Blindagem corporativa da Petrobras tem 1º grande teste; Ações despencam

A Petrobras (PETR3; PETR4) enfrenta nesta semana o seu maior teste de blindagem corporativa desde a nomeação do atual presidente, Pedro Parente, em maio de 2016, e da adoção da sua política de preços em outubro daquele mesmo ano.
Como é calculado o preço da gasolina e do diesel no Brasil?
A sociedade, com as greves dos caminhoneiros em seu terceiro dia, o governo e o Congresso passaram a pressionar a estatal após um aumento dos preços domésticos da gasolina e do diesel em 17% e 16%, respectivamente, nos últimos 30 dias.
Ontem, após reunião com os presidentes da Câmara e do Senado, o ministro da Fazenda, Eduardo Guardia, se comprometeu a zerar a Cide sobre o diesel. O corte, entretanto, está condicionado à aprovação do projeto de reoneração da folha de pagamento.
“Enxergamos esta decisão do governo como benéfica para a companhia petrolífera, uma vez que acreditamos que quaisquer mudanças significativas na política de preços da Petrobras poderiam ser negativamente recebidas pelo mercado, já que isso diminuiria a visibilidade da empresa de gerar resultados positivos em seus principais negócios de refino”, ressaltou o analista Christian Audi do Santander, em um relatório.

Isso não parece ter sido o suficiente. Em declaração feita hoje, o presidente do Senado, Eunício Oliveira, disse que o Congresso irá questionar a política de precificação da Petrobras. Além disso, Rodrigo Maia, já disse que quer incluir no debate a redução do PIS/COFINS.
“Queremos ampliar para gasolina, mas queremos fazer as contas antes.” Maia calcula que, com a medida provisória do Fundo Soberano, entrarão no caixa do governo R$ 25 bilhões. “Aí queremos discutir gás de cozinha e gasolina”, completou.
Impacto
Com a estatal anunciando hoje pelo segundo dia consecutivo uma redução nos preços da gasolina e do diesel em suas refinarias, o burburinho sobre uma possível interferência estatal aumentou. Em um comunicado divulgado esta manhã, contudo, a Petrobras reiterou que a decisão foi totalmente amparada em princípios técnicos.
“Entre tais princípios destaca-se a adoção do preço de paridade internacional (PPI) como referência, sendo que o mesmo é calculado a partir das cotações internacionais, dos fretes marítimos, custos internos de transporte e taxa de câmbio”, informou no documento.
Ainda assim, as ações entraram hoje em seu quinto dia de desvalorização. As preferenciais (PETR4), que eram negociadas a R$ 27,39 no dia 16 de maio, agora são vendidas a R$ 23,46. É uma queda de 14,34%. As ordinárias (PETR3) vieram de R$ 31,63 para R$ 27,36, uma baixa de 13,5%. No mesmo período, o Ibovespa caiu 6,4%, o dólar recuou 2,16% e o petróleo Brent avançou 0,5%¨.
“Enquanto não for confirmado uma alteração no primeiro driver (mudança da política de precificação), vemos uma conjuntura positiva para a empresa e uma oportunidade de compra decorrente da queda observada. Entretanto, recomendamos aguardar por claros sinais de reversão positiva entre R$ 22 e R$ 23 para iniciar novas posições (não vamos lutar contra a fita)”, argumenta Victor Benndorf, da Benndorf Research.
Até agora, a blindagem corporativa montada por Parente tem resistido, mas não se sabe o poder de fogo da classe política alguns meses antes das eleições mais incertas das últimas décadas.

Resultados
Após quatro anos de resultados erráticos, pagamentos de indenizações, prejuízos, influência estatal, este parece ser o primeiro resultado limpo da estatal de petróleo após o início da Lava Jato.
A gigante alcançou um lucro líquido de R$ 6,961 bilhões, o que representa um crescimento de 56% na comparação com o visto um ano antes. O resultado foi impulsionado pelo aumento da cotação do Brent, que resultou em maiores margens nas exportações de petróleo, e maior lucro com vendas de derivados, em consequência da política de preços implementada.
Este é, segundo a estatal, o melhor resultado trimestral desde o início de 2013, quando a empresa havia lucrado R$ 7,69 bilhões. O endividamento, medido pela dívida líquida/EBITDA ajustado ficou em 3,52 vezes (sem o acordo da class action seria de 3,07). A meta é de 2,5 vezes ao final de 2018.
“Nosso objetivo, e ainda há muito o que fazer, é chegar a dezembro com uma empresa que tem indicadores de segurança entre os melhores do nosso setor, financeiramente equilibrada e com sua reputação recuperada”, disse o presidente da Petrobras, Pedro Parente.