BusinessTimes

Banco Inter desafia pessimismo de Goldman Sachs e Morgan Stanley

18 dez 2019, 16:34 - atualizado em 18 dez 2019, 16:34
O Banco Inter virou um sucesso na bolsa ao oferecer serviços bancários digitais e de investimento com taxa zero às massas

Quando João Vitor Menin assumiu o comando do banco da família, o negócio era um mero coadjuvante no império de construção erguido pelo seu pai.

Quatro anos depois, e com ajuda do capital do SoftBank, a instituição financeira se tornou o ativo mais valioso do clã e uma das fintechs mais badaladas da América Latina.

O próximo desafio? Menin vai precisar provar que analistas de instituições como Goldman Sachs e Morgan Stanley estão errados sobre a ambiciosa estratégia dele.

O Banco Inter (BIDI4) virou um sucesso na bolsa ao oferecer serviços bancários digitais e de investimento com taxa zero às massas.

Atraído pela proposta, o SoftBank comprou uma participação de aproximadamente 15% nele neste ano, dando fôlego ao plano do Inter de se transformar na versão brasileira da gigante chinesa Alipay, que junta pagamentos e comércio em uma só plataforma.

A estratégia de Menin, que ele chama de “super app”, ficaria de pé pois toda vez que um produto for vendido em seu ambiente online, o Banco Inter ganharia alguns centavos.

Entre alguns dos principais analistas do setor financeiro, tem crescido o ceticismo com ideia. Os indicadores de rentabilidade do Inter, por exemplo, ainda estão muito atrás dos exibidos por bancos tradicionais na corrida para atrair clientes.

“Considerando o quanto estamos crescendo, acho heróico que estejamos gerando lucros e entregando esses níveis de lucratividade”, afirmou Menin em entrevista na sede do Inter em Belo Horizonte. “Eu não perco o sono por causa da diferença entre a nossa rentabilidade e a dos maiores bancos do Brasil.”

Rentabilidade

O Banco Inter teve retorno sobre o patrimônio líquido de 9,6% nos primeiros nove meses de 2019. No Itaú Unibanco (ITUB4) maior instituição financeira da América Latina por valor de mercado, essa métrica de rentabilidade chegou a 23,5%.

Menin prevê que a diferença vai encolher quando o Inter ultrapassar o período de crescimento exponencial. A base de clientes aumentou de 80.400 em 2016 para 4 milhões em dezembro e pode chegar a 8 milhões até o final do próximo ano, segundo ele.

Analistas do Goldman Sachs e do Morgan Stanley estão entre os que duvidam das promessas de Menin. Apenas um entre os oito analistas acompanhados pela Bloomberg que cobrem as ações do Inter recomendam a compra dos papéis.

A receita por cliente continua diminuindo, “criando perguntas sobre a qualidade dos clientes que estão sendo adicionados”, escreveram analistas do Morgan Stanley liderados por Jorge Kuri em relatório divulgado no mês passado.

SoftBank
Se os pessimistas estiverem certos, a SoftBank provavelmente amargará outro prejuízo em um momento difícil (Imagem: REUTERS/Issei Kato)

Eles cortaram a estimativa de preço para as ações preferenciais do banco para R$ 2,80 — 81% abaixo da cotação da terça-feira.

O preço-alvo do Goldman, de R$ 11, não é tão pessimista, mas a preocupação do analista Tito Labarta é semelhante.

“Apesar da nossa visão positiva da perspectiva de crescimento para o banco, achamos que o desafio será monetizar efetivamente a base de clientes para justificar a avaliação atual das ações”, escreveu Labarta em nota no mês passado.

Se os pessimistas estiverem certos, a SoftBank provavelmente amargará outro prejuízo em um momento difícil. O conglomerado japonês fez o primeiro investimento no Banco Inter em uma oferta de ações em julho, pagando R$ 13,33 cada, segundo fato relevante.

Em setembro, dobrou a participação a um preço semelhante, tornando-se segundo maior acionista depois de Rubens Menin, pai de João, que detém 26% do banco.

No mês passado, o SoftBank registrou o primeiro prejuízo operacional em 14 anos — de 704,4 bilhões de ienes (US$ 6,4 bilhões) — após dar baixa contábil em uma série de grandes investimentos, incluindo Uber Technologies e WeWork.

MRV
O clã é dono da MRV Engenharia e Participações (MRVE3), terceira maior construtora residencial do mundo e focada em pessoas de baixa renda (Imagem: Gustavo Kahil/ Money Times)

Origens

Diferentemente da maioria das fintechs, o Banco Inter já tem mais de duas décadas de idade. Rubens Menin e Marcos Fernandez o criaram como uma financeira em 1996.

O negócio foi reinventado várias vezes, oferecendo crédito consignado, empréstimos a empresas de médio porte e eventualmente financiamento imobiliário, aproximando-o do setor que deixou a família bilionária.

O clã é dono da MRV Engenharia e Participações (MRVE3), terceira maior construtora residencial do mundo e focada em pessoas de baixa renda.

João Menin, 37 anos, é formado em Engenharia Civil, assim como o pai, o avô e o bisavô dele. Ele trabalhou brevemente na MRV, mas passou para o banco antes de terminar a faculdade em 2004.

O caçula de Rubens assumiu a presidência do Inter em 2015. Dois anos depois, João repaginou o empreendimento como banco digital e, em 2018, abriu o capital em uma operação que colocou seu valor de mercado em R$ 1,8 bilhão.

Agora, vale cinco vezes mais: R$ 10,4 bilhões. A MRV tem valor de mercado de R$ 9,7 bilhões. “Sinto que vivemos 20 anos nos últimos dois”, diz Menin.

Até certo ponto, a estratégia do Banco Inter é semelhante à que fez a fortuna da MRV: concentrar-se nos excluídos. A instituição oferece empréstimos, cartões de crédito e produtos de investimento, prometendo cobrar menos do que os bancos tradicionais — e na maior parte das vezes sem cobrar nada. Em frente à sede, um Tarifômetro mostra quanto os clientes economizaram com tarifas (R$ 2,03 bilhões, pelas últimas estimativas).

“Um dos maiores e mais antigos bolsões de lucro do mundo são os bancos brasileiros”, afirmou Menin. “Isso vai mudar muito, muito rápido.”

As processadoras de pagamentos StoneCo e PagSeguro Digital também atraíram lojistas que eram clientes dos grandes bancos, uma briga na qual Menin está ansioso para entrar (Imagem: Money Times)

StoneCo, PagSeguro

O Inter não é o único disposto a chacoalhar esse mercado. Com capital fechado, o Nubank já é a sexta maior instituição financeira do País em número de clientes e foi avaliada em US$ 10,4 bilhões este ano.

As processadoras de pagamentos StoneCo e PagSeguro Digital também atraíram lojistas que eram clientes dos grandes bancos, uma briga na qual Menin está ansioso para entrar.

Ele promete usar “preços, preços e preços” para atrair pequenos comerciantes e empreendedores para o Banco Inter.

Ele também pode se apoiar mais no império SoftBank. O Banco Inter tem conversado com a Uber para oferecer serviços de pagamento aos motoristas, de acordo com reportagens veiculadas na imprensa local. Menin afirma que está sempre à procura de parceiros e não comentou além disso.

Também faz sentido ter parceria com outros investimentos da SoftBank na América Latina, como o serviço de entregas Rappi e a plataforma logística Loggi Tecnologia.

Menin também considera listar American Depositary Receipts (ADRs) do banco nos EUA, na esperança de convencer mais investidores do entusiasmo que contagiou acionistas no Brasil.

Giro da Semana

Receba as principais notícias e recomendações de investimento diretamente no seu e-mail. Tudo 100% gratuito. Inscreva-se no botão abaixo:

*Ao clicar no botão você autoriza o Money Times a utilizar os dados fornecidos para encaminhar conteúdos informativos e publicitários.