Coluna do Fernando Luiz

Americanas (AMER3): Como investir diante de uma crise de crédito?

16 mar 2023, 14:17 - atualizado em 16 mar 2023, 14:19
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A alocação de parte dos portfólios em dívida privada, até então, era vista por muitos como rentabilidade “líquida e certa” (Imagem: REUTERS/Bruno Domingos)

Evidenciada no caso Americanas (AMER3), a crise de crédito que o Brasil vive atualmente impacta todo o setor varejista, começa a contaminar outros segmentos e deverá ter impactos significativos no mercado de dívidas do país.

O cenário levou a uma onda de resgates que pode, segundo estimativas do mercado, ter atingido até 15% da carteira dos fundos locais investida em crédito privado.

A alocação de parte dos portfólios em dívida privada, até então, era vista por muitos como rentabilidade “líquida e certa”.

Os riscos foram subestimados pelos investidores e, mesmo os avessos à probabilidade de perda, acabaram sendo seduzidos pela possibilidade de ganhar um pouco acima do CDI sem saber onde os recursos estavam alocados.

A elevada taxa de juros real (juros nominais descontados a inflação), aliada a fatores como contração da renda, elevado desemprego e endividamento das famílias, tem pressionado o caixa das empresas, principalmente do segmento de varejo que é intenso em capital de giro.

A captação se tornou mais cara para estas empresas que precisam fazer elevados investimentos em estoque, mas que, ao mesmo tempo, não conseguem repassar o aumento de custo ao já famigerado consumidor.

Com margens em queda, não é de se estranhar, que tantas exibam problemas para honrar seus compromissos.

Pelo lado dos concessores de crédito, vale a pena lembrar que um dos importantes componentes do spread bancário (diferença entre o custo de captação e o valor dos juros repassados aos clientes) é a inadimplência. Desta forma, o cenário atual impacta a concessão de duas formas: alta dos custos de contratação tanto pelas pessoas físicas quanto empresas e contração da oferta de crédito.

Dados do relatório mensal “Indicador de Custo do Crédito (ICC)”, divulgados pelo Banco Central no fim de fevereiro, demonstram que o custo médio de todo o crédito do Sistema Financeiro Nacional, atingiu 21,9% anuais em janeiro, com alta de 0,4 pontos percentuais na comparação mensal e de 3,0 p.p. na anual.

Já o saldo do crédito contraiu para R$ 5,3 trilhões em janeiro, uma redução de 0,3% no mês. O volume de crédito para as empresas caiu em proporção maior e diminuiu 2,4% em relação ao mês de dezembro, totalizando R$ 2,1 trilhões.

Em relatório, a Fitch Ratings estimou que as empresas do Brasil (ratings soberanos ‘BB–’/perspectiva estável) enfrentarão desafios este ano, diante das perspectivas econômicas fracas, taxas de inflação e de juros elevadas e alto endividamento das famílias.

A agência destacou que a abundante liquidez no mercado de dívida se restringiu após o pedido de recuperação judicial da Americanas S.A., seguido por dificuldades financeiras de outros emissores.

O momento atual requer mais conservadorismo dos investidores. Muitos aportaram recursos desavisadamente em fundos que investiam em crédito privado sem fazer o dever de casa, ou seja, se informar e entender os riscos que estavam tomando em carteira.

A equação é simples: a rentabilidade do dinheiro é dada pela taxa de juros paga pela empresa que pega o empréstimo. Assim, caso venha ocorrer o inadimplemento a perda pode ser total. Este foi o caso da Americanas, que pegou a muitos de surpresa e gerou prejuízos em cadeia.

Recursos com finalidade específica, especialmente os de reserva de emergência ou aqueles que precisam ficar parados por algum tempo, não podem correr este tipo de risco.

Eu mesmo vivenciei este tipo de situação quando, há cerca de 10 anos vendi uma empresa em conjunto com meu sócio.

Na época, precisávamos de uma opção de investimento baixo risco efetivo, volatilidade de retorno reduzida, liquidez quase imediata e que também nos desse um retorno acima do CDI, ou seja, um lugar para estacionar os recursos antes de tomar novas decisões de alocação.

Sem encontrar opções no mercado, decidimos criar um fundo de caixa para obter uma opção de baixo risco e retorno superior aos produtos oferecidos na rede bancária, além da retirada dos recursos em D+2, ou seja, 2 dias após o pedido de resgate sem carência.

Hoje, nossa estratégia com o Trópico Cash FIM consiste em buscar retornos consistentes e superiores ao CDI, por meio de operações de baixo risco de crédito através da compra de títulos de bancos AAA, e títulos públicos federais.

O conceito começa a ser disseminado no mercado e a demanda por produtos de baixíssimo risco e elevada liquidez é crescente. A crise de crédito mudou a forma como os brasileiros encaram seus investimentos.

Sócio fundador e gestor da Trópico Investimentos
Com experiência de mais de 20 anos no mercado financeiro, Fernando Camargo Luiz é sócio fundador e gestor da Trópico Investimentos. É engenheiro formado pelo Mackenzie, com especialização em Value Investing pela Columbia Business School e gestão pela Harvard Business School.
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Com experiência de mais de 20 anos no mercado financeiro, Fernando Camargo Luiz é sócio fundador e gestor da Trópico Investimentos. É engenheiro formado pelo Mackenzie, com especialização em Value Investing pela Columbia Business School e gestão pela Harvard Business School.
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