Eleições 2018

Bolsonaro, Pesquisas e Mentiras

27 jul 2018, 7:15 - atualizado em 26 jul 2018, 23:52

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE
CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

Por João Marco Cunha, doutor em engenharia elétrica pela PUC-RJ e mestre em economia pela FGV, para o Terraço Econômico

Há pouco mais de um ano, o economista Seth Stephens-Davidowitz lançou um livro com um sugestivo título: “Todo Mundo Mente”. Nele, Seth explora massivas bases de dados com as pesquisas que os usuários fazem no Google e mostra como esses dados podem ser muito mais reveladores sobre como as pessoas agem do que as pesquisas baseadas em entrevistas. A razão para as pessoas serem sinceras com o Google é trivial: quem não revela o que procura, não encontra.

Já os motivos que levam as pessoas a mentirem nas pesquisas com entrevistas, são diversos e vêm sendo estudados há tempos. Uma das explicações é o chamado viés de desejabilidade social, que faz as pessoas responderem aquilo que é socialmente mais aceitável, ao invés daquilo que elas realmente pensam ou fazem.

Dessa forma, comportamentos socialmente tidos como “bem vistos” são superestimados na pesquisa. O livro é profícuo em exemplos desse fenômeno mundo afora. Mais notável, talvez possa ser a completa falha dos institutos de pesquisa em preverem a vitória de Donald Trump nas eleições presidenciais americanas de 2016.

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE
CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

É interessante pensar em que medida esse mesmo fenômeno pode estar se manifestando por aqui. Entre os pré-candidatos em liberdade, aquele que vem liderando as pesquisas não é (e não faz questão de ser) socialmente bem visto. Portanto, é possível que a vantagem de Bolsonaro sobre os demais seja maior do que a que os institutos de pesquisa indicam, como veremos.


Já conhece o Curso de Microeconomia do Terraço? Clique aqui!


Segundo a última pesquisa CNI/IBOPE, Bolsonaro tem 17% das intenções de voto. Quando examinamos os dados desagregados por gênero, vemos que 24% dos homens declaram intento de votar nele, contra apenas 10% das mulheres. Dado que o candidato é muitas vezes retratado como machista, essa diferença não chega a ser surpresa, mas talvez esses números mostrem apenas parte da realidade. É possível que as mulheres estejam escondendo o jogo.

Jair Bolsonaro nunca disputou uma eleição para cargo executivo, mas seu filho, Flávio, concorreu nas últimas eleições para a prefeitura do Rio de Janeiro, em 2016. A similaridade das plataformas e a consanguinidade permitem ver o filho como uma boa aproximação do pai em termos de, digamos, desejabilidade social.

Com base nos dados da votação de Flávio nas diferentes seções eleitorais, e o perfil dos respectivos eleitorados em termos de idade, escolaridade, estado civil e, é claro, gênero, é possível inferir-se que, tudo mais constante, a propensão de uma mulher a votar em (um) Bolsonaro é dois terços da propensão de um homem, ou 67%. Considerando-se que 24% dos homens votarão em Jair, seria de se esperar que 16% das mulheres também o fizessem, e não apenas 10%. Esses seis pontos percentuais a mais entre a metade feminina do eleitorado o levariam a 20% do total de votos.

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE
CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

Mas e se não forem apenas as mulheres a ludibriarem os institutos de pesquisa? Novamente usando o caso de Flávio como referência, a subestimação de sua votação nas pesquisas teve uma magnitude muito maior do que o exercício anterior indica. Na véspera do primeiro turno, três institutos divulgaram pesquisas. Em dois deles, Flávio aparecia com 8% das intenções de voto, enquanto o terceiro registrava 7%. Na apuração final, ele teve 14%. Partindo-se do pressuposto de que as pesquisas foram conduzidas corretamente, pelo menos três em cada sete estavam guardando segredo quando responderam aos pesquisadores, dentre os quais, muitos homens certamente.


Agora o Terraço tem Whatsapp! Adicione o número +5511976890552 na agenda do seu celular e mande uma mensagem pra gente te achar.


Voltando à pesquisa CNI/IBOPE, outro dado que chama a atenção são 33% de votos nulos e brancos. Se esse número se confirmar nas urnas, bastará um pouco mais que um terço dos votos para que um candidato saia vencedor no primeiro turno. Diante a impossibilidade de se saber ao certo qual é o tamanho do eleitorado bolsonarista, é leviano presumir que ele esteja longe desse patamar.

Alguns pré-candidatos de outras correntes políticas têm declarado que só pensarão em composições e alianças no segundo turno. Esses podem ter uma surpresa desagradável, mas que talvez lhes seja uma lição valiosa sobre pesquisas de intenção de voto. Mutatis mutandis, é como o Dr. House, protagonista da série homônima, disse certa vez: “eu não pergunto por que os pacientes mentem, eu só assumo que todos eles mentem”.

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE
CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

Compartilhar

WhatsAppTwitterLinkedinFacebookTelegram

Usamos cookies para guardar estatísticas de visitas, personalizar anúncios e melhorar sua experiência de navegação. Ao continuar, você concorda com nossas políticas de cookies.

Fechar