Política

Bolsonaro e Fernández tentam “superar desencontros” em primeira reunião desde a posse do argentino

30 nov 2020, 15:07 - atualizado em 30 nov 2020, 15:07
Alberto Fernandez
A própria divulgação da videoconferência foi feita também pela Argentina (Imagem: REUTERS/Agustin Marcarian)

Um ano depois de Alberto Fernández tomar posse como presidente da Argentina, a primeira reunião entre ele e o presidente Jair Bolsonaro, por videoconferência, nesta segunda-feira, durou quase uma hora e, de acordo com informações da embaixada argentina, teria sido cordial e focada na decisão de “superar os desencontros” entre os dois governos.

Em nota distribuída pelo governo argentino, Fernández, durante a reunião, defendeu que é hora de “deixar as diferenças do passado e encarar o futuro com as ferramentas que funcionam bem entre nós” para “potencializar todos os pontos do acordo” do Mercosul.

Ainda segundo o governo argentino, Bolsonaro teria respondido a Fernández que o Mercosul é o principal pilar de integração na região e pediu que se desenvolvam mecanismos mais ágeis e menos burocrático dentro do bloco, além de ter declarado a intenção de avançar em áreas de interesse comum, como o turismo.

O governo brasileiro não repassou nenhuma informação sobre o encontro. Procurados, a Secretaria Especial de Comunicação Social informou que não havia previsão de nota sobre o encontro. O Itamaraty não respondeu.

A própria divulgação da videoconferência foi feita também pela Argentina e nem mesmo entrou na agenda oficial de Bolsonaro.

A Secom confirmou que a reunião ocorreria apenas depois da informação argentina ter chegado ao Brasil. A explicação para a reunião não estar na agenda é que seria “privada”.

Sem nunca antes terem se encontrado ou conversado, a relação entre Bolsonaro e Fernández era vista como difícil. Durante toda a eleição argentina, em 2019, Bolsonaro deu diversas declarações torcendo pela reeleição de Mauricio Macri, ex-presidente alinhado com a direita.

Bolsonaro chegou a dizer que “bandidos de esquerda” ameaçavam voltar ao poder no país vizinho Fernández tem como vice a ex-presidente Cristina Kirchner e afirmar que a Argentina seria a nova Venezuela.

Ao longo deste ano, criticou o governo de Fernández por diversas vezes, tanto no tratamento da pandemia de Covid-19 como em questões econômicas, citando a Argentina como exemplo do que pode acontecer “se a esquerda voltar ao poder”. O presidente argentino tem evitado responder.

Apesar da relação conflituosa via imprensa, de acordo com uma fonte argentina que acompanhou a videoconferência, o encontro foi cordial e focou na cooperação entre os dos países, nas áreas comercial, de defesa e também na questão de acesso a vacinas que estão sendo desenvolvidas para a Covid-19.

O encontro entre os dois foi intermediado pelo embaixador argentino no país, Daniel Scioli, segundo a representação diplomática da nação vizinha.

O Brasil é primeiro destino das exportações de bens industriais argentinos e essencial para uma recuperação econômica do país (Imagem Agência Brasil/Fábio Rodrigues Pozzebom)

Desde que chegou no Brasil, Scioli tem tido dezenas de encontros com vários ministros do governo, não apenas da área econômica, mas próximos de Bolsonaro, como o ministro do Gabinete de Segurança Institucional, Augusto Heleno, para distensionar a relação.

Em crise econômica severa, a Argentina tem trabalhado para criar uma relação institucional com o governo brasileiro e comemora o aumento de 30% da corrente de comércio entre os dois países desde agosto, apesar da pandemia.

O Brasil é primeiro destino das exportações de bens industriais argentinos e essencial para uma recuperação econômica do país.

De acordo com a fonte ouvida pela Reuters, o encontro, apesar de um certo incômodo no início, fluiu bem. Bolsonaro chegou a propor que se avance em acordos de cooperação nas áreas de combate ao crime organizado, defesa e também na revisão da Tarifa Externa Comum do Mercosul (TEC).

Do seu lado, Fernández levantou a questão ambiental, a preservação da Amazônia e propôs um acordo de preservação ambiental. Bolsonaro não comentou.

Depois do encontro bilateral entre os dois presidentes, foi feita uma cerimônia com a presença do ex-presidente José Sarney para marcar os 35 anos de um encontro entre Sarney e Raúl Alfonsín, primeiros mandatários civis depois do final das ditaduras militares em ambos os países, e que foi instituído como Dia da Amizade entre Brasil e Argentina.

O encontro, em Foz do Iguaçu, marcou também o início das conversas entre Brasil e Argentina para criação do Mercosul.

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Maradona

Morto na semana passada, o jogador argentino Diego Maradona serviu para quebrar o gelo entre argentinos e brasileiros. Sem ter se manifestado publicamente sobre a morte até esta segunda, Bolsonaro deu os pêsames a Fernández e comentou que Maradona foi “um dos maiores jogadores do mundo”.

O craque argentino morreu no último dia 25 após sofrer uma parada cardíaca em casa. Maradona, que estava com 60 anos, se recuperava de uma cirurgia.

reuters@moneytimes.com.br