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Bolsonaro, Lula, Ciro, Tebet na TV: As estratégias dos candidatos para crescerem nas pesquisas

01 set 2022, 12:59 - atualizado em 01 set 2022, 12:59
Eleições 2022
Os candidatos adotaram diferentes estratégias para o espaço inicial que tiveram no horário político (Imagem: TV Band)

O Horário Político começou na última sexta-feira (26) e não surpreendeu. Cada ano menos relevante, por conta da queda da relevância da TV aberta, o espaço destinado aos políticos também não empolgou do ponto de vista de comunicação.

A maioria dos candidatos seguiu a receita de bolo esperada (sobretudo para um programa inaugural). No texto dessa semana, analisei a estreia de cada presidenciável por meio de uma ótica de viés de marketing político.

Soraya Thronicke (União Brasil)

Desconhecida do cenário nacional, ainda que senadora pelo Mato Grosso do Sul desde 2019, Soraya Thronicke tem cerca de 2 minutos e 10 segundos para explanar seus projetos para o Brasil. O tempo é bem expressivo – para efeitos de comparação, Jair Bolsonaro tem 2 minutos e 38 segundos.

Em seu primeiro programa, Soraya optou por uma estratégia de comunicação de terceira via já conhecida e aplicada por diversos marqueteiros. Ao disparar frases como “Não dá mais pra voltar aos erros do passado nem errar de novo”, a candidata alfineta, ainda que nas entrelinhas, Lula e Bolsonaro, respectivamente.

Com um instrumental forte que sustentava frases de efeito, o programa da candidata do União Brasil não inovou, como também preferiu ocultar seu passado. Soraya foi eleita pelo PSL como a ‘senadora do Bolsonaro’, foi vice-líder do governo no Congresso Nacional e depois abandonou o barco do chefe do executivo.

Luiz Felipe D’Ávila (NOVO)

Com apenas 22 segundos, Luiz Felipe D’Ávila adotou uma estratégia diferente das esperadas por candidatos com pouquíssimo tempo.

Em vez de direcionar o eleitor para suas redes sociais (seja pelo recurso de QR-Code ou de anúncio de alguma live durante o momento do horário eleitoral), o candidato preferiu se apresentar e sinalizou o eleitor de que ele não deveria escolher entre o ‘menos pior’ – tática que impacta diretamente Lula, líder nas pesquisas e que está longe de ser unânime entre aqueles que apoiam seu nome.

O ex-presidente tem muitos eleitores que optam por seu nome justamente para evitar um novo mandato a Bolsonaro, seu maior oponente.

Lula (PT)

Líder nas pesquisas e com maior tempo na TV, Lula abriu seu programa apresentando imagens que contrastam entre sua postura e a que atribui a Bolsonaro. O ex-presidente apostou também no resgate do jingle “Sem medo de ser feliz”, usado em 1989 na primeira eleição direta após a promulgação da Constituição Federal (1988).

A escolha da música busca resgatar no eleitor um sentimento de nostalgia – sobretudo durante os oito anos em que governou o país.

Mesmo que o governo Lula tenha sido marcado por diversos escândalos de corrupção, a sua alta popularidade após oito anos de governo é inquestionável – tanto que ele projetou a então desconhecida Dilma Rousseff à presidência e ajudou em sua reeleição. Fernando Henrique Cardoso, em 2002, não só não conseguiu eleger José Serra como ainda viu o tucano se apresentar quase que como opositor.

O programa de Lula surpreendeu do ponto de vista de comunicação. Com um terno azul (cor que por muitos anos foi atrelada ao PSDB, que sequer possui candidato) e a estrela do PT bem mais discreta, a mensagem se torna clara: o marketing de Lula sabe que já conta com o apoio do eleitor convicto do PT e agora busca o voto de quem não é petista, mas que não aprova Bolsonaro.

Geraldo Alckmin apareceu com discurso bem ensaiado e à prova de críticas por ter trocado de lado, algo que ficou claro ao dizer que não concordava com Lula e que a motivação por ‘melhorar a vida das pessoas’ deveria prevalecer neste momento.

Simone Tebet (MDB)

Desconhecida por grande parte dos eleitores, ainda que tenha ganhado visibilidade nacional por conta de sua atuação na CPI da Covid, Simone Tebet recorreu a uma receita comum para um primeiro programa: se apresentar.

Houve um retrospecto da vida da candidata, começando com as clássicas fotos preto e branco até chegar aos dias de hoje. Com uma paleta de cores fortemente associada ao azul (o que tanto com o pacote gráfico de seu programa como em seu figurino), Simone mais parecia uma candidata tucana que do MDB.

A candidata apareceu em uma igreja católica – algo importante para um país com cerca de 115 milhões de católicos -, e atacou Jair Bolsonaro por conta da vacina.

Jair Bolsonaro (PL)

Apostando fortemente nas cores da bandeira brasileira, Jair Bolsonaro persistiu em uma marca que já é atrelada tanto a ele como aos políticos que se identificam com seu projeto.

Desde os tempos do impeachment, em 2016, o verde e amarelo foi usado como cor de oposição ao PT. Gradativamente, a direita foi se apropriando das cores a ponto de elas falarem por si só.

Com o hino brasileiro como instrumental, o programa de Bolsonaro também recorreu a versículos bíblicos e até mesmo se gabou pela compra de vacinas contra o coronavírus, ainda que o chefe do executivo tivesse as menosprezado por diversas vezes.

Como se esperava, o carro-chefe da campanha de Bolsonaro foi utilizado: o Auxílio Brasil de R$ 600 – o qual promete ser mantido, ainda que esteja garantido apenas até o final deste ano.

Ciro Gomes (PDT)

Com apenas 52 segundos, Ciro Gomes recorreu a estratégias que eram esperadas para candidatos com pouco tempo na TV.

Diferente de D’Ávila, do Novo, Ciro direcionou o telespectador para as redes sociais através de um QR-Code. Durante o pouco tempo que teve, o candidato apostou nos efeitos da inflação, facilmente perceptíveis quando o consumidor vai ao supermercado – que foi um dos cenários que utilizou.

Horário Político ainda é relevante?

Em tempos de redes sociais e streaming, o Horário Político na TV e rádio vem se tornando cada vez menos relevante. Como a audiência da TV vem caindo ao longo dos últimos anos, a do Horário Político cai mais ainda.

A ferramenta ainda tem força considerando as particularidades de um país continental: a banda larga, que sustenta serviços de streaming ou as redes sociais, ainda não é uma realidade universal e muitos ainda contam com a TV como entretenimento.

Os candidatos estão cientes e por isso vêm apostando cada vez mais nas redes sociais para fisgar o eleitor. E esse é um movimento irreversível.

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João Gabriel Batista é publicitário, com pós-graduação em Marketing and Sales na Escola de Negócios Saint Paul e MBA em Gestão Empresarial pela FGV. Tem 30 anos e atua com marketing há 11, com passagens por veículos de comunicação, como emissora de TV, rádio e jornal, e multinacionais do segmento de telecom.
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João Gabriel Batista é publicitário, com pós-graduação em Marketing and Sales na Escola de Negócios Saint Paul e MBA em Gestão Empresarial pela FGV. Tem 30 anos e atua com marketing há 11, com passagens por veículos de comunicação, como emissora de TV, rádio e jornal, e multinacionais do segmento de telecom.
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