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Ana Westphalen: Sobre medos e outras dores de estômago

23 out 2020, 14:46 - atualizado em 23 out 2020, 14:46
“Na prática, esse ‘trade de fundos’ acaba levando o investidor a comer poeira e sempre perder os ciclos de recuperação”, diz a colunista

Uma das coisas de que mais gosto aqui na Empiricus é ter a oportunidade de assistir à evolução dos nossos assinantes. É inevitável me pegar acompanhando suas histórias, principalmente daqueles mais cativos nos plantões de dúvidas. Começam tímidos, pedindo desculpa pela pergunta, e em pouco tempo já estão se libertando dos produtos ruins e caros oferecidos por aí. Falam de igual para igual com gerentes e assessores e dão até incerta nas carteiras de fundos dos parentes. Não raro desenvolvem seus próprios métodos de análise de investimentos.

Os planos também vão evoluindo. Quais são os melhores fundos para a minha reserva de emergência? Meu portfólio já está suficientemente diversificado? Planejo estudar fora, quais os fundos cambiais sugeridos? Comecei a me preocupar com o futuro, VGBL ou PGBL? Minha filha está a caminho, qual o melhor plano de previdência para ela?

Mas tem um tipo específico de pergunta que eu considero a mais difícil de responder. São aquelas sobre estômago… Quem veio com uma dessas foi a Daniella, que no último plantão mandou:

“Bom dia! Comecei o ano bem posicionada em Bolsa pois o cenário era positivo. Veio a pandemia e tudo caiu. Fundos de ações são para longo prazo. Como combinar o estômago com a visão de longo prazo? Permaneço nos fundos ou saio?”

Antes, cabe uma contextualização. A Daniella acompanha a série Os Melhores Fundos de Investimento há um bom tempo, está sempre nos plantões, o que me leva a crer que ela tem um portfólio equilibrado e diversificado entre classes de ativos e fundos, com a parcela de renda variável devidamente amparada por proteções.

Como ela bem observou, fundos de ações são para horizontes longos. Sendo assim, desempenho de curto prazo nunca será justificativa para sair de um fundo, sobretudo quando estamos diante de uma crise que afetou de forma generalizada os ativos de risco no mundo.

Aqui neste nobre espaço, inclusive, já trouxemos para vocês, três leitores, estudos que comprovam o quão nocivo para o patrimônio é ficar entrando e saindo de fundos, tentando acertar os períodos de melhor retorno. Na prática, esse “trade de fundos” acaba levando o investidor a comer poeira e sempre perder os ciclos de recuperação.

Voltando à pergunta da Daniella, tenho certeza de que ela já nos ouviu falar sobre essas armadilhas, o que me leva à conclusão de que o ponto fraco da nossa assinante é justamente a questão do estômago.

Cada investidor conhece sua tolerância a risco, por isso considero essa questão muito pessoal. O que todos temos em comum é a aversão a perdas, viés comportamental que nos faz atribuir maior importância ao prejuízo do que ao ganho, e que nos induz a tomar decisões erradas na tentativa de evitar perder.

Cara Daniella, como você pode sentir no estômago, na vida real as nossas decisões acabam sendo muito menos racionais do que gostaríamos ou do que orienta o livro-texto. E nesta semana pensei em você, enquanto acompanhava uma live do Itaú com o brilhante Bruno Levacov, gestor e fundador da tradicional Atmos.

Durante a conversa, ele contou que seu fundo de ações teve ao longo dos primeiros oito anos de existência cerca de 25% do patrimônio alocado em caixa. Foi a partir de 2017 que sua equipe ficou mais otimista com o ciclo econômico e passou a aumentar gradualmente a exposição a risco ­– até porque o custo de ter dinheiro parado em caixa começou a ser alto à medida que a taxa básica de juros era reduzida.

No início de 2020, o fundo tinha exposição de praticamente 100% em ações. “Enfrentamos pela primeira vez uma crise de peito aberto, sem caixa”, ele contou. E, acredite se quiser, nem mesmo nos piores momentos deste ano Levacov e sua equipe reduziram sua exposição em ações.

A explicação: “Não tomamos nenhuma decisão de curto prazo que não fizesse sentido no longo prazo. O risco de reduzir risco naquele momento era muito alto; o de deixar de ganhar na recuperação. Seguimos igualmente expostos [obviamente, com uma carteira de ações diversificada]. A questão é que hoje você é muito bem recompensado por correr o risco de estar comprado em Bolsa”.

Faz todo o sentido, não é?

Uma das principais vantagens de se investir via fundos é justamente o fato de poder dividir um pouco da sua dor de barriga com o gestor, um profissional que deve ter a experiência necessária para tomar decisões racionais em momentos de turbulência.

Inclusive, aqui no Melhores Fundos de Investimento, uma das características que mais valorizamos nos gestores é justamente esta: o quanto ele aguenta dessa carga emocional sem deixar que ela afete negativamente suas decisões. Faz parte do nosso processo de análise observar como eles se comportaram nas últimas crises, quanto perderam nos dias mais críticos, se há uma gestão de risco consistente no pré-crise, se sua experiência o tornou mais preparado para enfrentar as crises seguintes…

Tudo isso para responder, Daniella, que se você tem um portfólio diversificado entre classes de ativos, com as devidas proteções, e se os fundos em que investe são estes aqui, concentre seus esforços em se manter fiel a essa alocação ideal que te deixa confortável. Sobre a dor de estômago em momentos de estresse, ela é perfeitamente normal. Pode ser que alivie pensar que seus investimentos estão sendo geridos pelos melhores profissionais do mercado.
Espero ter ajudado.
Um abraço,

Ana Luísa Westphalen

PS.: Se ficou com vontade de integrar o seleto grupo de investidores da Atmos, eu te mostro o caminho. Praticamente inacessível ao varejo, o fundo faz parte do nosso portfólio dos sonhos, materializado no FoF Melhores Fundos. Pode vir por aqui.

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