Boom do etanol de milho no Brasil cobre demanda de maior mistura na gasolina

O crescimento do setor de etanol de milho no Brasil tornou-se fundamental para atender à crescente demanda do país por esse combustível renovável, diante de uma nova determinação do governo de misturar mais etanol anidro na gasolina, em meio a uma estagnação da produção do biocombustível de cana-de-açúcar.
O Brasil é o maior produtor mundial de etanol de cana-de-açúcar, mas a produção se estabilizou desde a virada da década, enquanto a produção de etanol de milho mais do que triplicou, de acordo com dados da associação do setor, a Unica.
No ciclo 2024/25, a produção de etanol de milho na região centro-sul do Brasil aumentou quase 31% em relação ao ano anterior, para 8,19 bilhões de litros, de acordo com a Unica.
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Na quarta-feira, o governo brasileiro aprovou uma medida que aumenta a mistura obrigatória de etanol anidro na gasolina para 30%, ante 27% anteriormente, o que exigirá mais de 1 bilhão de litros de etanol por ano.
“Graças ao etanol de milho, estamos aumentando a mistura para 30%, certo? Se não fosse por esse aumento na produção, não poderíamos implementar essa política”, disse Guilherme Nolasco, presidente da União Nacional do Etanol de Milho (Unem).
Inicialmente, o governo brasileiro adiou o aumento da mistura de etanol na gasolina este ano, o que alguns atribuíram a preocupações de que isso poderia aumentar os preços. Quando as autoridades confirmaram a medida nesta semana, estavam divulgando-a como uma forma de reduzir os preços na bomba.
Amance Boutin, gerente de desenvolvimento de negócios da consultoria Argus, disse que a decisão de implementar o novo mandato de biocombustível a partir de agosto é um voto de confiança na capacidade do setor de etanol de milho de continuar aumentando a produção.
Ao mesmo tempo, espera-se que os produtores de cana do Brasil, que também é o maior exportador mundial de açúcar, mantenham sua preferência pela produção do alimento em vez de combustível, disse Gabriel Barra, diretor e chefe de pesquisa da América Latina para petróleo e gás, petroquímica e agronegócio do Citibank.
“O açúcar continuará a ocupar uma grande parte desse mix de processamento de cana-de-açúcar”, disse Barra. “O etanol muito provavelmente continuará a perder essa disputa.”
Em março, o Citi previu que a produção de etanol de milho no Brasil atingiria 16 bilhões de litros até 2032, um sentimento ecoado por Nolasco, da Unem.
“Temos a capacidade de dobrar a produção atual até 2032”, disse Nolasco.
De acordo com a Unem, o etanol de milho representa 23% da produção atual de etanol no Brasil e espera-se que ele cresça para representar 40% da produção do combustível na próxima década.
Em um evento do setor em São Paulo este mês, o presidente-executivo da Unica, Evandro Gussi, disse que o Brasil não está preocupado com o fato de o etanol vir do açúcar, do milho ou de outra fonte, desde que tenha baixas emissões de carbono e não prive o país de alimentos necessários.
“Em termos de biocombustível e etanol… o Brasil… não é o país do ‘ou um ou outro’ — ou isso ou aquilo”, disse Gussi, acrescentando que espera o crescimento da produção de etanol à base de milho e de cana.
Alguns integrantes do setor de milho do Brasil já estão pressionando para expandir outras culturas para uso na produção de etanol, sendo o sorgo uma opção viável para os agricultores que perderem a janela de plantio da segunda safra de milho do país.
O aumento da produção das plantações de cana-de-açúcar será crucial para atrair novos investimentos e impulsionar o setor sucroenergético, disse Cesar Barros, CEO da empresa de pesquisa de cana-de-açúcar CTC, atribuindo a recente estagnação à falta de inovação.
Por outro lado, o milho se beneficiou de anos de pesquisa e desenvolvimento por grandes multinacionais, disse Barros. O milho é a cultura preferida do maior produtor de etanol do mundo, os EUA.
“No mesmo horizonte de 20 anos em que o milho dobrou sua produtividade no Brasil, a cana-de-açúcar praticamente estagnou, com um aumento muito pequeno da produtividade média”, disse Barros.
Em abril, após anos de pesquisa, o CTC anunciou o lançamento de uma série de novos produtos que, segundo ele, ajudarão a dobrar a produção de cana-de-açúcar nos campos brasileiros até 2040.
“Dobrar a produtividade da cana-de-açúcar nos próximos 20 anos (…) possibilitará novos investimentos, seja em novas usinas ou no aumento da capacidade”, disse Barros.