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BB/Fausto Ribeiro: oferta na safra 2022/23 será de R$ 200 bi, +48%

04 jul 2022, 17:11 - atualizado em 04 jul 2022, 17:11
Agronegócio Grãos Soja Trigo Agricultura
Dos R$ 25,7 bilhões concedidos pelo sistema de crédito cooperativo Sicredi na safra atual, por exemplo, 80% foram para os Estados do Rio Grande do Sul, Paraná e Mato Grosso (Imagem: Pixabay/reijotelaranta)

O Banco do Brasil (BBAS3) ofertará na safra 2022/23, que começou no dia 1º de julho e vai até 30 de junho de 2023, R$ 200 bilhões em crédito rural, montante 48% superior aos R$ 135 bilhões anunciados para a safra 2021/22, encerrada no dia 30.

Em entrevista exclusiva ao Broadcast Agro, o presidente do BB, Fausto Ribeiro, disse que a perspectiva é de que entre 30% e 35% do dinheiro seja concedido com taxas de juros equalizadas pelo governo federal por meio do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf) e do Programa Nacional de Apoio ao Médio Produtor Rural (Pronamp) – o BB solicitou ao governo recursos para oferecer R$ 62,3 bilhões em crédito com taxas equalizadas, 48,3% acima dos R$ 43 bilhões ofertados na safra atual.

O governo ainda não divulgou os valores a serem destinados a cada instituição financeira que distribuirá recursos com taxas subsidiadas. “Se vier menos do que o valor solicitado, vamos oferecer os R$ 200 bilhões de qualquer forma, buscaremos alternativas.

Nossa preocupação é menos em relação aos R$ 200 bilhões e mais pelo que representa para o pronafiano (o pequeno produtor familiar)”, disse Ribeiro, referindo-se aos beneficiários do Pronaf.

A preocupação, continuou, é com a possível concentração de recursos em algumas regiões que pode vir a ocorrer, a depender de como o governo distribuir dinheiro do Tesouro Nacional para a equalização de taxas de juros.

Dos R$ 25,7 bilhões concedidos pelo sistema de crédito cooperativo Sicredi na safra atual, por exemplo, 80% foram para os Estados do Rio Grande do Sul, Paraná e Mato Grosso.

Considerando o número de operações, 82,6% foram do Paraná e do Rio Grande do Sul, de acordo com vice-presidente de Agronegócios do BB, Renato Naegele. Ao todo, além do BB, 21 instituições financeiras solicitaram recursos do Tesouro para conceder crédito rural com taxas de juros equalizadas, segundo Naegele.

“Eu não acredito em uma mudança radical (na distribuição dos recursos do Tesouro para equalização). Novos entrantes são muito bons para o sistema, a concorrência é salutar para nos impulsionar a aprimorar outros processos, mas o agro requer velocidade, o crédito precisa chegar porque o produtor precisa plantar quando se abrem as janelas de plantio, que são diferentes de Norte a Sul do Brasil”, afirmou Ribeiro. “Não temos o retorno exato do Tesouro (sobre o quanto o banco receberá), o que pedimos é que fosse criado um mecanismo de realocação dos recursos, caso uma instituição financeira não esteja distribuindo, para não faltar recursos para os pronafianos” continuou.

A proposta, de acordo com o presidente do BB, é que o governo monitore, a cada 15 ou 30 dias – o prazo ainda não foi informado -, a liberação dos financiamentos pelas instituições financeiras que receberem recursos do Tesouro para equalização de taxas. Caso esta distribuição não esteja ocorrendo na velocidade necessária, o governo fará um remanejamento do dinheiro.

O BB já considera alternativas para atender aos produtores do Pronaf e do Pronamp, caso receba menos do que o suficiente para oferecer os R$ 62,3 bilhões com taxas subsidiadas.

O principal caminho deve ser obter mais Depósitos Interbancários (DIR). Os DIR são realizados por instituições financeiras com depósitos à vista que não conseguem cumprir a regra de destinar 25% dessas captações para linhas de crédito rural. Para atenderem à determinação do Banco Central, elas transferem o recurso para outra instituição que possa fazer o dinheiro chegar aos produtores.

Banco do Brasil
O BB já considera alternativas para atender aos produtores do Pronaf e do Pronamp, caso receba menos do que o suficiente para oferecer os R$ 62,3 bilhões com taxas subsidiadas (Imagem: REUTERS/Paulo Whitaker)

Na safra 2021/22, o Banco do Brasil tomou aproximadamente R$ 500 milhões em DIR, bem menos do que os R$ 5,7 bilhões contratados na temporada anterior, 2020/21, e 2,5% do total de R$ 20 bilhões contabilizados em DIR de julho de 2021 a janeiro deste ano.

Segundo Naegele, o BB optou por tomar pouco DIR na safra atual porque as instituições financeiras que estavam fazendo o repasse queriam cobrar pela operação – uma taxa média de 3%. Na safra 2022/23, Ribeiro e Naegele consideram a possibilidade de aumentar as captações por meio de DIR para atender a um maior número de produtores por meio do Pronaf e do Pronamp.

Os recursos com taxas equalizadas pelo governo farão parte dos cerca de 60% a 65% dos R$ 200 bilhões – R$ 120 bilhões a R$ 130 bilhões – que o Banco do Brasil pretende oferecer com taxas controladas.

De acordo com Ribeiro, a perspectiva é de que o montante a ser ofertado para custeio da safra cresça em proporção semelhante aos 48%. Na safra 2021/22, o BB anunciou R$ 74 bilhões para custeio e R$ 33 bilhões para linhas de investimento no setor.

Além disso, o Pronaf contou R$ 17 bilhões, o Pronamp com R$ 17,2 bilhões e os demais produtores, de maior porte, R$ 87,3 bilhões. Dos R$ 135 bilhões anunciados para a safra 2021/22, R$ 121,5 bilhões tiveram taxas de juros controladas (com e sem equalização). Para investimentos, há perspectiva de demanda um pouco menor, em virtude das taxas de juros mais altas atualmente.

Captação externa

Ribeiro enfatizou que o BB pretende ficar “cada vez menos dependente” dos recursos que têm taxas equalizadas pelo governo para ofertar crédito ao setor agropecuário. “Temos cerca de R$ 50 bilhões de portfólio de Pronaf de baixo carbono.

Por que não envelopar isso em uma espécie de Fiagro e buscar investidores estrangeiros dispostos a ganhar um pouco menos? Pretendemos fazer algo nessa linha na safra 2023/24, porque o mercado de carbono precisa amadurecer”, comentou o executivo. “Já conversei com vários agentes, grandes fundos internacionais, sabemos que há investidores dispostos a receber um pouco menos em investimentos com selo verde”, continuou.

Para a safra 2022/23, o BB prevê captar US$ 780 milhões junto a três instituições financeiras estrangeiras. A primeira delas será uma operação envolvendo US$ 200 milhões, aproximadamente R$ 1 bilhão, junto ao New Development Bank (NDB), banco de desenvolvimento do Brics.

A primeira operação de crédito com recursos dessa frente deve ser anunciada na próxima semana, envolvendo US$ 3,5 milhões para financiamento de silos, com prazo de amortização de 15 anos.

O BB também trabalha em uma captação de US$ 500 milhões junto ao Banco Mundial para projetos com atributos ESG (atendendo a critérios ambientais, sociais e de governança), que precisa de aval do Senado e deve ser votado na casa no segundo semestre. Além disso, está em negociação uma linha de US$ 80 milhões com a agência francesa de fomento (AFD, na sigla em francês). “Provavelmente também faremos a emissão de um green bond (título verde) no exterior. Não sabemos ainda o valor”, contou Ribeiro.

Safra 2021/22 O Banco do Brasil estima concluir a safra 2021/22 com R$ 153 bilhões em crédito concedido ao setor rural, 13,3% acima dos R$ 135 bilhões anunciados no início da safra. O montante também é 34,2% superior aos R$ 114 bilhões concedidos na safra 2020/21. O número de operações deve chegar “certamente” a 600 mil, disse Ribeiro, das quais mais de 320 mil contratadas dentro do Pronaf. Conforme o banco, 59% de todo o crédito rural concedido diretamente para produtores rurais pessoa física saiu do Banco do Brasil.

A carteira agro do BB, que em março somava R$ 254,6 bilhões – 28% superior à de março de 2021 – deve fechar o semestre com R$ 260 bilhões, segundo Naegele. A taxa de inadimplência, de 0,6% em março, já recuou para 0,5% e deve cair para 0,48% no fechamento do mês de junho.

Em títulos do agro (Cédula de Produto Rural – CPR e Certificado de Direitos Creditórios do Agronegócio – CDCA), o Banco do Brasil contabilizava até 24 de junho desembolso de R$ 20,9 bilhões.

No fim de março, os desembolsos por CPRs no acumulado da safra (desde julho do ano passado) somavam R$ 6,7 bilhões, alta de 45% em comparação a igual período da safra 2020/21. Com relação aos CDCAs (títulos emitidos por cooperativas e agroindústrias), os desembolsos chegavam a R$ 7,5 bilhões até março, mais de 2,334 mil por cento na comparação com a safra anterior.

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