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“BBB 23” quer arrecadar R$ 1 bilhão, mas só 0,15% vai para o vencedor

05 set 2022, 14:07 - atualizado em 05 set 2022, 14:07
bbb
A vigésima terceira edição do BBB já deu início à divulgação do plano comercial (Imagem: Gshow)

A Globo começou a divulgar o plano comercial do “Big Brother Brasil 23, o BBB”, que estreia no dia 16 de janeiro de 2023. O material, destinado às agências de publicidade, apresenta as cotas à disposição do mercado. A emissora tem a audaciosa meta de arrecadar R$ 1 bilhão antes mesmo do início do programa.

Apesar de todo um esforço para a criação de novos formatos comerciais, a Globo persiste em um erro o qual vem sendo alertada há alguns anos: a necessidade de reajustar o prêmio dado ao vencedor, que mais uma vez será de R$ 1,5 milhão.

Esta cifra é a mesma desde 2010. Caso tivesse sido corrigida pelo IPCA-E (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo Especial, que realiza o balanço trimestral da inflação), o valor para 2023 deveria ser de no mínimo R$ 3,1 milhões.

Para mitigar o impacto de mais um ano com o valor do prêmio mantido, a Globo criou uma cota para oferecer prêmios fixos em dinheiro para participantes que não forem eliminados.

Por que não corrigir o valor do prêmio pode ter impacto tão forte no sucesso do programa?

Medo do cancelamento

O medo do chamado ‘cancelamento’ assombra o BBB desde que as redes sociais se democratizaram.

Em um mundo em que as redes sociais passaram a servir como um pêndulo para que marcas escolhessem seus embaixadores, o pensamento dos participantes vai muito além do programa.

O prêmio de R$ 1,5 milhão continua sendo interessante, mas não compensa determinadas formas de exposição – como brigas e complôs, que são os ingredientes principais de um programa como o BBB.

Karol Conká, que foi uma das maiores vilãs de toda a história do programa, sentiu na pele o peso do cancelamento. A cantora teve uma passagem turbulenta na temporada de 2021. Acusada por tortura psicológica e bullying, Karol deixou o programa com 99,17% dos votos – algo inimaginável até mesmo considerando as performances de outras franquias do reality.

Na relação Karol e Globo, só a emissora saiu beneficiada. A eliminação da cantora rendeu 38 pontos de média na Grande São Paulo, recorde do formato em 10 anos. Para efeitos de comparação, a última novela inédita da Globo a superar a média de 38 pontos foi “A Dona do Pedaço”, finalizada em 2019.

Karol ficou com o prejuízo, que à época foi orçado em cerca de R$ 5 milhões com o cancelamento de shows e ações publicitárias. Ou seja, mesmo que na remota possibilidade de o telespectador discordar de Karol, mas querer mantê-la na casa para ‘ver o programa pegar fogo’, ela enquanto vencedora ganharia R$ 1,5 milhão, que deduzidos dos R$ 5 milhões que perdera, ainda ficaria no prejuízo de R$ 3,5 milhões. O cancelamento saiu caro.

O melhor do “BBB” é quando ele acaba

Novamente reforçando o peso das redes sociais, o melhor do “BBB” para quem participa dele é certamente após o seu término. E isso tem influência direta no comportamento dos participantes durante as semanas ou meses em que estão confinados.

Gil do Vigor, que caiu nas graças do público na edição de 2021, foi eliminado às vésperas do desfecho do programa. Mas isso se tornou um mero detalhe.

Querido por todos e, consequentemente, pelas marcas, o economista teria faturado cerca de R$ 2,5 milhões com apenas um contrato com um banco privado que o projetou como garoto propaganda em um comercial no “Fantástico”, um dos espaços mais caros da TV brasileira.

Em entrevista dada à Forbes no segundo semestre do ano passado, Gil revelou ter faturado cerca R$ 15 milhões e fechado contrato com mais de 20 marcas. Ou seja, Gil ganhou 10 vezes mais que o prêmio máximo do “BBB”.

Arthur Aguiar enfrentou uma situação oposta: coroado vencedor da edição deste ano, o cantor não conseguiu reverter sua popularidade em dinheiro por meio de publicidade.

O ápice da participação de Arthur se deu no embate com Jade Picon. A influencer bancou uma queda de braço com o cantor e saiu derrotada com 84% dos votos. Mas de lá em diante, o participante dividiu opiniões do público de forma extrema: ou era amado, ou era odiado. Não havia quem o considerasse indiferente.

Com a fama de manipulador e com o histórico de traições à mulher Maíra Cardi, que participou do “BBB” em 2009, as marcas preferiram fugir de Arthur.

De lá para cá, suas publis se resumiram a uma universidade privada da baixada fluminense, conhecida apenas na região, e alguns sorteios de iPhones – bastante comuns a subcelebridades e altamente questionáveis, já que são considerados ilegais caso não tenham registro na Caixa Econômica Federal.

Vale a pena ir para o tudo ou nada?

O prêmio de R$ 1,5 milhão do “BBB” não justifica mais o ‘tudo ou nada’. Antes das redes sociais, quando o efeito do programa se limitava à TV, havia sentido: a busca pelo prêmio máximo era a oportunidade de mudar de vida e aqueles que não conseguiam voltavam à vida normal, contando com o esquecimento do público nos meses seguintes.

Com o novo comportamento do telespectador, que neste caso também é consumidor, o cuidado é redobrado. Sem visibilidade direta da opinião do público, os participantes continuarão mensurando o peso de cada discussão antes de entrar nela.

Soa curioso que, para um programa com meta de arrecadar R$ 1 bilhão antes mesmo de entrar no ar, a Globo queria destinar apenas 0,15% deste valor ao vencedor – que tem papel fundamental no êxito do projeto e até mesmo na viabilidade comercial do formato para os próximos anos.

Com edições menos movimentadas, o programa perde prestígio, o que tornará a meta de R$ 1 bilhão ainda mais distante de ser alcançada. Um eventual reajuste para R$ 5 ou R$ 10 milhões pouco afetará o caixa do programa, mas servirá de combustível para que o elenco se esforce para continuar na disputa e tornar o jogo interessante.

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João Gabriel Batista é publicitário, com pós-graduação em Marketing and Sales na Escola de Negócios Saint Paul e MBA em Gestão Empresarial pela FGV. Tem 30 anos e atua com marketing há 11, com passagens por veículos de comunicação, como emissora de TV, rádio e jornal, e multinacionais do segmento de telecom.
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João Gabriel Batista é publicitário, com pós-graduação em Marketing and Sales na Escola de Negócios Saint Paul e MBA em Gestão Empresarial pela FGV. Tem 30 anos e atua com marketing há 11, com passagens por veículos de comunicação, como emissora de TV, rádio e jornal, e multinacionais do segmento de telecom.
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