Black Friday: armadilha ou oportunidade?
A temporada de compras mais intensa do ano está prestes a começar. O combo Black Friday + Natal deve repetir o cenário de vitrines piscando, cupons agressivos e promoções que evaporam em segundos.
A diferença, em 2025, é que o consumidor brasileiro chega mais pressionado — mas, pelo menos em teoria, mais preparado: 70% dos entrevistados afirmam ter feito algum planejamento financeiro para a Black Friday, segundo levantamentos recentes de intenção de compra.
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Planejamento, porém, não é garantia de boas decisões. E é justamente aí que mora o risco.
Enquanto o varejo acelera ofertas, especialistas em finanças pessoais fazem um alerta recorrente: o maior inimigo do orçamento não é o preço, mas o impulso — aquele gatilho difícil de controlar.
“Quando a compra deixa de ser uma escolha racional e vira uma reação emocional, os meses seguintes podem ficar comprometidos”, afirma Eduardo Trigueiro, educador financeiro do Sicoob.
Promoções são vantajosas — mas só para quem sabe como usar
Trigueiro destaca que a Black Friday pode, sim, ser uma aliada do bolso: é o momento de antecipar presentes de fim de ano, substituir itens essenciais e até aproveitar descontos reais em produtos de maior valor.
Mas isso depende de uma lógica simples, frequentemente deixada de lado:
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economizar não é reduzir um gasto; é evitar o gasto;
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desconto não faz milagre se resultar em dívidas.
Para evitar armadilhas, o especialista cita algumas regras básicas — simples, mas quase sempre ignoradas:
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liste apenas o que é realmente necessário;
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estabeleça um teto de gastos e cumpra-o;
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pesquise preços antes de comprar;
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evite cair na compra por impulso disfarçada de “oferta imperdível”.
O alerta ganha força em 2025, ano em que o consumidor enfrenta dois vetores simultâneos: o apelo das promoções e o peso do endividamento.
O Sicoob lembra que seu aplicativo permite acompanhar gastos em tempo real, simular compras e monitorar limites — ferramentas úteis em meio ao turbilhão promocional.
O Brasil compra muito — e deve ainda mais
A Black Friday de 2024 movimentou R$ 9,4 bilhões. Para 2025, a ABComm projeta mais de R$ 13 bilhões em vendas. Números expressivos, mas que convivem com um quadro de endividamento crescente.
O levantamento mais recente da CNC mostra que:
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79,2% das famílias têm dívidas em aberto;
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30,5% estão com contas atrasadas — maior nível da série histórica.
No Mapa da Inadimplência do Serasa, o retrato segue alarmante: 79,1 milhões de brasileiros endividados.
Desconto ou cilada?
Considerando o bombardeio promocional, o consumidor já começa em desvantagem. Ofertas relâmpago, cupons que expiram em minutos, “últimas unidades” e banners piscando atuam como gatilhos emocionais que empurram para decisões irracionais.
É a lógica descrita por Rodrigo Mandaliti, presidente do IGEOC: “A Black Friday pode ser positiva, mas o desconto precisa caber no orçamento. O que parece economia pode iniciar uma bola de neve.”
Outro ponto crítico é a maquiagem de preços: produtos que aparecem com 40% de desconto, mas voltam apenas ao valor que tinham antes da “prévia” promocional.
O alerta é direto: não basta observar o percentual de desconto — é preciso olhar o preço final. Frete, taxas e instalação podem transformar a “oferta” em prejuízo.
E há o velho inimigo do bolso: o crédito rotativo do cartão, cuja taxa de inadimplência já supera 60%. Usá-lo significa, como observa Mandaliti, “contratar o empréstimo mais caro do mercado”.
Quando o desconto vira dívida
O educador financeiro Ricardo Malaquias, da Simplic, reforça que a sedução de um preço baixo pode suspender o senso crítico: “A oportunidade pode levar alguém a comprometer o orçamento com algo que, em condições normais, sequer cogitaria comprar.”

Por isso, em anos de orçamento apertado, a Black Friday deve ser encarada como estratégia — não como caça ao tesouro.
A estratégia envolve:
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acompanhar preços ao longo de semanas;
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desconfiar de ofertas milagrosas;
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priorizar pagamentos à vista;
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entender o custo total do parcelamento;
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usar crédito com propósito, não como extensão do salário.
Malaquias lembra que a migração para modalidades como carnês — mais previsíveis — reflete a busca por maior controle em meio aos juros altos.
A linha tênue entre aproveitar e se complicar
Educação financeira não é sobre proibir compras, mas sobre escolher melhor: decidir o que comprar, quando comprar e como pagar — sem deixar que o desconto decida por você.
O cofundador do Velotax, Victor Savioli, sintetiza o ponto: “Educação financeira é, no fim das contas, liberdade para escolher bem.”
E reforça: a Black Friday pode ser um caminho para economizar, mas apenas para quem entende que o verdadeiro risco não está no preço — está na decisão.