Bolsa de Valores

Bolsa está barata, mas não é hora de sair comprando tudo, diz Christian Faricelli, da Absolute Investimentos

12 nov 2024, 11:37 - atualizado em 12 nov 2024, 11:37
Painel sobre ações e bolsa brasileira do Investment Managers Forum
A bolsa brasileira está barata já algum tempo e para gestores da Absolute Investimentos e da SPX Capital a situação não poderia ser diferente (Imagem: Liliane Santos/Money Times)

A bolsa brasileira está barata já algum tempo — e para gestores, a situação não poderia ser diferente. 

“Com o alto custo de oportunidade, o risco Brasil e o sentimento de maior aversão ao risco, não tem como a bolsa não parecer barata”, disse Leonardo Linhares, sócio da SPX Capital e responsável pela estratégia de renda variável. 

Além disso, a economia brasileira nada em um ritmo razoável e com bom desempenho das empresas listadas — mas essa combinação não pode perpetuar, segundo o sócio da SPX. 

Para o gestor, se a curva de juros e a inflação se mantiverem do jeito que está, “o cenário vai piorar”. 

“Se mantiver o que está na curva de juros e inflações esperadas, o cenário vai ser pior para a atividade [econômica] e o resultado das empresas em geral. Não é sustentável o que estamos vendo em tela hoje”, disse Linhares durante o evento Investment Managers Forum, realizado pelo UBS na segunda-feira (11). 

“O investidor tem que exigir taxa elevada [de retorno], a bolsa tem que estar barata”. 

Já Christian Faricelli, sócio e gestor de ações do Absolute Investimentos, afirmou que, mesmo considerando os preços atuais, não é hora de sair comprando ativos sem parcimônia. 

“Diferentemente de alguns que acham que a bolsa inteira está barata, que pode comprar [os ativos] o que você quiser que vai ganhar dinheiro, não é bem assim”, afirma. 

Oportunidades na bolsa

Segundo o gestor e sócio da Absolute, algumas empresas de “extrema” qualidade estão com valuation “muito bom”. “Peneirando, fazendo um trabalho fundamentalista por empresas e setor, encontramos algumas oportunidades”. 

Por exemplo, o setor de bancos, que compõem cerca de 25% do principal índice da bolsa brasileira, o Ibovespa, está, nas contas de Faricelli, próximo ao preço-justo. 

“Os bancos já pagam dividendos altos, então o investidor aceita o risco menor para carregar. A nossa dúvida é se os principais players vão passar ilesos à atuação das fintechs”, disse gestor da Absolute Investimentos. 

Mas com uma percepção de risco negativo para o setor, Faricelli afirmou não ter exposição a bancos. Segundo ele, as oportunidades estão nos setores “NTN-B+” — que conseguem repassar a inflação nos preços como empresas de serviços públicos (utilities), transportes e shopping centers. 

“A gente sempre busca assimetria positiva, olhando o custo de capital daquele momento”, disse Faricelli. 

Bolsa brasileira ‘perde’ para Chile e México

Com os riscos do mercado brasileiro na mesa, Linhares, da SPX, afirmou que prefere a bolsa do Chile. 

Segundo ele, 10% da carteira do seu fundo long bias — com a estratégia focada em valor e ciclos econômicos, permitindo ao fundo operar comprar ou vendido em ações tem exposição ao país andino. 

O México também está no radar. “O México, que está em uma situação difícil, tem muita coisa boa ajustada ao custo de oportunidade.” 

Para o “azar” do Brasil, a discussão de preços esbarra na piora do cenário internacional. O investidor estrangeiro, ainda que marginal, é o que mexe com o preço das ações. Além disso, com a vitória de Donald Trump nos Estados Unidos, a tendência é de que a maior economia do mundo drene todo o dinheiro dos mercados globais. 

“Se Trump fizer algo perto do que prometeu, é difícil não achar que a tendência é de um dólar forte, tarifas [de importações] e corte de juros menores do que está olhando”, afirmou Linhares.

“A classe de emergentes fica difícil. Já não estava especular, mas vai ter saída [de capital estrangeiro] e isso atrapalha o fluxo.”

Ao mesmo tempo, o investidor local “está machucado” com juros futuros em quase 13% e produtos mais competitivos na renda fixa, além do cenário fiscal. “O mercado está furado”, afirmou o sócio da SPX. 

Um luz no fim do túnel 

Linhares, da SPX, disse ainda que há esperança para a bolsa brasileira — mas não é o pacote de corte nos gastos públicos, ainda que a bolsa tende a reagir bem ao anúncio das medidas fiscais. 

Segundo ele, as eleições de 2026 têm potencial para o gatilho nas ações. “A probabilidade não desprezível para uma pancada [na bolsa] seria uma troca de governo.”

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Jornalista formada pela PUC-SP, com especialização em Finanças e Economia pela FGV. É repórter do MoneyTimes e já passou pela redação do Seu Dinheiro e setor de análise politica da XP Investimentos.
liliane.santos@moneytimes.com.br
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