Economia

Brasília em Off: o desabafo de Guedes

27 nov 2020, 12:01 - atualizado em 27 nov 2020, 12:01
Guedes também acredita estar pagando o pato por disputas entre o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, e o líder do centrão, Arthur Lira (Imagem: Flickr/Ministério da Economia/ Washington Costa)

O ministro da Economia, Paulo Guedes, deixou de esconder o incômodo com as reclamações de que sua pasta não tem um plano consistente. Em todas as declarações públicas que fez ao longo da semana, Guedes rebateu as críticas à demora no andamento da agenda econômica, especialmente na área fiscal.

Sobrou até para o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, a quem o ministro sugeriu apresentar um plano melhor se o tivesse. Por trás dessa postura está um cansaço de Guedes em ser responsabilizado pela incapacidade do governo na articulação política, afirmam integrantes da equipe econômica.

Guedes também acredita estar pagando o pato por disputas entre o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, e o líder do centrão, Arthur Lira, no Congresso. O ministro já foi aconselhado a sair um pouco de Brasília e recarregar as baterias no Rio de Janeiro.

O que vier é lucro

Integrantes da equipe econômica avaliam como baixíssima a possibilidade de o governo conseguir realizar as três reformas estruturantes propostas para o pós-pandemia.

A mais importante e urgente delas é a do pacto federativo, que cria mecanismos para a sustentação do teto de gastos. Se essa sair, já será lucro, afirmou uma fonte a par das discussões.

A reforma tributária, por sua vez, continua empacada pela falta de acordo entre o Ministério da Economia e o Congresso sobre a criação de um imposto sobre operações digitais para financiar a desoneração da folha de pagamento das empresas.

Assim como fez na época da Previdência com a criação de um regime de capitalização, Guedes está disposto a insistir na desoneração da folha até o fim. Já a reforma administrativa deixou de ser prioridade depois que o governo conseguiu suspender os reajustes de salários do funcionalismo público até o final de 2021.

Só no ano que vem

Mesmo que o Senado consiga aprovar a PEC emergencial, onde estão mecanismos do pacto federativo para cumprir o teto de gastos e as bases para a criação de um novo programa social, ainda em 2020, a expectativa da equipe econômica é que nada andará na Câmara até a eleição para o comando da casa.

Embora Maia seja defensor de uma agenda pró-mercado, a visão de um integrante da equipe é que ele não tem muita disposição em resolver nada que beneficie politicamente o presidente Jair Bolsonaro antes de resolver o próprio futuro.

Privatizações

Se as dificuldades do plano de privatizações do governo fossem apenas uma aliança de centro-esquerda feita no Congresso para barrar essas operações, o cenário não seria tão ruim, afirma uma fonte da área econômica.

O problema é que dentro do próprio governo a Economia se tornou uma voz isolada em defesa do tema. Guedes diz que quer avançar em quatro grandes privatizações: Eletrobras, Correios, contratos da Pré-Sal Petróleo (PPSA) e Porto de Santos. Como isso vai se dar, ninguém sabe. A mais importante, Eletrobras, ficou mais comprometida pelo apagão de semanas no Amapá que foi resultado de falhas de uma concessão privada. Quem entrou para resolver o assunto foi a estatal.

Reservas Internacionais

A venda de reservas internacionais para reduzir a dívida pública, possibilidade citada constantemente por Guedes, não é algo que valeria para o momento atual, afirma uma fonte a par do assunto. Na visão do ministro esse tipo de medida poderia ser adotada num cenário de consolidação fiscal. Com as contas públicas em ordem e moeda mais fraca, o governo poderia ser dar ao luxo de usar parte das reservas para abater dívida — mas a realidade atual é outra.

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