Azul (AZUL4) dispara em meio a forte movimento de cobertura de posições vendidas

As ações da Azul (AZUL4) protagonizaram um dos episódios mais emblemáticos do mercado acionário brasileiro em setembro. Na última quinta-feira (4), os papéis da companhia atingiram o maior volume de ações alugadas de sua história: 189,5 milhões de papéis, o equivalente a 36,4% do free float da empresa. Na mesma data, a taxa média de aluguel da ação estava em 9,58% ao ano, a 16ª mais elevada de toda a B3.
Esse contexto criou o terreno para um movimento conhecido no mercado como short squeeze. Trata-se da situação em que investidores vendidos, que alugaram ações para apostar na queda, são surpreendidos por uma alta expressiva do papel. Para limitar prejuízos, esses participantes precisam recomprar os ativos, o que acaba pressionando ainda mais as cotações.
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Alta expressiva e perdas para vendidos
Entre 1º e 8 de setembro, a ação da Azul acumulou valorização de 88,75%, chegando a 122,06% no acumulado do mês até o dia 8. Em apenas uma semana, esse salto transformou posições vendidas em uma fonte de perdas significativas. Considerando que o preço médio das ações alugadas estava em torno de R$ 0,69, e que o papel superava R$ 1,60 na semana seguinte, investidores que operavam short viram o prejuízo se multiplicar.
Esse cenário se agravou pela elevada quantidade de papéis alugados. Com um volume médio de negociação de 39,4 milhões de ações por dia nos últimos 30 pregões, seriam necessários 4,9 dias inteiros de negociação para liquidar o estoque de posições alugadas, sem considerar novos movimentos de compra
Efeitos no volume e no mercado
Outro dado que chama a atenção é o volume financeiro. Até o dia 8, a Azul registrava uma média diária de R$ 120,6 milhões negociados em setembro, quase o dobro da média de R$ 64,2 milhões no acumulado de 2025. Esse salto indica que a cobertura de posições vendidas trouxe uma intensidade extra às negociações, reforçando o efeito do short squeeze.
O movimento não ficou restrito à Azul. No mesmo setor, as ações da Gol (GOLL54) também avançaram, acumulando ganho de 29,70% e negociadas a R$ 7,86.
O que é e como funciona o short squeeze
O episódio recente da Azul ajuda a ilustrar, de forma prática, um conceito técnico que costuma intrigar investidores iniciantes.
- Como funciona a venda a descoberto: o investidor aluga ações de outro participante e as vende no mercado, esperando recomprá-las mais baratas no futuro para devolver ao doador, lucrando com a diferença.
- O risco envolvido: diferentemente da compra, na qual a perda máxima é limitada ao valor investido, a venda a descoberto pode gerar perdas ilimitadas, já que não há teto para a valorização de um ativo.
- Quando ocorre o squeeze: se a ação sobe fortemente, quem está vendido precisa recomprar os papéis para encerrar a operação. Essa corrida para a recompra eleva ainda mais a cotação, em um efeito dominó.
Gestão de risco e lições para o investidor
Para investidores pessoa física, o caso da Azul deixa um alerta sobre o uso de estratégias de venda a descoberto. O short squeeze é um fenômeno raro, mas possível, e tende a ocorrer em situações de concentração elevada de posições alugadas em relação ao free float, combinada a movimentos abruptos de valorização.
Gestão de risco, diversificação e monitoramento de indicadores como taxa de aluguel e volume de papéis alugados são instrumentos essenciais para mitigar esse tipo de exposição.
Em resumo, o episódio da Azul demonstra como a dinâmica entre comprados e vendidos pode transformar o mercado em um palco de movimentos rápidos e intensos, lembrando que nem sempre a lógica do investidor prevalece sobre a força da multidão.