Banco Central considera que política macroprudencial neutra é adequada ao momento, mostra ata do Comef

O Comitê de Estabilidade Financeira (Comef) avaliou que a política macroprudencial neutra segue adequada ao atual momento ao decidir manter em 0% o valor do chamado Adicional Contracíclico de Capital Principal (ACCP), de acordo com a ata da reunião deste mês divulgada pelo Banco Central nesta quarta-feira (27).
Segundo o documento, a decisão sobre a ACCP, divulgada na semana passada, considerou as condições financeiras, os preços dos ativos e as expectativas quanto ao comportamento do mercado de crédito. O BC havia indicado em maio que o patamar do ACCP poderia ser elevado.
O ACCP é um instrumento de mitigação de riscos relacionados a períodos de crescimento acelerado do crédito, quando há otimismo econômico, ou a fases de redução demasiada da oferta em tempos de pessimismo. Em geral, a reserva é acumulada pelos bancos em momentos de expansão do crédito para ser consumida na fase de retração, suavizando as tendências.
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Na ata, o Comef ressaltou que prossegue em seu estudo sobre a sistemática de estabelecer um valor positivo para o ACCP aplicável a períodos sem acúmulo significativo de riscos financeiros, ou buffer positivo neutro.
“Nesta reunião, o Comitê deu início à avaliação de metodologias de calibragem e dos impactos simulados da adoção da referida sistemática no âmbito nacional, etapa imprescindível para subsidiar a deliberação quanto à sua eventual implementação”, completou a ata.
O Banco Central tem mantido a taxa básica de juros Selic em nível restritivo, de 15% ao ano, com o objetivo de desacelerar a atividade econômica e levar a inflação à meta de 3%.
Na ata desta quarta-feira, o Comef ressaltou que o cenário global prospectivo ainda apresenta riscos que podem levar à materialização de cenários de reprecificação de ativos financeiros globais.
“As incertezas acerca do reposicionamento das políticas comerciais, dos eventos geopolíticos e de seus impactos sobre os ritmos da atividade e da inflação permanecem em níveis historicamente elevados”, apontou o documento.
“Somam-se a essas incertezas aquelas relacionadas aos níveis de equilíbrio das taxas de juros no longo prazo e à sustentabilidade fiscal de economias centrais.”
Segundo o Comef, o crédito amplo mantém ritmo de crescimento historicamente elevado, em um ambiente marcado por taxa básica de juros contracionista e elevado endividamento de famílias e empresas.
Segundo o comitê, a materialização de risco para micro, pequenas e médias empresas tem aumentado e deve continuar pressionada no curto prazo.
Para as famílias, as modalidades de maior risco continuam crescendo em ritmo superior ao das modalidades de menor risco, enquanto os ativos problemáticos estão em alta, principalmente no crédito rural.
“Embora em desaceleração pelo segundo trimestre consecutivo, o mercado de capitais segue crescendo em ritmo significativamente superior ao do crédito bancário. Na visão do Comitê, esse cenário requer cautela e diligência adicionais no mercado de crédito”, disse.
O Comitê ainda identificou aumento dos riscos tecnológicos, com destaque para a crescente complexidade dos ataques cibernéticos, reforçando a necessidade de que as entidades supervisionadas aprimorem continuamente seus sistemas de gerenciamento integrado de riscos, contemplando o adequado tratamento do risco tecnológico — o que inclui processos robustos de resposta a incidentes cibernéticos.