar peso, o consumidor final passa a valorar isso, somada a questão econômica, à medida que investidores e empresas começam a lucrar a partir de fontes limpas de energia.

Inclusive, a própria Alsol dispõe de um modelo interessante de negócios, a partir de um investimento de R$ 100 milhões em plantas solares próprias ao longo do ano passado, que dá acesso à energia limpa, com desconto, a micro e pequenas empresas no Estado de Minas Gerais.

MT – Em 2020, a Alsol realizou uma parceria com o Banco Inter, que facilitou o acesso de clientes residenciais à contratação de energia de fazendas solares. A parceria com o Inter tem escala para outros Estados brasileiros?

GB – Foi um modelo bastante inovador e diferenciado, a maioria das empresas apenas foca em clientes de natureza jurídica, e a Alsol, além de suprir empresas, também trouxe junto com o Banco Inter (BIDI3; BIDI4; BIDI11) o mercado de aluguel de cotas solares mais próximo ao consumidor físico.

Imagina só: se você mora em apartamento e não tem espaço ocioso para instalações, mas deseja adquirir energia solar e economizar na conta luz. Logo, enxergamos uma grande oportunidade de mercado. Junto com o Inter, desenvolvemos toda a plataforma digital de acesso ao serviço, e hoje já contamos com centenas de clientes do banco que fizeram a adesão.

E portanto, isso leva a Alsol direcionar também parte dos investimentos previstos em 2021 para atender esse nicho. Neste ano, construiremos uma usina solar no Rio de Janeiro, então está previsto que o serviço também chegue aos consumidores residenciais cariocas em breve.

Alsol Energias Renováveis
A Alsol está de olho nos consumidores residenciais físicos, e em parceria com o Banco Inter oferece um modelo bastante inovador (Imagem: Divulgação/Alsol Energias Renováveis)

MT – Como se dará a expansão da companhia para outros Estados? Qual seria o limitador?

GB – Hoje o que drive [direciona] os nossos investimentos são três pontos fundamentais. Primero, a gente olha para o potencial solar da região pretendida. Felizmente, o Brasil é bastante ensolarado como um todo, mas há locais mais favoráveis do que outros.

Minas Gerais mesmo é um Estado bastante iluminado. Segundo, consideramos os valores das tarifas elétricas. E o terceiro, e talvez mais importante pilar a ser levado em conta na expansão, esbarra na política pública.

O que faz com que Minas Gerais seja líder no País em geração distribuída é a isenção de ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços). Isso também explica o nosso movimento rumo ao Rio de Janeiro.

MT – No ano passado, uma onda de IPOs tomou conta do mercado, inúmeras empresas com planos de se lançarem na Bolsa brasileira. Logo, a Alsol tem intenção de realizar IPO?

GB – Estamos bastante em linha com o Grupo Energisa, tendo todos os investimentos necessários, e atuando como braço de Energia 4.o. A Alsol passa agora por um momento de consolidação, como um dos principais players do País. Portanto, não enxergamos nos próximos anos nenhum movimento nesse sentido.

Repórter
Repórter de renda fixa do Money Times e Editor de agronegócio do Agro Times desde 2019. Antes foi Apurador de notícias e Pauteiro na Rede TV! Formado em Jornalismo pela Universidade Paulista (UNIP) e em English for Journalism pela University of Pennsylvania. Motivado por novos desafios e notícias que gerem valor para todos.
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