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‘Ano atípico’, falta de cobertura e fenômenos climáticos: Sicoob destaca obstáculos e cenário do seguro rural no Brasil

02 mar 2024, 15:50 - atualizado em 02 mar 2024, 16:11
(Imagem: Unsplash/@federicorespini)
A cobertura de lavouras dos Estados Unidos é mais de 20 vezes maior que a do Brasil; o que precisa mudar para o seguro rural?  (Imagem: Unsplash/@federicorespini)

O seguro rural domina as preocupações do produtor rural safra após safra, além das mais diversas questões que já trazem incertezas para a atividade no Brasil.

Nos últimos ciclos, os agricultores brasileiros tiveram que estar ainda mais alertas com os diferentes fenômenos climáticos sob influência do planeta.

Vinicius Matheus Cerqueira, consultor de agronegócio e especialista em seguro rural no Sicoob (Sistema de Cooperativas Financeiras do Brasil) destaca que 2024 é um ano “atípico”, já que as duas últimas safras foram sobre forte influência do La Niña, fenômeno caracterizado pelo resfriamento anômalo das águas do Oceano Pacífico na faixa equatorial, o oposto do que ocorre com o El Niño.

“Isso trouxe uma série de inconstâncias nas nossas últimas safras, e com a chegada do El Niño no ano passado, o começo de 2024 tem sido bem conturbado, com chuvas e secas excessivas em lugares onde isso não deveria ser visto, o que pegou os produtores rurais de surpresa e levou ao acionamento de diversos sinistros e quebra de safra, com atrasado na safrinha. Como instituição financeira, vimos muitos pedidos de renegociação e alongamento de dívidas“, discorre.

O consultor ressalta que o seguro rural tem se tornado cada vez mais importante como mecanismo de proteção. “É uma dupla proteção, tanto pela instituição financeira, pelo crédito, quanto principalmente o produtor rural quando se trata de sua lavoura, rebanho, máquinas e equipamentos”, diz.

Falta de cobertura nas lavouras brasileiras

O especialista do Sicoob enxerga o modelo do seguro rural como algo que poderia ser diferente. “O Brasil, como instrumento de política agrícola, foca no crédito, enquanto os Estados Unidos, por exemplo, foca em seguro. Com isso, em 2022, eles estavam com quase 200 milhões de hectares protegidos, enquanto tínhamos por volta de 17 milhões“, explica.

A cobertura do seguro rural no Brasil gira em torno de 15% – 20% de proteção. “Esse número, passando de 50%, traz muito mais de segurança para ecossistema, já que o produtor descoberto quanto ao seguro pode ter prejuízos financeiros, não conseguindo honrar seus compromissos, delapidando seu patrimônio e não sendo capaz de aplicar os recursos e tecnologias que a sua lavoura exige e que ele mesmo espera”, pontua.

“Quando financiamos uma cultura, sempre estimulamos a fazer a proteção de toda área produtiva, já que mesmo ele tendo metade da cobertura, ainda há riscos muito grandes”, completa.

O consultor ainda aponta que as seguradoras acompanham de perto as atualizações do NOAA (Administração Oceânica e Atmosférica Nacional), serviço norte-americano de clima, que ajuda dar maior previsibilidade quantos aos possíveis cenários.

Gargalos de infraestrutura e Programa de Subvenção ao Prêmio do Seguro Rural (PSR)

Cerqueira pondera que o desafio é ainda maior na parte de infraestrutura.

“Vemos ano a ano cenas lamentáveis de milho sendo ‘estocado’ a céu aberto, coisa que não deveria existir, e por mais que se invista muito em linhas dos BNDES para armazéns, dá para perceber que a demanda é muito maior. E a partir deste cenário, falta um tipo de produto, de proteção para o produtor rural”, avalia.

Em 18 anos, desde que o Programa de Subvenção ao Prêmio do Seguro Rural (PSR) foi implementado, os recursos cresceram mais de 265 vezes, em 26.463%, segundo estudo da Confederação Nacional das Seguradoras (CNseg).

“Em 2023, tivemos cerca de R$ 930 milhões para o PSR, e quando falamos de Sicoob, todas as apólices contempladas, em torno de 31% tiveram subvenção. Existe sempre espaço para mais recursos de crédito rural, pela grande demanda do setor, mas entendemos que o governo trabalha com o que é possível”, finaliza.

 

 

 

Repórter
Formado em Jornalismo pela Universidade São Judas Tadeu. Atua como repórter no Money Times desde março de 2023. Antes disso, trabalhou por pouco mais de 3 anos no Canal Rural, onde atuou como editor do Rural Notícias, programa de TV diário dedicado à cobertura do agronegócio. Por lá, participou da produção e reportagem do Projeto Soja Brasil, que cobre o ciclo da oleaginosa do plantio à colheita, e do Agro em Campo, programa exibido durante a Copa do Mundo do Catar e que buscava mostrar as conexões entre o futebol e o agronegócio.
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Formado em Jornalismo pela Universidade São Judas Tadeu. Atua como repórter no Money Times desde março de 2023. Antes disso, trabalhou por pouco mais de 3 anos no Canal Rural, onde atuou como editor do Rural Notícias, programa de TV diário dedicado à cobertura do agronegócio. Por lá, participou da produção e reportagem do Projeto Soja Brasil, que cobre o ciclo da oleaginosa do plantio à colheita, e do Agro em Campo, programa exibido durante a Copa do Mundo do Catar e que buscava mostrar as conexões entre o futebol e o agronegócio.
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