BC adia corte de juros de janeiro: Qual é o próximo passo para a Selic?
O Banco Central afastou as apostas de início de corte de juros já em janeiro de 2026. No comunicado divulgado nesta quarta-feira (10), junto com a decisão unânime de manter a Selic em 15% pela quarta reunião consecutiva, o Comitê de Política Monetária (Copom) destacou que o cenário econômico continua exigindo cautela.
Segundo o BC, no lado externo, a incerteza gerada pela conjuntura e pela política econômica nos Estados Unidos segue pressionando as condições financeiras globais. Já no âmbito doméstico, os indicadores apontam trajetória de moderação no crescimento da atividade econômica, mercado de trabalho resiliente e expectativas de inflação acima da meta.
“O cenário segue sendo marcado por expectativas desancoradas, projeções de inflação elevadas, resiliência da atividade econômica e pressões no mercado de trabalho”, afirmou o Copom. Com isso, a política monetária brasileira continuará em patamar contracionista por período “bastante prolongado”.
Étore Sanchez, economista-chefe da Ativa Investimentos, destaca que o BC buscou manter um tom neutro no comunicado. Como novidade, o Comitê utilizou a divulgação do PIB para afirmar que a atividade econômica está se comportando conforme suas expectativas e reafirmou o arrefecimento da inflação.
“O parágrafo prospectivo trouxe ajustes que soaram mais como correções de redação do que mudanças de mensagem, reafirmando a perspectiva de que a manutenção dos juros por período prolongado é adequada para assegurar a convergência da inflação à meta”, disse.
O economista projeta que o início do afrouxamento monetário deve ocorrer apenas posteriormente ao que está precificado pelo mercado, em abril, já que a autoridade busca consolidar sua credibilidade por meio da estratégia inicialmente adotada de “hawkish hold”.
Marcelo Bolzan, planejador financeiro e sócio da The Hill Capital, observa que a comunicação foi similar à do último comunicado e mais dura do que o esperado pelo mercado, que imaginava que o Copom deixaria aberta a possibilidade de corte de juros nos próximos meses.
“Para a próxima reunião, em janeiro, acredito que teremos nova manutenção da taxa. Esse tom mais duro empurra para março a possibilidade de corte. Antes disso, o Comitê precisará ajustar o discurso e justificar a chance de redução futura da Selic”, afirmou.
Já Gustavo Cruz, estrategista-chefe da RB Investimentos, aponta que a decisão de hoje pode desagradar parte do mercado e da ala política, que considera 15% exagerado, especialmente porque o próprio Copom projeta chegar a 3,2% no horizonte relevante, próximo da meta.
“Mas, ao meu ver, o Comitê quis reduzir ruídos no radar. O Galípolo tem deixado claro que precisa cumprir o que foi sinalizado previamente e não parece confortável em indicar agora um corte de juros. Por isso, quem considerava janeiro como primeira redução provavelmente terá que postergar”, completou.