Economia

BC eleva Selic em 1 ponto e indica que repetirá a dose e avançará em “território contracionista”

22 set 2021, 18:57 - atualizado em 22 set 2021, 19:28
Banco Central
O Copom reitera que perseverar no processo de reformas e ajustes necessários na economia brasileira é essencial para permitir a recuperação sustentável da economia (Imagem: Agência Brasil)

O Banco Central aumentou a taxa básica de juros em 1 ponto percentual nesta quarta-feira, ao patamar de 6,25% ao ano, dando sequência ao seu agressivo ciclo de aperto monetário para domar uma inflação que tem se mostrado mais persistente e disseminada.

O BC sinalizou, em comunicado, que deverá adotar outro ajuste de igual magnitude na próxima reunião do Comitê de Política Monetária, em outubro, e frisou que sua intenção é avançar no território em que a taxa de juros atua no sentido de esfriar a economia para conseguir com isso conter a inflação.

“O Copom considera que, no atual estágio do ciclo de elevação de juros, esse ritmo de ajuste é o mais adequado para garantir a convergência da inflação para a meta no horizonte relevante e, simultaneamente, permitir que o Comitê obtenha mais informações sobre o estado da economia e o grau de persistência dos choques”, disse o Copom.

“Neste momento, o cenário básico e o balanço de riscos do Copom indicam ser apropriado que o ciclo de aperto monetário avance no território contracionista.”

Em pesquisa Reuters, 25 dos 35 economistas ouvidos pela Reuters previram aumento de 1 ponto na Selic, enquanto oito projetaram elevação de 1,25 ponto. Os dois restantes estimaram alta de 1,5 ponto e de 0,75 ponto na Selic.

Esta foi a segunda vez seguida em que o BC ajustou a taxa básica nesta magnitude. Desde março, quando tirou a Selic da mínima histórica de 2% ao ano, o BC já subiu os juros básicos em 4,25 pontos, em cinco altas consecutivas.

A decisão do BC desta quarta-feira veio após o presidente da autarquia, Roberto Campos Neto, indicar que a autoridade monetária não mudaria seu plano de voo a cada nova divulgação de dado de alta frequência, desfazendo parte das apostas no mercado sobre uma alta mais pronunciada na Selic após dados recentes de inflação terem surpreendido para cima.

O BC pontuou que a inflação ao consumidor segue elevada e que a alta em bens industriais deve prosseguir no curto prazo. Também destacou que os preços de serviços subiram a taxas maiores, embora tenha ponderado que o movimento era esperado em meio à gradual normalização da atividade no setor.

“Adicionalmente, persistem as pressões sobre componentes voláteis como alimentos, combustíveis e, especialmente, energia elétrica, que refletem fatores como câmbio, preços de commodities e condições climáticas desfavoráveis”, destacou o BC.

Nos 12 meses até agosto, a inflação medida pelo IPCA bateu em 9,68%, se distanciando com força da meta central de 3,75%, com margem de erro de 1,5 ponto percentual para mais ou para menos.

Choques nos preços embalados por fatores como a crise hídrica e a alta do dólar frente ao real, que encarece produtos importados, têm afetado expectativas para este ano e também para o próximo.

O próprio BC passou a ver inflação de 8,5% em 2021, frente a 6,5% antes, conforme projeções divulgadas nesta quarta-feira para seu cenário básico.

Banco Central
A meta de inflação para 2022 é de 3,5% e para 2023 de 3,25%, sempre com banda de tolerância de 1,5 ponto (Imagem: REUTERS/Adriano Machado)

Em relação aos anos de 2022 e 2023, que compõem o seu horizonte relevante para a política monetária, as expectativas do BC são agora de inflação de 3,7% e 3,2%, respectivamente, ante 3,5% e 3,2% anteriormente.

A meta de inflação para 2022 é de 3,5% e para 2023 de 3,25%, sempre com banda de tolerância de 1,5 ponto.

Ao contrário do BC, que somente neste quarta-feira indicou o IPCA ligeiramente acima do centro da meta no ano que vem, o mercado há algum tempo passou a estimar esse avanço.

No boletim Focus mais recente, feito pelo BC junto a uma centena de economistas, as expectativas para o IPCA eram de alta de 8,35% neste ano, 4,10% no ano que vem e 3,25% em 2023.

Atividade

Desde agosto, o BC tem apontado a intenção de levar a Selic para além do patamar neutro, com a taxa encerrando o ciclo, portanto, em um nível em que atuaria para desaquecer a economia.

Mas os desafios para a autoridade monetária, que também abarcam o lado fiscal e acontecimentos no cenário externo, têm ganhado novos contornos.

Se no quadro doméstico pairam dúvidas sobre o comprometimento com a sustentabilidade das contas públicas diante da pesada conta de precatórios para 2022 e do desafio de financiamento do novo Bolsa Família, na cena internacional as incertezas têm aumentado em meio ao impacto da variante Delta do coronavírus.

No comunicado desta quarta-feira, o BC chamou a atenção para dois fatores adicionais de risco para o crescimento das economias emergentes: projeções de crescimento menor para economias asiáticas, exatamente por causa da variante Delta, e o aperto monetário conduzido em economias emergentes em reação a surpresas inflacionárias.

“No entanto, os estímulos monetários de longa duração e a reabertura das principais economias ainda sustentam um ambiente favorável para países emergentes”, disse.

“O Comitê mantém a avaliação de que questionamentos dos mercados a respeito dos riscos inflacionários nas economias avançadas podem tornar o ambiente desafiador para países emergentes”, completou.

Sobre a economia brasileira, o BC indicou que a divulgação do PIB do segundo trimestre com contração de 0,1% sobre os três meses anteriores “continua mostrando evolução positiva e não enseja mudança relevante para o cenário prospectivo”.

Na visão do BC, o segundo semestre seguirá marcado por recuperação robusta do crescimento econômico. A última projeção para o PIB feita pela autoridade monetária era de alta de 4,6% este ano.

Em sua 241ª reunião, o Comitê de Política Monetária (Copom) decidiu, por unanimidade, elevar a taxa Selic para 6,25% a.a.

A atualização do cenário básico do Copom pode ser descrita com as seguintes observações:

No cenário externo observam-se dois fatores adicionais de risco para o crescimento das economias emergentes. Primeiro, reduções nas projeções de crescimento das economias asiáticas, refletindo a evolução da variante Delta da Covid-19.

Segundo, o aperto das condições monetárias em diversas economias emergentes, em reação a surpresas inflacionárias recentes.

No entanto, os estímulos monetários de longa duração e a reabertura das principais economias ainda sustentam um ambiente favorável para países emergentes. O Comitê mantém a avaliação de que questionamentos dos mercados a respeito dos riscos inflacionários nas economias avançadas podem tornar o ambiente desafiador para países emergentes.

Em relação à atividade econômica brasileira, a divulgação do PIB do segundo trimestre, assim como os indicadores mais recentes, continua mostrando evolução positiva e não enseja mudança relevante para o cenário prospectivo, o qual contempla recuperação robusta do crescimento econômico ao longo do segundo semestre.

A inflação ao consumidor segue elevada. A alta nos preços dos bens industriais – decorrente de repasses de custos, das restrições de oferta e do redirecionamento da demanda em direção a bens – ainda não arrefeceu e deve persistir no curto prazo.

Ademais, nos últimos meses os preços dos serviços cresceram a taxas mais elevadas, refletindo a gradual normalização da atividade no setor, dinâmica que já era esperada. Adicionalmente, persistem as pressões sobre componentes voláteis como alimentos, combustíveis e, especialmente, energia elétrica, que refletem fatores como câmbio, preços de commodities e condições climáticas desfavoráveis.

As diversas medidas de inflação subjacente apresentam-se acima do intervalo compatível com o cumprimento da meta para a inflação.
As expectativas de inflação para 2021, 2022 e 2023 apuradas pela pesquisa Focus encontram-se em torno de 8,3%, 4,1% e 3,25%, respectivamente.

Banco Central
O Comitê ressalta que, em seu cenário básico para a inflação, permanecem fatores de risco em ambas as direções (REUTERS/ Ueslei Marcelino)

No cenário básico, com trajetória para a taxa de juros extraída da pesquisa Focus e taxa de câmbio partindo de USD/BRL 5,25*, e evoluindo segundo a paridade do poder de compra (PPC), as projeções de inflação do Copom situam-se em torno de 8,5% para 2021, 3,7% para 2022 e 3,2% para 2023. Esse cenário supõe trajetória de juros que se eleva para 8,25% a.a. neste ano e para 8,50% a.a. durante 2022, e reduz-se para 6,75% a.a. em 2023.

Nesse cenário, as projeções para a inflação de preços administrados são de 13,7% para 2021, 4,2% para 2022 e 4,8% para 2023. Adota-se a hipótese de bandeiras tarifárias “escassez hídrica” em dezembro de 2021 e “vermelha patamar 2” em dezembro de 2022 e dezembro de 2023.

O Comitê ressalta que, em seu cenário básico para a inflação, permanecem fatores de risco em ambas as direções.

Por um lado, uma possível reversão, ainda que parcial, do aumento recente nos preços das commodities internacionais em moeda local produziria trajetória de inflação abaixo do cenário básico.

Por outro lado, novos prolongamentos das políticas fiscais de resposta à pandemia que pressionem a demanda agregada e piorem a trajetória fiscal podem elevar os prêmios de risco do país.

Apesar da melhora recente nos indicadores de sustentabilidade da dívida pública, o risco fiscal elevado segue criando uma assimetria altista no balanço de riscos, ou seja, com trajetórias para a inflação acima do projetado no horizonte relevante para a política monetária.

O Copom reitera que perseverar no processo de reformas e ajustes necessários na economia brasileira é essencial para permitir a recuperação sustentável da economia.

O Comitê ressalta, ainda, que questionamentos sobre a continuidade das reformas e alterações de caráter permanente no processo de ajuste das contas públicas podem elevar a taxa de juros estrutural da economia.

Considerando o cenário básico, o balanço de riscos e o amplo conjunto de informações disponíveis, o Copom decidiu, por unanimidade, elevar a taxa básica de juros em 1,00 ponto percentual, para 6,25% a.a.

O Comitê entende que essa decisão reflete seu cenário básico e um balanço de riscos de variância maior do que a usual para a inflação prospectiva e é compatível com a convergência da inflação para as metas no horizonte relevante, que inclui o ano-calendário de 2022 e, em grau menor, o de 2023.

Sem prejuízo de seu objetivo fundamental de assegurar a estabilidade de preços, essa decisão também implica suavização das flutuações do nível de atividade econômica e fomento do pleno emprego.

O Copom considera que, no atual estágio do ciclo de elevação de juros, esse ritmo de ajuste é o mais adequado para garantir a convergência da inflação para a meta no horizonte relevante e, simultaneamente, permitir que o Comitê obtenha mais informações sobre o estado da economia e o grau de persistência dos choques.

Neste momento, o cenário básico e o balanço de riscos do Copom indicam ser apropriado que o ciclo de aperto monetário avance no território contracionista.

Para a próxima reunião, o Comitê antevê outro ajuste da mesma magnitude. O Copom enfatiza que os passos futuros da política monetária poderão ser ajustados para assegurar o cumprimento da meta de inflação e dependerão da evolução da atividade econômica, do balanço de riscos e das projeções e expectativas de inflação para o horizonte relevante da política monetária.

Votaram por essa decisão os seguintes membros do Comitê: Roberto Oliveira Campos Neto (presidente), Bruno Serra Fernandes, Carolina de Assis Barros, Fabio Kanczuk, Fernanda Magalhães Rumenos Guardado, João Manoel Pinho de Mello, Maurício Costa de Moura, Otávio Ribeiro Damaso e Paulo Sérgio Neves de Souza.

*Valor obtido pelo procedimento usual de arredondar a cotação média da taxa de câmbio USD/BRL observada nos cinco dias úteis encerrados no último dia da semana anterior à da reunião do Copom.

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