Argentina: Mesmo com eleição favorável e ‘Pix dos EUA’, Fitch reitera elevado risco de calote
A Argentina voltou aos holofotes do mundo após as eleições de meio de mandato no último dia 26 de outubro. O presidente do país, Javier Milei, saiu fortalecido e com os bolsos cheios de dólares — uma ajudinha do seu amigo na Casa Branca, Donald Trump.
Mesmo assim, a vitória de Milei na eleição não conquistou a simpatia da agência de classificação de risco Fitch, que manteve a classificação de “CCC+” para a dívida soberana do país em um relatório publicado na última sexta-feira (31).
Em linhas gerais, “CCC+” equivale a um grau de crédito especulativo, o que indica uma capacidade de pagamento muito baixa e um risco real de calote.
Vale lembrar que em maio deste ano, a Fitch elevou o grau de crédito da Argentina de CCC para CCC+, destacando que o afrouxamento das regras de controle cambial e as reformas liberalizantes de Milei começaram a ganhar contornos mais claros.
“A recuperação económica e a desinflação já superaram as nossas expectativas anteriores e deverão ser ainda mais apoiadas por estas alterações políticas”, disse um relatório da época.
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O que falta para a Argentina agora, segundo a Fitch
É verdade que a vitória nas eleições legislativas deu fôlego a Milei, que ganhou posições tanto na Câmara quanto no Senado argentinos.
O partido de Milei, o La Libertad Avanza (LLA), conseguiu um total de 92 dos 257 assentos na Câmara e 19 dos 72 assentos no Senado. A expectativa é de que as múltiplas propostas de cunho liberal — isto é, privatizações e desregulamentações — consigam avançar de maneira mais fácil, ainda que alguma aliança com a oposição e centristas seja necessária.
Além disso, Donald Trump, presidente dos Estados Unidos, já garantiu dois empréstimos — um via swap cambial e outro voltado à compra de dívida da Argentina — que totalizaram US$ 40 bilhões para ajudar a compor as reservas argentinas.
“Resta saber como Milei irá reforçar a precária posição de liquidez externa, que tornou a economia da Argentina propensa a grande volatilidade nos últimos dois meses, mas o aumento da confiança após as eleições de meio de mandato deverá melhorar as suas opções do que fazer”, ponderam os analistas.
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Além disso, a Fitch pondera que, do total de US$ 40 bilhões dos empréstimos fornecidos pelos EUA, as reservas “líquidas” representam cerca de US$ 20 bilhões, distribuídos em ouro e um empréstimo via swap com a China.
Com isso, o empréstimo via swap cambial de US$ 20 bilhões com o governo dos EUA tem termos pouco claros, o que pode funcionar como um amortecedor das contas externas — e, mesmo assim, não deve ajudar no fortalecimento estrutural da acumulação de reservas.
Embora o apoio dos EUA tenha ajudado a Argentina a superar a recente volatilidade do mercado interno, diz a Fitch, a necessidade de tal apoio destaca a ainda elevada vulnerabilidade externa na classificação soberana “CCC+”.
Por fim, a agência de classificação pondera que a melhora da classificação depende de mudanças políticas para permitir que a Argentina acumule reservas de forma sustentável — e por conta própria —, de modo que não precise mais de depender de empréstimos de emergência de credores oficiais e possa, eventualmente, pagar o seu grande estoque de empréstimos, herdados de crises passadas.