Análise Econômica

As dúvidas sobre o futuro do dólar

29 set 2025, 11:42 - atualizado em 29 set 2025, 11:42
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(Imagem: REUTERS/Dado Ruvic)

Desde o início deste ano, o dólar recuou de forma significativa. Frente ao real, a queda foi de aproximadamente 16%, levando a cotação de R$ 6,17 para próximo de R$ 5,30.

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O fenômeno não se restringiu ao Brasil: das 31 principais moedas globais, 26 se valorizaram em relação ao dólar no período, sendo que 12 delas registraram ganhos acima de dois dígitos.

Apesar da complexidade que envolve os movimentos cambiais, expectativas de juros e a piora das percepções institucionais nos EUA parecem exercer papel relevante neste momento.

De um lado, a conjuntura econômica dá sinais que sustentam a tendência de enfraquecimento do dólar. De outro, dados recentes sugerem que os riscos de uma reversão dessa tendência não podem ser ignorados.

Após a eleição presidencial do ano passado, o consenso era de que os EUA iniciariam um ciclo de crescimento acima da média global, com forte expansão econômica, entrada contínua de capitais e desempenho superior do dólar. Essa percepção, no entanto, mudou a partir de abril, com o anúncio de novas tarifas comerciais, que aumentaram as incertezas políticas e econômicas.

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O dólar passou a refletir preocupações com desaceleração do crescimento e com o aumento da dívida pública. A isso se somaram sinais de enfraquecimento do mercado de trabalho, ruídos sobre indicações ao Federal Reserve (Fed) e a permanência de incertezas em patamar elevado.

Apesar disso, não houve fuga de capitais dos EUA. Pelo contrário, o fluxo de recursos estrangeiros para os mercados de juros e ações americanos cresceu nos últimos meses. Além disso, há indícios de uma mudança estrutural na alocação global de ativos, que pode sustentar o enfraquecimento do dólar mesmo com ingresso de capital externo.

<h2>argumentos pró e contra o dólar</h2>

Os pessimistas em relação à moeda americana destacam o contexto de bolsas em níveis elevados, juros reais em queda e perda de confiança nas instituições e na formulação de políticas públicas nos EUA.

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Já os otimistas com o dólar apontam potenciais ganhos de produtividade ligados à Inteligência Artificial (IA) e os impactos defasados das tarifas de importação sobre a inflação americana.

Durante a recuperação pós-pandemia, o dólar chegou a operar em média 10% mais valorizado do que em 2019, sustentado pela expectativa de que a IA acelerasse os ganhos de produtividade — algo que ainda é incerto.

No caso das tarifas, os efeitos de curto prazo ainda não apareceram nos preços, o que tem permitido ao Fed indicar espaço para cortes de juros. Mas o impacto pode surgir com defasagem, à medida que custos forem transmitidos pelas cadeias globais de produção.

No curto prazo, o balanço favorece um dólar mais fraco e a busca por retorno em outras moedas, como o real.

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No entanto, permanecem riscos relevantes de que, no médio prazo, o dólar volte a se fortalecer, o que poderia alterar a conjuntura mais positiva para ativos de risco e mercados emergentes — cenário que, nesse caso, voltaria a expor os riscos locais do Brasil, hoje atenuados pelo bom momento internacional.

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Carlos Lopes é economista no banco BV desde 2013 e já passou por instituições financeiras como Itaú BBA, Banco Fibra e WestLB. É formado pela Universidade de São Paulo e tem mestrado no Insper.
carlos.lopes@moneytimes.com.br
Carlos Lopes é economista no banco BV desde 2013 e já passou por instituições financeiras como Itaú BBA, Banco Fibra e WestLB. É formado pela Universidade de São Paulo e tem mestrado no Insper.