BRF (BRFS3): Ação ficou arriscada demais para Previ, que zera posição; papel despenca e analista vê mau sinal

A novela da fusão entre BRF (BRFS3) e Marfrig (MRFG3), que caminha para um desfecho acelerado, ganhou novos capítulos nesta segunda-feira (8).
A Previ, fundo de previdência dos funcionários do Banco do Brasil, decidiu zerar sua posição na BRF, encerrando uma parceria que já durava mais de três décadas.
Investidora na companhia desde a década de 1990, a Previ detinha 4,93% do capital da produtora de alimentos. A saída ocorre em meio às discussões sobre a fusão com a Marfrig.
Na bolsa, as ações da BRF reagiram negativamente e fecharam em queda de 4,55%, a R$ 21.
A troca que divide opiniões
O fundo sempre se posicionou de forma crítica em relação à fusão, principalmente da maneira como ela foi desenhada.
A proposta atual prevê a troca de 0,8521 ação da Marfrig para cada ação da BRF.
Porém, um laudo técnico de Flávio Málaga, incorporado ao processo, aponta que a proporção justa, com base em preços históricos e projeções de mercado, deveria variar entre 1,29 e 1,78 ação da Marfrig para cada uma da BRF.
Na visão da Previ e também de Fontana Capital — outro acionista crítico —, essa estrutura favorece indevidamente a controladora.
Em nota, o fundo afirmou ter concluído o processo de desinvestimento do Plano 1 na BRF, “encerrando um ciclo de mais de três décadas de participação no ativo”.
“A anunciada fusão entre a BRF e a Marfrig introduz um cenário de grande incerteza quanto à retomada de uma política de proventos consistente, uma prática que já não era realidade para os acionistas da BRF nos últimos anos”, disse o fundo.
Arriscada demais
A BRF ficou quase uma década sem pagar dividendos, enquanto lidava com endividamento elevado e resultados fracos.
Só no fim de 2024 retomou a prática, ao distribuir R$ 1,1 bilhão em juros sobre capital próprio (JCP) aos acionistas, após registrar lucro líquido recorde de R$ 3,7 bilhões.
Agora, analistas e investidores questionam se a nova companhia terá fôlego financeiro e uma política definida para manter a remuneração regular aos acionistas, ou se a prioridade será a captura de sinergias e a gestão da dívida — adiando novamente a expectativa por um fluxo previsível de dividendos.
Para a Previ, enquanto a Marfrig se mostrou uma pagadora mais consistente de dividendos nos últimos anos, as dúvidas sobre governança, endividamento elevado e a estrutura final da empresa combinada aumentam o risco — incompatível com o perfil conservador do Plano 1.
Má notícia para o investidor minoritário
Em relatório, a Ativa Investimentos classificou a saída do fundo como notícia negativa para o acionista minoritário.
Isso porque, sem a pressão de um sócio relevante, a fusão tende a ser aprovada com uma relação de troca menos favorável.
Segundo informações do InvestNews, o comprador da fatia da Previ seria Marcos Molina, controlador da Marfrig.
Com isso, os controladores ampliaram novamente sua participação e agora detêm 58,9% das ações da BRF.
“Esse movimento, se confirmado, deve facilitar a aprovação da fusão, principalmente com os controladores da Marfrig aumentando cada vez mais sua participação na BRF”, escreveram os analistas da Ativa.
Fim de uma parceria histórica
O investimento da Previ remonta a 1994, ainda antes da formação da BRF, por meio das participações nas antigas Sadia e Perdigão.
Segundo o fundo, a rentabilidade acumulada da BRF nos últimos dois anos foi de 120,3%, bem acima dos 14,6% do Ibovespa no mesmo período.
“A venda integral da posição em BRF ocorre em um momento oportuno, diante do atual cenário macroeconômico internacional e das incertezas quanto ao futuro da empresa após a incorporação pela Marfrig”, afirmou a Previ.
O fundo também lembrou que, ao longo das décadas, a BRF enfrentou inúmeros desafios operacionais, mas também períodos de recuperação expressiva.
Em 2024 registrou o melhor desempenho da sua história, com lucro líquido de R$ 3,7 bilhões e pagamento de R$ 1,1 bilhão em juros sobre capital próprio.
No primeiro trimestre de 2025, o lucro líquido foi de R$ 1,2 bilhão, o dobro do mesmo período do ano anterior.