Internacional

Anjo tropeçando? México corre risco de perder grau de investimento

08 jun 2020, 14:27 - atualizado em 08 jun 2020, 14:27
Bandeira do México
A abordagem fiscalmente conservadora para financiamento e dívida por parte dele é guiada por lembranças de humilhantes crises e resgates financeiros para o México nas décadas de 1980 e 1990 (Imagem: Pixabay)

O México está enfrentando sua recessão mais profunda em décadas, e importantes investidores acreditam que em breve a empresa estatal de petróleo Pemex terá seu rating de crédito rebaixado ao território “junk”, à medida que a pandemia de Covid-19 continua.

Perder a classificação de investimento que a segunda maior economia da América Latina ostenta por quase duas décadas seria um duro golpe para o presidente de esquerda Andrés Manuel López Obrador.

A abordagem fiscalmente conservadora para financiamento e dívida por parte dele é guiada por lembranças de humilhantes crises e resgates financeiros para o México nas décadas de 1980 e 1990.

“Perder a classificação de grau de investimento é um risco real e agora é algo sobre o que investidores pensam cada vez mais”, disse Luis Gonzali, gestor de portfólio na Franklin Templeton.

“Poderia ser o evento que definiria a presidência de López Obrador e levaria investidores a fugir rapidamente do México, e em larga escala.”

Analistas do JP Morgan disseram que a grande presença do México nos principais índices de títulos com grau de investimento exacerbaria a escala da venda forçada caso o país se torne um “anjo caído”empresa ou país cujas classificações de risco foram reduzidas para abaixo do grau de investimento.

Todas as três agências de classificação já cortaram os ratings do México neste ano.

A Fitch Ratings classifica os títulos soberanos mexicanos em BBB, com perspectiva estável.

A Moody’s Investors Services os classifica em Baa1; e a S&P Global Ratings, em BBB, ambas com perspectivas negativas, sinalizando mais rebaixamentos.

Duas agências teriam que classificar o México como grau especulativo, ou junk, para que o país caia oficialmente a esse status.

Analistas do JP Morgan escreveram em nota de pesquisa que cerca de 44,3 bilhões de dólares em títulos mexicanos correm risco de venda forçada no caso de um corte para junk.

Cerca de 4,5 bilhões de dólares desse total são dívidas corporativas, disseram eles, observando que um rebaixamento soberano torna mais difícil para as empresas manter uma classificação de grau de investimento.

Gonzali estimou que o selo junk poderia inicialmente aumentar os custos de empréstimos para o governo mexicano em até 300 pontos-base antes de esse aumento se estabilizar em torno de 100 pontos-base em relação aos patamares de agora.

MANEIRAS FRUGAIS

O México foi um queridinho dos investidores por muito tempo, pois reduziu o papel do Estado e nomeou tecnocratas treinados nos Estados Unidos, em sintonia com as preferências de Wall Street, para reduzir o papel do Estado na economia.

Mas seu brilho já estava ficando mais fraco mesmo antes da vitória de López Obrador em 2018.

Apesar das maneiras frugais desde que assumiu o cargo, decisões de política incluindo cancelamentos de bilhões de dólares em projetos de infraestrutura e renegociação de contratos de energia corroeram ainda mais a confiança.

Preocupações também estão crescendo dentro do ministério das finanças, onde uma autoridade disse que mais rebaixamentos são prováveis, com um possível corte para junk no início do próximo ano.

“A perspectiva para a dívida soberana do México é muito negativa”, disse a autoridade, falando sob condição de anonimato. “O problema é que agora existe uma crise de confiança nas políticas do governo.”

Analistas do JP Morgan concordaram que um rebaixamento para grau especulativo poderia acontecer no final do próximo ano ou no início de 2022.

Eles citaram o baixo crescimento e o afastamento de investidores do setor de energia provocado pelo Estado entre fatores que prejudicam o cobiçado grau de investimento do México.

Eles também citaram o lento progresso na diversificação da base tributária e uma fraca resposta à pandemia de coronavírus.

Investidores já classificam títulos soberanos mexicanos semelhantes a junk, com spreads sobre as taxas do Tesouro dos EUA subindo.

No entanto, nem todos acham que um rebaixamento para junk é inevitável.

“A decisão de não ser fiscalmente expansivo pode ter retorno se tivermos uma recuperação muito rápida”, disse Andrew Stanners, diretor de investimentos da gestora Aberdeen Standard, referindo-se à falta de gastos do governo para compensar o impacto econômico da pandemia.

“Isso significa que a posição fiscal não foi corroída tão severamente quanto em outros países e pode impedir rebaixamentos de classificação” para grau especulativo.

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