Economia

Aprende, EUA: Queda na Selic prova que Brasil conseguiu ‘pouso suave’

01 ago 2023, 15:15 - atualizado em 01 ago 2023, 15:15
Goldman Sachs Juros
Goldman Sachs faz elogios à condução do BC brasileiro com a Selic (Imagem: REUTERS/Brendan McDermid/File Photo)

Enquanto os Estados Unidos vivem uma incógnita sobre a possibilidade de um ‘pouso leve’ (controle da inflação sem uma recessão intensa), o Brasil já pode ter conseguido cumprir a missão, com o mercado aguardando um corte da Selic.

A avaliação é de Aberto Ramos, diretor de pesquisa macroeconômica da América Latina do Goldman Sachs. Em entrevista ao Valor Econômico, Ramos exalta o papel do Banco Central brasileiro na condução da política monetária, que é creditada como a principal responsável pela ‘façanha’.

Para o diretor do Goldman Sachs, houve acerto na decisão do BC em distender o processo de convergência da inflação para a meta, mantendo os juros mais elevados por mais tempo, o que diluiu o impacto macroeconômico.

O cenário alternativo seria um “arrocho monumental”, com a Selic indo acima dos 20% e uma recessão de grandes proporções no país.

Para Ramos, a resiliência econômica da atividade doméstica diante dos juros elevados indica que a economia brasileira conseguiu o tão cobiçado ‘pouso suave’. Entre os fatores que garantiram esse cenário, está a força do setor de serviços, beneficiado pela predisposição ao consumo presente, além da produção agrícola brasileira.

No primeiro trimestre, o agronegócio apresentou um crescimento de 20%, alavancando o PIB e gerando renda em um processo ‘cascata’ pelo resto da economia.

O diretor do Goldman também cita o impacto positivo para o consumo da política fiscal mais expansionista do governo petista, dadas as aprovações do novo piso da enfermagem, aumento real do salário mínimo e reajuste do salário de servidores .

Goldman Sachs: arcabouço fiscal não resolve dinâmica da dívida

Se de um lado o diretor do Goldman Sachs vê aquecimento da economia doméstica e convergência exitosa da inflação, a trajetória da dívida pública continua preocupando.

Para Ramos, houve um aumento do juros neutro da economia brasileira por conta da relação dívida-PIB, que tende a piorar. Na declaração, há uma crítica ao arcabouço fiscal aprovado pelo governo petista em maio, sob a compreensão de que a nova lei complementar — ao focar na obtenção de receita — acaba não estabilizando a dinâmica da dívida.

Apesar dos sinais negativos vindos da parte fiscal, o diretor do Goldman Sachs reitera a projeção de corte da Selic já na decisão desta quarta-feira (2) do Copom; neste momento, o cenário-base é um corte de 0,25 ponto percentual, com cortes de maior magnitude a partir das próximas reuniões.

Como pano de fundo para o início do afrouxamento, o diretor do Goldman Sachs destaca o efeito de base favorável para a inflação para os meses de maio, junho e julho, considerado leituras de dois dígitos no ano passado.

Outro fator importante é a constatação de que a convergência da inflação para meta já foi alcançada para o ano de 2025, que entra no horizonte relevante da política monetária.

Em 2025, Ramos entende que o BC pode levar a Selic a 8,50%. Mas o grau de visibilidade para 2025, como você pode imaginar, não é muito grande.

Estagiário
Jorge Fofano é estudante de jornalismo pela Escola de Comunicações e Artes da USP. No Money Times, cobre os mercados acionários internacionais e de petróleo.
Jorge Fofano é estudante de jornalismo pela Escola de Comunicações e Artes da USP. No Money Times, cobre os mercados acionários internacionais e de petróleo.