Money Times Entrevista

Americanas (AMER3) está a cada trimestre mais próxima de se tornar uma empresa ‘normal’, diz CEO

20 maio 2025, 7:15 - atualizado em 19 maio 2025, 16:39
CEO Americanas (1)
A Americanas vê no horizonte fim da recuperação judicial e caminho para se consolidar como uma "empresa normal" (Imagem: Divulgação)

Pouco mais de dois anos após protagonizar o maior escândalo contábil na história recente do mercado de capitais, a Americanas (AMER3) tem no horizonte o fim da recuperação judicial e a consolidação de uma estrutura para voltar a focar em crescimento.

Muito presente no imaginário do brasileiro, as lojas físicas da Americanas são famosas por oferecerem de tudo, desde chocolate antes do cinema, até produtos de higiene, itens para casa, vestuário, entre outros. Segundo Fernando Soares, diretor de operações da companhia, os clientes que conhecem a varejista não a abandonaram — mesmo em meio a turbulência.

“O consumidor está na loja, sempre esteve. Se a discussão fosse de perda de venda, seria uma discussão bastante mais difícil, mas não é o caso. A gente vem crescendo venda, crescendo frequência em loja e isso é bastante importante para a continuidade do negócio”, disse ao Money Times.

Em meio a um cenário de caos na gestão da companhia, o atual CEO, Leonardo Coelho, e a diretora financeira (CFO), Camille Leite, assumiram as posições quase ao mesmo tempo e com uma missão muito clara: colocar a casa em ordem.

Em entrevista ao Money Times, Coelho conta que saber o que a Americanas não quer fazer se mostrou tão importante quanto saber o que quer. A exemplo disso, pontua que a companhia não quer fazer uma parte relevante de eletrodomésticos, linha branca ou televisores grandes em loja, uma vez que a logística é cara, a margem é baixa, ocupa espaço e não geram ganhos significativos.

“Temos conseguido ser relativamente rápidos em escolher o que não vamos fazer, tomar a decisão e tirar companhia. No entanto, temos sido um pouco menos rápido naquilo que queremos trazer para dentro. Por exemplo, marca própria é um tema que temos falado, mas ainda não conseguimos colocar do jeito que imaginamos”, pondera.

Camille Leite acrescenta que a companhia está atenta a janelas de oportunidade para continuar se desfazendo de ativos mais distantes da atividade central de Americanas, como Hortifruti Natural da Terra (HNT). No entanto, a executiva aponta que a venda só ocorrerá por valores justos.

Americanas busca alcançar patamar de ‘empresa normal’

O CEO da Americanas pondera que a Americanas, durante muito tempo, teve a atenção da principal camada da gestão voltada para encobrir uma fraude e não para pensar a operação.

Segundo ele, a companhia ficou sem a atenção gerencial e sem o rumo necessário em um momento de transformação muito rápida do varejo mundial e brasileiro. Nos últimos anos, a força do e-commerce e a consolidação de nomes asiáticos, além da mudança no cenário macroeconômico, mexeram com o setor.

“Quando falamos sobre estar saindo de uma mentalidade de reestruturação e cada vez mais pensando como uma ‘companhia normal’, o que queremos dizer é que ainda temos um atraso que precisamos descontar do ponto de vista de processos, do ponto de vista de sistemas no caso do digital, do ponto de vista de proposta de valor e de que lugar sobrou para o nosso digital”, coloca Leonardo Coelho.

Ele é enfático em afirmar que a reestruturação ainda não acabou e a Americanas ainda não é uma empresa “100% normal”, no entanto, se aproxima disso a cada trimestre.

E a Selic?

Com a taxa básica de juros (Selic) a 14,75%, a Americanas soma ao desafio micro da empresa um cenário macroeconômico que, conforme expectativa de economistas, ainda levará um tempo para mudar.

O CEO aponta que, especificamente em relação ao Brasil, já havia um preparo para enfrentar este ano. No entanto, o efeito das medidas de Donald Trump “deu uma embaralhada” no cenário.

Coelho relata que a ida de executivos da companhia à China foi uma rápida reação que viabilizou enxergar, no meio dessa turbulência macro, a necessidade de estar próximo aos fornecedores chineses, ao conseguir vantagens competitivas antes destinadas aos Estados Unidos.

“De uma forma mais objetiva, macro tem impactado, especialmente a segunda quinzena dos meses tem sido difícil. O dinheiro acaba para o nosso cliente, mas a gente tem tentado reagir de maneira rápida e o que ajuda é conhecermos bem quem é o nosso cliente, o que ele espera da gente e o que quer comprar aqui dentro”, diz.

Dois anos da descoberta da fraude

A CFO, Camille Leite, conta que até cerca de setembro do ano passado, tinha o tempo quase integralmente voltado para apagar o incêndio do rombo contábil.

“O meu tempo, eu diria, quase integralmente dedicado à recuperação judicial, à reconstrução dos números fraudados, descobrir onde estava a fraude, republicar balanço histórico”, coloca.

CFO Americanas
Camille Leite, CFO da Americanas (Imagem: Divulgação)

No entanto, ela pondera que a companhia colocou as finanças em dia, o plano de reestruturação está praticamente inteiro implementado e é possível deixar a parte ruim, de crise e recuperação judicial da companhia, para trás.

“Assim, a área financeira consegue que assumir outro papel dentro da companhia, que é um papel de suporte ao negócio, de ajudar a companhia em uma fase de reconstrução e crescimento operacional”, diz.

Vale pontuar que em fevereiro de 2026 a Americanas chega no período mínimo exigido para que um juiz avalie o cumprimento da recuperação judicial. Camille destaca que há expectativa de que a saída da RJ não vá muito além disso.

Questionado sobre a trajetória desde que assumiu uma Americanas em frangalhos, Leonardo Coelho afirma que todo o trabalho vem sendo feito com muita responsabilidade.

“É um peso danado você pegar uma companhia que é um ícone do varejo nacional na situação que ela estava, com 30 mil famílias dependendo dela, com mais milhares de investidores machucados, um processo onde a gente, quando a gente chegou aqui, a gente não sabia exatamente o que tinha acontecido, até se chegar à constatação de como foi. A fraude demorou ainda algum tempo”, pondera.

No entanto, essa responsabilidade e trabalho e conjunto resultaram em vitórias e derrotas ao longo desses dois anos.

“Nas vitórias não ficamos felizes demais. Nas derrotas também não ficamos muito triste, porque entendemos que ainda tem um bom caminho até o final. Enxergamos o fim desse processo com essa companhia de volta ao lugar onde ela sempre esteve no coração dos seus clientes”, diz.

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Repórter
Formada em jornalismo pela Universidade Nove de Julho. Ingressou no Money Times em 2022 e cobre empresas.
lorena.matos@moneytimes.com.br
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