Brasil tem primeira entrega física de grãos via derivativo em mais de 15 anos, diz BAB
O Balcão Agrícola do Brasil (BAB) registrou a primeira liquidação física de um contrato de derivativo de grãos no país em mais de 15 anos, com a entrega de milho no transbordo do terminal ferroviário da Rumo em Rondonópolis (MT), informou o BAB nesta quinta-feira (13).
A plataforma de negociação agrícola, anunciada no ano passado após aprovação da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), iniciou os primeiros negócios em setembro de 2025 e foi bem recebida pelo mercado, com novas entregas físicas sendo realizadas em novembro, disse o diretor-presidente do BAB, Eric Cardoni, em entrevista à Reuters.
A primeira entrega envolveu 1.800 toneladas, o equivalente a três contratos. Para novembro, são esperadas entregas de mais 9.000 toneladas (15 contratos), de acordo com o executivo.
“O mercado gostou da entrega física, tem muito interesse de utilizar essa liquidação por entrega física nesses primeiros contratos que foram negociados”, afirmou Cardoni, ex-diretor de trading de grãos e oleaginosas da multinacional Louis Dreyfus Company.
A BAB, que tem a empresa de logística Rumo como principal investidora, foi idealizada para conectar diretamente o mercado de derivativos ao mercado físico regional de grãos, entrando em funcionamento em ano de colheita recorde de grãos em Mato Grosso e no Brasil como um todo.
O interesse na entrega física de grãos, que já não acontece mais nos derivativos negociados pela bolsa B3, é grande na BAB porque os participantes do mercado conseguem fazer a gestão de risco e a comercialização do físico com o mesmo instrumento, segundo Cardoni.
“Acaba sendo mais eficiente para eles”, ressaltou, lembrando que os derivativos de grãos oferecidos atualmente no Brasil são liquidados financeiramente.
O ambiente do BAB permite negociações bilaterais entre comprador e vendedor, deixando os participantes desse mercado livres do chamado “risco de basis”, que é o diferencial (prêmio ou desconto) de preços do mercado local em relação ao contrato futuro da bolsa de Chicago, acrescentou o executivo.
Em um momento de volatilidade nos mercados globais de commodities, em meio às tarifas da China contra a soja dos EUA que influenciam os prêmios no Brasil, o BAB destacou a importância do instrumento de hedge local.
A plataforma possui contratos padronizados e negociados em reais, para simplificar as operações de hedge no Brasil.
A liquidação marcou a entrega física do contrato de derivativo a termo de milho com período de entrega em outubro. Conforme as normativas do BAB, o pagamento foi realizado no início de novembro, terminando o ciclo completo de negociação, registro e liquidação do instrumento.
A companhia não divulga quem são os participantes da entrega.
Segundo Cardoni, há outros contratos em aberto para entrega em dezembro.
Após os primeiros negócios em setembro, os volumes subiram 14 vezes em outubro ante o mês anterior, revelou o executivo. “São bons sinais”, frisou.