Investimentos

Aplicações de pessoas físicas cresceram 9% em 2018 e arriscaram mais

11 fev 2019, 18:35 - atualizado em 27 set 2019, 13:52

Por Arena do Pavini – As aplicações de pessoas físicas em fundos de investimento, títulos e valores mobiliários, ações e poupança, excluindo previdência, cresceram 9% no ano passado, atingindo R$ 2,797,5 trilhões, informou hoje a Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima). O crescimento foi maior que a variação do juro do juro básico Selic, de 6,5%, mas pode ter sido influenciado pela rentabilidade da bolsa e de outros ativos acima dos juros.

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O crescimento foi puxado pelo chamado Varejo Alta Renda, segmento diferenciado dos grandes bancos, que aumentou 12,1%, para R$ 872,6 bilhões, em meio ao esforço dos bancos em oferecer mais títulos, fundos e carteiras diferenciadas para os investidores por conta da queda dos juros básicos e da concorrência das corretoras independentes. Esse público intermediário, entre o varejo e o private, é o alvo das corretoras, que oferecem principalmente fundos multimercados de gestores independentes e títulos isentos de bancos menores e de empresas.

Já o segmento de varejo tradicional apresentou crescimento de 4,7%, abaixo do CDI, indicando migração de investidores ou baixa rentabilidade das carteiras. O saldo final de aplicações em fundos de varejo ficou em R$ 958,7 bilhões.

No segmento de alta renda, ou private bank, o crescimento de recursos foi de 10,7%, para R$ 966,2 bilhões.

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(Pixabay)

Número de contas cresceu 4,7%

O número de contas de pessoas físicas cresceu 4,68% em 2018 em relação a dezembro do ano anterior, somando 77,166 milhões de contas tanto de varejo, varejo alta renda quanto private. No ano anterior, eram 73.718 contas.

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Considerando só o varejo, sem o private, são 77,044 milhões de contas, com um crescimento de 4,7% em relação às 73.600 contas de 2017, ou 3,444 milhões de contas a mais. A imensa maioria, 64,956 milhões contas, é de poupança, com um crescimento de 3,82%. As contas para aplicação em títulos e valores mobiliários cresceram 9,8%, para 6,248 milhões, e as de fundos de investimentos, 9,23%, para 5,841 milhões de contas.

O varejo tradicional fechou 2018 com 70,596 milhões de contas, enquanto o varejo de alta renda encerrou o ano passado com 6,448 milhões de contas. Esse número não reflete, porém, exatamente o total de investidores, pois uma pessoa pode ter mais de uma conta em vários bancos e corretoras. No segmento de alta renda, ou private banking, o total de contas foi de 121 mil.

Poupança, renda variável e multimercados ganham espaço

As aplicações em renda variável ganharam destaque no ano passado nas carteiras de varejo graças à queda dos juros para 6,5% e a melhora da bolsa. Os fundos de ações cresceram 51,3%, enquanto as ações aumentaram em 40,7% nas carteiras. Já os multimercados continuaram crescendo, 33% em 2018, mas em ritmo bem menor que os 117,1% de 2017. Fundos cambiais também aumentaram sua presença no varejo, com 44,1% de aumento, e a poupança também aumentou, 10%, um pouco mais que os 8% do ano anterior.

Parcela ainda pequena no risco

Apesar do crescimento, a parcela em ações das carteiras de varejo segue discreta. Nas carteiras de varejo de alta renda, as ações passaram de 4% da carteira total de 2017 para 5,5% em 2018. Os multimercados, que possuem parcela em ações e são mais arriscados que a renda fixa, aumentaram sua fatia de 7,8% para 9,6%. Ou seja, somados, esses ativos chegam a modestos 15% das carteiras de varejo de alta renda.

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Já no varejo tradicional, essa diversificação é ainda menor, com 1,0% em ações (1,1% no ano anterior) e 0,9% em multimercados (mesmo percentual de 2017), e grande concentração, 64,6% em poupança. A parcela de LCI e LCA nessas carteiras também caiu de 8% para 5,6%, em virtude da queda de oferta de papéis pelos bancos. E CDBs e fundos renda fixa cresceram, de 8,7% para 9,1% e de 15,3% para 16,1%, respectivamente.

Varejo continua concentrado em poupança

O varejo tradicional segue altamente concentrado em poupança, afirma Claudio Sanches, vice-presidente do Comitê de Varejo da Associação. Até essa pode ser uma explicação para o crescimento da carteira abaixo da Selic, pela menor rentabilidade da caderneta em relação ao juro básico, inclusive por sua isenção. Houve também uma diferença grande na captação entre o primeiro e o segundo semestre, com eventos que agitaram a economia, como a greve dos caminhoneiros, e um aumento do consumo das famílias que reduziu as aplicações e aumentou os resgates no varejo tradicional.

Mas a tendência de diversificação aparece claramente no comportamento geral do varejo tradicional e de alta renda com relação aos fundos de renda fixa, que cresceram 5,5% em 2018, bem menos que os 25,3% de 2017, em virtude da queda da taxa Selic, que fez esses fundos perderem atratividade.

Em compensação, houve forte crescimento dos multimercados em continuidade ao do ano passado, e em ações, cujo volume nas carteiras ainda é menor. Fundos cambiais também cresceram muito, mas são ainda menos expressivos em volume. “O grande destaque foi o crescimento de ações por conta da alta da bolsa no ano passado”, diz.

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Menos compromissadas, LCI e LCA e mais CDB

Ainda em renda fixa, houve uma forte queda em operações compromissadas, em que o banco vende um título do governo ao cliente com compromisso de recomprá-lo em determinado prazo. O Banco Central limitou essas operações, o que fez com que elas caíssem pelo segundo ano consecutivo, 44,1% em 2018 e 43,8% em 2017. Em compensação, os bancos passaram a oferecer mais CDBs que cresceram 14,9% no ano, mais que os 12,1% do ano passado, também pela retomada discreta do crédito.

Já as Letras de Crédito Imobiliário (LCI), muito procuradas por sua isenção, registraram uma queda de 20,6% nas carteiras de varejo, depois de caírem 10,1% no ano anterior. As LCA, do Agronegócio, que caíram 40,2% em 2017, cresceram levemente em 2018, 2%. “A queda em LCI e LCA está mais relacionada à oferta de crédito dos bancos e com a capacidade de criar garantias para essas operações com a economia ainda devagar”, explica Sanches.

O dinheiro segue concentrado na Região Sudeste, com 64% dos recursos, observa o executivo.

Private banking cresce 11,6%

No segmento de gestão de fortunas, o private banking cresceu 11,6% em 2018, atingindo R$ 1,080 trilhão, com destaque para fundos e previdência, afirma João Albino, presidente do Comitê de Private Banking da Anbima. O crescimento foi menor que os 16% dos dois anos anteriores, mas o ritmo menor ocorreu por conta do juro mais baixo, que reduziu a rentabilidade das carteiras de renda fixa, explica Albino. “O importante é que a indústria private cresceu de forma robusta mesmo com juro menor”, diz.

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A maior parcela dos recursos de alta renda está concentrada em fundos, com R$ 517 bilhões em 2018, 14,89% mais que no ano anterior. Em seguida, vem os ativos de renda fixa, com R$ 290,2 bilhões, um aumento de 7,16%. Já a renda variável passou de R$ 147,3 bilhões em 2017 para R$ 154,9 bilhões em 2018, um aumento de 5,16%. Albino destaca ainda as aplicações de Previdência Privada, que passaram de R$ 96,1 bilhões para R$ 114,6 bilhões, um crescimento de 19,25%.

O comportamento do grande investidor foi parecido com o dos demais: um crescimento menor das aplicações no primeiro semestre, de 4,2%, e um aumento mais forte no segundo, de 7%. Segundo Albino, isso se deve ao fato de que o primeiro semestre foi tumultuado com a greve dos caminhoneiros, que paralisou as operações de fusões e aquisições e vendas de empresas, movimento que só voltou no segundo semestre. “E as vendas de empresas e fusões criam recursos para ampliar o private banking”, diz Albino.

Debêntures são destaque entre endinheirados

As debêntures incentivadas foram destaque entre os clientes de alta renda, com crescimento de 30% em 2017 e mais 33,5% no ano passado. Segundo Albino, há grande procura pelos papéis de infraestrutura, que oferecem isenção fiscal. Hoje, esses papéis incentivados já chegam a 69% do total, e a tendência é continuar crescendo. “A debênture tradicional vai reduzir cada vez mais e a incentivada vai crescer, pois é emissão de divida de empresa e há maior oferta no mercado”, diz. Muitas companhias estão usando debêntures de maior prazo para refinanciar dividas ou financiar projetos com prazos de 7, 12 a 15 anos, com possibilidade de grande apetite do publico private.

Junto com as debêntures, os fundos de ações e multimercados ganharam espaço nas carteiras dos private bankings. Os multimercados cresceram 14,9% este ano, depois do aumento de 25,6% no ano passado. Já os fundos de ações aumentaram seu saldo em 58,1% este ano, depois do crescimento explosivo de 128,1% de 2017.

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Já os fundos de Previdência privada continuam crescendo no segmento de alta renda, e saíram de 7% das carteiras para 10,6%. “A tendência é chegar a 12% ou 14% e depois estabilizar. O cenário pode mudar se o governo levar adiante a proposta de tributar com come-cotas os fundos fechados de investimentos conforme a Medida Provisória 806. Hoje, os fundos fechados só pagam impostos no resgate ou no encerramento. “Se perderem esse benefício dos fundos fechados, os investidores private devem procurar como alternativa a previdência privada e a fatia dessas aplicações pode ultrapassar 15%, 16% das carteiras”, diz. No ano passado, essas aplicações cresceram 19,2% e, no anterior, 27,7%, pela vantagens de planejamento financeiro, pois não entram em inventários, e pelo imposto mais baixo e sem come-cotas.

Já as LCI e LCA perdem espaço pela falta de créditos para lastrear esses papéis isentos. Os ativos de lastro imobiliário caíram 3% em 2017 e 0,5% no ano passado. Já os com lastro agrícola, como LCA, cresceram modestamente, 1,6% em 2017 e 3,2% em 2018.

O número de contas nos private bankings atingiu 121 mil, 2,5% acima de 2017, diz Albino. E a concentração nas regiões Sul e Sudeste é grande. O Sudeste representa 74% de todas as contas. Somando a região Sul, a participação sobe para 86,5%. “A Região Norte cresce mais, 5% no ano passado, mas mesmo assim a base é muito pequena”, explica Albino.

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pavini@moneytimes.com.br