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Ambipar (AMBP3) volta a desabar e chega a cair 65%; entenda os últimos acontecimentos

02 out 2025, 13:41 - atualizado em 02 out 2025, 16:50
No radar do mercado, está o caixa da companhia (Imagem: Ambipar/Divulgação)

A Ambipar (AMBP3) tem mais uma sessão de forte queda em meio a um pedido de proteção contra credores que colocou a companhia em uma crise de confiança no mercado.

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Por volta das 15h35, o papel tinha queda de 65%, a R$ 2,49. Desde segunda, o papel já perdeu mais de 70% no valor.



Com isso, a ação, uma das grandes estrelas em 2024, quando disparou mais de 1000%, voltou ao patamar de um ano atrás.

Cadê o caixa?

No radar, está o caixa da companhia. De acordo com uma matéria do Broadcast, do Estado de S. Paulo, alguns credores da Ambipar têm buscado identificar onde ele estaria.

Fontes afirmam à agência que a busca pelo caixa da Ambipar vem desde a semana passada e que há indícios de que apenas US$ 80 milhões (pouco mais de R$ 400 milhões) teriam sido encontrados.

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Um analista que acompanha a companhia, ouvido pelo Broadcast em condição de anonimato, destacou a incoerência da Ambipar ao alegar falta de caixa para honrar compromissos diante de bilhões que foram relatados no demonstrativo.

O ponto que já chamava a atenção no relatório da S&P. O documento destaca que a Ambipar reportou uma dívida de curto prazo de R$ 616 milhões, o que representa apenas cerca de 5% da dívida bruta.

Ao mesmo tempo, a companhia possuía uma “posição de caixa considerável de R$ 4,7 bilhões” no fim do segundo trimestre.

Além da S&P, a agência de risco Fitch também rebaixou a nota de risco a Ambipar, mas foi menos drástica. A agência rebaixou o rating da companhia de ‘BB-‘ para ‘C’, um nível acima do calote.

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De acordo com um gestor que conversou com o Money Times, se for confirmado que o caixa da Ambipar de R$ 4 bilhões virou para R$ 600 milhões ou, no máximo, R$ 1,8 bilhão, a situação pode acionar covenants e abrir caminho para uma disputa jurídica de grandes proporções — com risco de culminar em recuperação judicial.

Uma outra opção seria uma recuperação extrajudicial. “Mais rápida de ser feita”.

Venda de ativos é caminho?

Questionado se uma possível venda de ativos poderia ser uma solução, o gestor diz que o melhor seria deixá-los como garantia.

“Deixar que o assessor dos credores trabalhe essa negociação junto. Vender nesse momento vai baixar demais valuation. Mercado sabe que a empresa precisa de dinheiro”.

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Ao fim do segundo trimestre, o endividamento líquido da companhia somava quase R$ 6 bilhões, com projeção de dívida líquida/Ebitda de 3,2 vezes para 2025, segundo cálculos do UBS BB.

A alavancagem sempre foi um risco para Ambipar. Em entrevista ao Money Times no ano passado, o então CFO, João Arruda — que deixou o cargo recentemente — afirmava que a companhia buscava reduzir dívidas após comprar mais de 70 empresas desde o IPO em 2020.

Foco é evitar a recuperação judicial

Já no começo do semana, a companhia contratou a BR Partners (BRBI11) para assessorá-la em sua crise financeira. A informação foi publicada pelo Pipeline e confirmada pelo Money Times.

Desde a semana passada, a companhia vive dias de incerteza, após a debandada de diretores e um pedido de proteção judicial, considerado uma espécie de pré-recuperação judicial.

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Segundo uma fonte ouvida, a expectativa, porém, é que a empresa consiga negociar de forma amigável com os credores, evitando uma RJ.

Dividas em cascata: O estopim da crise

No último dia 22, os bonds da Ambipar com vencimento em 2031 desabaram no mercado internacional pouco antes da empresa ter anunciado, via fato relevante, a sua sétima emissão de debêntures, no valor de R$ 3 bilhões.

Do outro lado do balcão, o Deutsche Bank não assistiu a tudo isso parado. A instituição exigiu um aditivo de US$ 35 milhões, provocando um efeito em cadeia que poderia acelerar obrigações financeiras em até R$ 10 bilhões.

Segundo a revista Veja, o contrato com o banco alemão previa a cobrança do aditivo em caso de desvalorização dos bonds no mercado internacional.

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Sem alternativas, a Ambipar recorreu à proteção judicial, alegando que o banco exige garantias muito além dos termos contratuais.

Ideia boa, mas…

Na visão de um gestor, a Ambipar foi construída sobre uma ideia considerada promissora — de ser uma empresa global com forte apelo ESG.

Porém, a execução esbarrou em fatores como múltiplas aquisições, alto endividamento e baixa capacidade de geração de caixa para sustentar a estrutura.

“Mercado abraçou a tese pelo ESG e crescimento potencial, porém abandonou depois de entender todos estes riscos e também os problemas de governança durante a construção da empresa. Os controladores são centralizadores, arrojados e com pouca empatia pelo mercado e investidores”.

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Para ele, três pilares da tese de investimento enfraqueceram ao mesmo tempo: governança, operação e financeiro.

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Editor-assistente
Formado pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, cobre mercados desde 2018. Ficou entre os jornalistas +Admirados da Imprensa de Economia e Finanças das edições de 2022, 2023 e 2024. É também setorista de setor financeiro. Antes, atuou na assessoria de imprensa do Ministério Público do Trabalho e como repórter do portal Suno Notícias, da Suno Research.
renan.dantas@moneytimes.com.br
Formado pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, cobre mercados desde 2018. Ficou entre os jornalistas +Admirados da Imprensa de Economia e Finanças das edições de 2022, 2023 e 2024. É também setorista de setor financeiro. Antes, atuou na assessoria de imprensa do Ministério Público do Trabalho e como repórter do portal Suno Notícias, da Suno Research.