Ativos brasileiros surfam o otimismo global, mas mar fiscal continua agitado, alerta Monte Bravo

Apesar da dívida pública e da deterioração da conta corrente, os ativos brasileiros devem continuar se beneficiando do cenário global, impulsionados pela queda dos juros nos Estados Unidos e pela maior diversificação dos portfólios internacionais, pelo menos até o início da campanha eleitoral de 2026, segundo a Monte Bravo.
Na sua carta mensal, assinada por Alexandre Mathias, Luciano Costa e Bruno Benassi, a corretora ressalta que, embora riscos fiscais, eleitorais e ruídos políticos — incluindo impactos de políticas protecionistas nos EUA — possam reduzir parte do impulso positivo, os ativos do Brasil devem manter uma trajetória construtiva.
Quando a corrida eleitoral começar oficialmente, a dinâmica do mercado dependerá da percepção sobre o ajuste fiscal e a evolução da dívida em 2027.
Corte de juros do Fed no radar
A Monte Bravo destaca que o início do ciclo de cortes de juros nos EUA reforçou o otimismo global. O Federal Reserve iniciou o afrouxamento monetário com um corte de 0,25 ponto percentual em setembro, levando a taxa básica para 4,00%–4,25% ao ano. O banco central norte-americano também sinalizou dois novos cortes nas próximas reuniões, em outubro e dezembro, que podem reduzir a taxa para 3,75% ao ano.
O efeito foi sentido nos mercados: o S&P 500 avançou 3,5% em setembro, enquanto o Nasdaq subiu 5,6%, impulsionado por ações de tecnologia e inteligência artificial. Os rendimentos dos Treasuries oscilaram, com os papéis de 10 anos caindo para 4,01% no meio do mês e encerrando setembro em 4,154%.
O dólar se manteve estável frente a moedas desenvolvidas, mas caiu 2% contra o real, e o ouro registrou alta de 12,8%.
“A perspectiva de queda dos juros nos EUA, aliada à baixa volatilidade dos Treasuries e a um dólar mais fraco, cria um cenário global favorável para ativos de risco”, aponta o relatório.
Esse contexto ajudou diversos ativos a atingir níveis recordes e deve continuar impulsionando os ativos brasileiros nos próximos 12 meses.
Ativos brasileiros em setembro
No Brasil, setembro também foi positivo para as ações: o Ibovespa subiu 3,4% em reais, refletindo o aumento do apetite global após o início do ciclo de cortes de juros nos EUA, que reacendeu fluxos para mercados emergentes.
Segundo a Monte Bravo, o rali da bolsa brasileira — em grande parte consequência de uma reprecificação global de risco — poderia ter sido ainda mais forte se não fossem os desafios fiscais domésticos, que elevam o prêmio exigido sobre as taxas de longo prazo e limitam a expansão dos múltiplos de valuation.
A corretora mantém sua projeção de que o Ibovespa atinja 150 mil pontos até o final de 2025 e 175 mil pontos em 12 meses.
Cenário doméstico
Por aqui, cortes de juros pelo Banco Central só devem ocorrer em 2026. A Monte Bravo ressalta que a combinação de inflação mais controlada e sinais de desaceleração da atividade econômica — refletida na perda de fôlego da indústria, fraqueza do varejo e moderação do mercado de trabalho — cria condições para que o Copom inicie um ciclo de redução da Selic a partir de janeiro do próximo ano, chegando a 11% ao ano no final do ciclo.
No entanto, o país enfrenta uma restrição orçamentária marcada para 2027. “O Brasil convive com déficits gêmeos — fiscal e em conta corrente —, uma combinação perigosa que amplia vulnerabilidades macroeconômicas e frequentemente leva a crises cambiais, aumento de juros, fuga de capitais e perda de confiança”, alerta a Monte Bravo.
O relatório compara a situação atual à que antecedeu a crise do segundo governo Dilma Rousseff, com gastos públicos elevados, dívida crescente e deterioração das contas externas.
“O déficit nominal está em quase 8% do PIB, enquanto o déficit em conta corrente subiu para 3,5% do PIB. A relação dívida/PIB deve saltar de 71,7% em 2022 para 84–85% em 2026 — uma trajetória assustadoramente ascendente.”
À medida que se aproximam as eleições presidenciais de 2026, o debate sobre o futuro da política fiscal ganha centralidade. Hoje, o déficit primário gira em torno de 1% do PIB. Para estabilizar a dívida, considerando um PIB potencial de 2,5% ao ano e juros reais de 5,5%, seria necessário alcançar um superávit primário de 2,5% do PIB.