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Brasil na Opep+: País ganha ou perde fazendo parte do grupo?

02 dez 2023, 12:19 - atualizado em 02 dez 2023, 15:09
petroleo, opep
Adesão à Opep+ divide especialistas; governo estuda fazer parte do grupo (Imagem: Reuters/Nick Oxford)

O Brasil se tornou um candidato ao grupo Opep+, grupo que reúne grandes exportadores de petróleo. A medida está sendo analisada pelo governo e pode ser efetivada nos próximos meses.

A Opep tem os 13 países membros originais, e também a Opep+, que tem os países aliados. É nesse grupo que o Brasil pode ser incluído, caso aceite o convite. Nele, os países participam dos debates sobre a produção de petróleo e as políticas sobre a commodity. A adesão, no entanto, divide especialistas.

Segundo Bruno Pascon, diretor do CBIE (Centro Brasileiro de Infraestrutura), um eventual adesão ao grupo faria o país tomar ações em conjunto com a Opep. “O Brasil seria obrigado a participar da programação de cortes de produção, o que traria como consequência um preço de petróleo mais alto, com reflexo nos preços de combustíveis no Brasil e no mundo”, diz.

Ele afirma que uma participação do Brasil no esforço da Opep em regular o preço da commodity seria um tiro no pé, visto que o país ainda permanece como um importador de combustíveis. “Se o país fosse autossuficiente de petróleo, o impacto na balança comercial seria menor”, diz.

“Mas como o Brasil segue importando de 5% a 10% da gasolina para o mercado doméstico, e de 25% a 30% do diesel, participar da Opep+ traria uma consequência de maior impacto nos preços na bomba, o que acredito que esse governo ou qualquer outro quer evitar”, afirma.

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Ex-diretor da Petrobras, especialista defende participação na Opep+

O ex-diretor executivo da Petrobras (PETR4) e professor do Instituto de Eletrotécnica e Energia da USP (Universidade de São Paulo), Ildo Sauer, defende há mais de 10 anos que o Brasil participe da Opep+.

Ele afirma que, independente da participação ou não na Opep+, “o Brasil vai sofrer o impacto de eventuais cortes de produção e alta do preço da commodity”, e, sendo um grande exportador de petróleo, deve estar ao lado de outros players relevantes do mercado.

“O Brasil deve formar parte daqueles que contribuem para formar preço”, diz Sauer. Segundo ele, o país hoje é apenas um “caroneiro” dos esforços feitos pelos outros países. “Na Opep, os grandes produtores podem abrir mão da sua produção para dar espaço a produtores menos eficientes”, diz.

No entanto, condiciona a participação na Opep a mudanças domésticas no mercado de petróleo. “Para o governo brasileiro participar de cotas de participação, ele tem que ter uma capacidade de controlar o ritmo de produção. Pela Constituição, petróleo é bem da União. Também é importante a ampliação da capacidade interna de refino no país para evitar a importação de derivados ”, diz.

Sauer afirma que “um país que exporta petróleo deve ir buscar um preço mais alto”, para ganhar com o excedente dessas vendas externas.

No entanto, diz que seria preciso reformular algumas políticas para que isso beneficie o consumidor interno. “Se o preço aumentar, a riqueza vai aumentar. E com isso há como usar outros mecanismos internos, para reequilibrar para quem vai o lucro do petróleo, entre a população, consumidores, e não apenas para os acionistas” afirma.

“Há mecanismos de mercado e mecanismos de regulação para viabilizar essa redistribuição de ganhos . Eu sempre favoreci os mecanismos de mercado, pois os regulados dão margem a arbítrios”, diz.

Já o professor licenciado do Instituto de Economia da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) e pesquisador do Instituto de Energia – PUC-Rio, Edmar Luiz Fagundes de Almeida, acredita que o Brasil não tem mecanismos para cooperar com a Opep. “Para poder cooperar, o governo Brasileiro deveria ter mecanismos de intervenção no mercado que obrigasse as empresas a diminuir a produção em momentos de crise de preços”, afirma.

Entretanto, o professor diz que isso está distante da realidade brasileira. “Estes mecanismos não existem atualmente e creio que são complicados de serem criados no contexto brasileiro”, diz.

 

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Repórter formado pela PUC-SP, com passagem pelo Poder360, Estadão e Investidor Institucional. Tem pós-graduação em jornalismo econômico pela FGV-SP, através do programa Foca Econômico 2022, do grupo Estado. No Money Times, cobre política, mercados e também a indústria de armas leves no Brasil.
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Repórter formado pela PUC-SP, com passagem pelo Poder360, Estadão e Investidor Institucional. Tem pós-graduação em jornalismo econômico pela FGV-SP, através do programa Foca Econômico 2022, do grupo Estado. No Money Times, cobre política, mercados e também a indústria de armas leves no Brasil.
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